A temporada de 2022 acabou na última terça-feira (15) para a Seleção Feminina de Futebol e o ano foi bem produtivo para a equipe brasileira, que conquistou o título da Copa América e realizou 19 jogos, sendo 12 vitórias, 3 empates e 4 derrotas. A seleção chegou a ficar 10 jogos sem perder uma partida, mas sofreu o revés quando estava jogando em casa.
Os últimos jogos que fecharam o ano aconteceram em São Paulo contra o Canadá. No primeiro confronto, as adversárias se deram melhor e venceram por 2×1, na Vila Belmiro, em Santos. No segundo jogo, as brasileiras devolveram o placar diante de um ótimo público na Neo Química Arena, em São Paulo.
BOM PÚBLICO AQUI NA ARENA: 19.480 pessoas para prestigiar o futebol das mulheres! Amistoso entre x , na Neo Química Arena. pic.twitter.com/0EZVvpHfD1
— Dibradoras (@dibradoras) November 15, 2022
Após a partida, a técnica Pia Sundhage valorizou a presença dos mais de 19 mil torcedores presentes no estádio. “Você viu no mundo todo que os públicos estão crescendo, e isso é um tipo de confirmação de que o futebol feminino é importante. Então quando a gente vem para este estádio e vê a cor amarela, claro que isso motiva, e isso é muito importante, independente de se você ganhar ou perder. Se você escutar, no começo do jogo e quando nos marcamos o segundo gol, é um sentimento maravilhoso. Como uma sueca cercada por brasileiros e comemorar junto é fenomenal.”
Para 2023, o grande desafio será a disputa da Copa do Mundo, na Austrália e na Nova Zelândia (entre os dias 20 de julho e 20 de agosto), mas antes disso, a a Seleção Brasileira volta a campo em fevereiro, no período de Data FIFA, entre os dias 13 a 22, para duelar contra a Inglaterra. “Podemos ser mais rápidas, mais caprichosas, mais precisas. Mas nós temos mais alguns jogos à nossa frente, então espero que consigamos ajustar isso quando formos para a Copa do Mundo”, declarou Pia após os últimos amistosos do ano.
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Conquista da Copa América e novos testes em 2022
Os primeiros desafios da Seleção Feminina no ano aconteceram em fevereiro, no Torneio Internacional da França e o Brasil acabou a competição sem nenhuma vitória (empatou em 1×1 contra a Holanda e em 0x0 contra a Finlândia). Diante da França, donas da casa, as brasileiras saíram na frente com um gol de Marta, mas sofreram a virada.
Na ocasião, Pia falou sobre a necessidade das jogadoras terem mais coragem, a importância da parte física nos confrontos e também declarou que espera fazer mais jogos diante de fortes equipes do cenário mundial.
Em abril, a equipe voltou a campo, empatando com a Espanha em 1×1 e derrotando a Hungria por 3×1 (essa foi a 1ª vitória da equipe em 2022). Naquele momento, Pia percebeu que as jogadas mais agressivas, no 1×1, com velocidade poderiam ser ótimas características para esse “novo momento” do time. Após jogo contra a Espanha, a treinadora pediu paciência com Geyse e Kerolin, que, apesar de erros cometidos durante a partida, eram atletas que tinham evoluído nos últimos anos. “Eu espero que todos vocês, brasileiros, tenham paciência. Eu tenho. E eu acho que, no futuro, elas serão muito boas jogadoras”.
No último compromisso antes da Copa América, o Brasil perdeu os confrontos contra a Dinamarca (2×1) e contra a Suécia (3×1) e, nos dois jogos, chegou a ter poder de reação, mas não conseguiu segurar o resultado. Nas duas partidas, a seleção perdeu muitos gols.
Para a Copa América – o grande desafio do ano, já que a competição garantia vaga para o Mundial de 2023 e Jogos Olímpicos de 2024 – Pia optou por uma seleção renovada – metade do elenco nunca havia disputado uma competição oficial pela seleção principal. Na ocasião, a técnica Pia e a auxiliar Lillie Person falaram sobre o desafio de disputar o torneio sem os principais pilares da seleção (Marta, Formiga e Cristiane) e com a renovação em curso. “Como comissão técnica, temos que ser corajosas, é isso que pedimos pras jogadoras. Temos que ser corajosas pra trazer essas jogadoras e ter paciência com elas. Sabemos que elas serão bem-sucedidas cedo ou tarde, vamos dar tempo a elas.”
