Decepção na Copa, reformulação e chegada de Arthur Elias: veja balanço da Seleção em 2023

Foto: Staff Images Woman / CBF

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A temporada de 2023 da Seleção Feminina acabou com a goleada brasileira sobre a Nicarágua por 4 a 0 na última semana, mas o ano passou longe de ser uma maravilha. Ainda sob o comando da sueca Pia Sundhage, o Brasil terminou a preparação para a Copa do Mundo com empate diante da Inglaterra, na Finalíssima, e vitória sobre a Alemanha – resultados que empolgaram o torcedor e, consequentemente, fizeram a decepção por uma eliminação na fase de grupos do Mundial (que não acontecia desde 1995) ser ainda mais dolorida na Austrália. 

O Brasil que havia chegado no Mundial na 8ª posição do ranking da Fifa, caiu uma posição após a campanha que marcou a despedida melancólica de Marta da Copa. A decisão da CBF foi por uma limpa no departamento de futebol feminino – retirando quase todos os profissionais que participaram da Era Pia, desde a coordenadora de seleções femininas Ana Lorena Marche até o técnico da Seleção Feminina Sub-20 Jonas Urias, que também contribuiu com a comissão técnica da Pia no Mundial. O sucessor escolhido como treinador era o mais cotado. Arthur Elias e sua comissão técnica assumiram a seleção principal em 1º de setembro com um enorme desafio: voltar a colocar o Brasil entre os protagonistas. 

Apesar do curto tempo até os Jogos Olímpicos de Paris-2024, que serão disputados entre julho e agosto do ano que vem, a primeira data Fifa do Brasil após o Mundial não contou com jogos amistosos. Recém anunciado como o novo técnico, Arthur convocou 30 jogadoras para um período de treinos na Granja Comary, com destaque para a volta de Cristiane entre as relacionadas. A atacante do Santos voltou a ser chamada para os amistosos contra o Canadá e ficou de fora da lista para os jogos diante do Japão e Nicarágua, que teve a jovem Priscila, do Internacional, como estreante de destaque.

Com cinco jogos neste ano, a Seleção de Arthur Elias chegou a empolgar com a proposta mais ofensiva colocada em campo na estreia contra o Canadá. Mas as falhas defensivas e problemas de criação contra Canadá e Japão mostraram também que o trabalho será desafiador diante do pouco tempo até as Olimpíadas. A oscilação do equipe brasileira sob comando de Arthur acompanhada pelo fracasso na Copa do trabalho liderado por Pia Sundhage fizeram o Brasil fechar 2023 na 11ª posição do ranking da Fifa, fora do top 10, o que não acontecia desde 2019.

O primeiro compromisso da Seleção Brasileira Feminina em 2024 será a Copa Ouro, que reunirá as principais seleções nacionais da Concacaf e Conmebol entre 17 de fevereiro e 10 de março, nos Estados Unidos. O Brasil está no grupo B do torneio, ao lado de Panamá, Colômbia e Haiti ou Porto Rico. Também disputam a competição: Estados Unidos, México, Argentina e a vencedora da preliminar 3 (Guiana ou República Dominicana) no grupo A; e Canadá, Costa Rica, Paraguai e a vencedora da preliminar 2 (El Salvador x Guatemala) no grupo C.

Estreia de Arthur Elias com vitória na Seleção

Foto: Nayra Halm / Staff Images Woman / CBF

Dois amistosos com o Canadá realizados na data Fifa de outubro marcaram o início da jornada de Arthur Elias na Seleção. E a estreia foi animadora! Não apenas pela vitória sobre o campeão olímpico de Tóquio-2020, mas pela postura da equipe em campo, que conseguiu ter mais posse de bola e ser bastante dinâmica no ataque, conforme o treinador pregou ser seu objetivo no primeiro discurso no novo cargo. 

O Brasil demorou 