“Você nunca sabe se elas estão prontas, mas você precisa acreditar. Lembro quando vi os treinos da Kerolin a primeira vez. Hoje, as pessoas nos Estados Unidos falam sobre as qualidades dela. Queremos encorajá-la a fazer mais, o drible. Às vezes não funciona e dizemos a ela: tente de novo. Mas tudo é sobre o time. Depende como a Kerolin vai se sair jogando com Angelina, Duda…precisamos ter paciência e acreditar”, concluiu a treinadora.
E justamente durante a Copa América foi possível perceber uma seleção mais propositiva, com Adriana e Ary se destacando e com Duda Sampaio tendo as primeiras oportunidades na equipe. Antonia se firmou na lateral direita e exerceu uma liderança importante nessa seleção renovada. A treinadora do Brasil também testou outros sistemas de jogo – além do 4-4-2 -, como o 4-2-3-1 e obteve bons resultados.
A campanha terminou com a conquista do 8º título com uma marca importante: 21 gols marcados e nenhum sofrido. Não foi fácil vencer a Colômbia, que jogava em casa e contava com o apoio massivo da torcida, além de ter um time muito competitivo. Mas a conquista do título serviu para dar experiência e confiança a muitas atletas que disputavam uma final com a camisa do Brasil pela 1ª vez.
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“A Copa América foi muito importante para qualificar para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. E tantas coisas acontecem entre um e outro jogo, quando realmente importa. Isso se reflete um pouco na Copa. Acho que fomos bem em quase tudo. Não levamos gols, e marcamos aquele gol muito importante contra a Colômbia, 1 a 0 de pênalti, e esse jogo nos levou para a próxima etapa. Nós mudamos o ataque um pouco e tentamos coisas diferentes. Mas como eu já falei, acho que a melhor lição nesse ano é o equilíbrio entre ficar com a bola e desafiar a linha. Existe um equilíbrio”, analisou Pia após os últimos amistosos do ano.
No restante do ano, a seleção fez dois amistosos contra a África do Sul em setembro (e venceu os dois por 3×0 e 6×0) e em outubro, na Europa, venceu a Noruega por 4×1 e a Itália por 1×0). Para estes confrontos, as novidades no time brasileiro foram as recém promovidas da Seleção Sub-20: Lauren, Tarciane e Yaya. Além disso, Jaqueline e Micaelly, que estrearam diante da África do Sul, voltaram a ganhar oportunidade com a treinadora brasileira.
Os amistosos contra o Canadá fecharam o ano e para a treinadora os testes foram satisfatórios. “Se você quer respostas boas, realistas ou honestas, você tem que jogar contra as melhores. O Canadá está ranqueado como um dos 10 melhores times, e uma coisa que nós realmente queremos lidar na defesa é que elas são muito fortes. Não é só lidar com o 1 contra 1, é o que vem depois”, declarou em coletiva.
Vale destacar que o Brasil ocupa a 9ª colocação no Ranking da Fifa e dos 19 jogos disputados 8 deles foram jogados contra times que figuram o Top 15 do mesmo Ranking: Holanda (8ª colocada), França (5ª), Espanha (6ª), Suécia (2ª), Noruega (12ª), Itália (14ª) e Canadá (7ª).
Os pontos positivos
Já citamos inúmeras vezes que a defesa do Brasil é o melhor setor do time. Desde a sua chegada, Pia se dedicou em melhorar o sistema defensivo e podemos afirmar que essa é a parte mais sólida do time. “Outra coisa é que nesse ano eu estou orgulhosa da defesa. Não é fácil mudar a organização. Nós jogamos em um 4-4-2 e jogadoras se dedicaram e tentaram se conectar, acho que isso é muito importante. Acho que a defesa hoje, comparando com como elas jogavam três anos atrás, ou até mesmo como elas jogam na Europa ou no Brasileiro, é um pouco diferente. É um desafio para várias jogadoras abraçar o 4-4-2 defensivamente porque nós não temos a bola, e uma jogadora brasileira vai querer a bola. Mas temos que ser espertas e inteligentes, e é o que está acontecendo agora”, avaliou após os duelos contra o Canadá.
O meio-campo sofreu com uma baixa importante na Copa América quando Angelina se lesionou na final da competição, mas Pia acabou encontrando uma boa fórmula de jogar com Ary ocupando o setor e também com Duda Sampaio, que aproveitou bem as chances que ganhou.
“Quando eu falo de ritmo no ataque, as duas mais importantes são as duas meio-campistas. Elas ditam o tempo. Às vezes elas vão bem, como hoje e no último jogo contra o Canadá. E se você olhar para quem elas enfrentaram, eram grandes jogadoras”, avaliou Pia que, nos últimos amistosos testou a dupla Kerolin e Ary, e as duas demonstraram um entrosamento interessante.
Outro ponto positivo são as chances que a Seleção Principal tem dado para as jogadoras mais jovens, sempre reforçando a questão da confiança e a possibilidade de novas oportunidades. “Uma jogadora como Ary, quando vi pela primeira vez e ela foi convocada para a seleção, ainda levou algumas convocações, mas no último jogo contra o Canadá, eu achei que ela foi a melhor em campo. Ela não estava 100%, então não achei ela tão boa hoje, mas o jeito que ela joga no meio campo faz a diferença para esse time”, analisou Pia.
O que precisa melhorar
O ataque ainda precisa de ajustes. Não foram poucas as vezes em que o Brasil pecou no último passe e nas finalizações e isso é um ponto que incomoda Pia desde a eliminação dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
“Tem uma coisa que podemos fazer um pouco melhor, que é trocar o ponto de ataque. Falei várias vezes sobre desafiar a linha, o que é importante porque vai pressionar as adversárias. Mas quando você move o time para um lado, nós precisamos mudar o ponto de ataque, e é algo que eu acho que precisamos melhorar”, analisou Pia
“Ainda sobre o ataque, temos falado muito sobre cruzamentos, cruzar a bola mais cedo, ou se vai ser no primeiro ou no segundo poste. A qualidade das corridas e infiltração na área está melhorando, e agora precisamos de qualidade em como jogamos essa bola. Não é a tomada de decisão, é a qualidade dessa jogada, e eu acho que tem que melhorar”, concluiu.
Com Marta ausente do time em grande parte do ano por conta de uma lesão, Debinha foi a atacante mais precisa do Brasil na temporada. A camisa 9 tem 57 gols pelo Brasil e 10 deles foram marcados em 2022. “Nós mudamos o ataque um pouco e tentamos coisas diferentes. Mas como eu já falei, acho que a melhor lição nesse ano é o equilíbrio entre ficar com a bola e desafiar a linha. Existe um equilíbrio. Se você tem uma jogadora como Debinha, ela sempre está correndo, então sempre temos uma chance de jogar a bola pra frente. Mas aí perdemos a bola muitas vezes, o que significa que temos que achar um ritmo”, opinou Pia.
2023 e Finalíssima à vista
Quando Pia Sundhage assumiu a seleção brasileira, em agosto de 2019, havia um objetivo a curto prazo – os Jogos Olímpicos de 2020 – e outro mais distante, que seria o início de um novo ciclo pós-Olimpíada preparando para a Copa do Mundo de 2023 e Paris-2024.
No meio de 2023, a treinadora completará 4 anos como treinadora do Brasil, mas foi após a eliminação nas quartas-de-final em Tóquio em 2021, que começou um novo trabalho da comissão técnica. O de garimpar novas jogadoras e formar uma seleção renovada para o próximo ciclo.
Das 23 convocadas para a Copa América, por exemplo, só nove estiveram nos Jogos Olímpicos do ano passado. Ou seja, Pia conta hoje com um time renovado, com atletas que ainda estão sendo testadas para os novos desafios. O objetivo da treinadora sueca agora é formar um time mais competitivo possível para encarar a Copa do Mundo em 2023 e os Jogos de Paris em 2024.
E no início do ano que vem, o Brasil tem a Inglaterra pela frente. A Uefa e a Conmebol anunciaram que a primeira edição da Finalíssima feminina (partida entre o campeão da Copa América e da Eurocopa) será disputada em Wembley, no dia 6 de abril de 2023.
As seleções femininas de Brasil e Inglaterra já se enfrentaram três vezes, com duas vitórias inglesas (1 a 0 em 2018, em um amistoso, e 2 a 1 em 2019, na SheBelieves Cup) e um triunfo do Brasil (2 a 1 em 2019, em um amistoso).
A Finalíssima vai marcar o retorno da seleção brasileira feminina a Wembley, onde atuou na fase de grupos dos Jogos Olímpicos de Londres-2012, numa derrota por 1 a 0 para a seleção da Grã-Bretanha, diante de 70 mil torcedores.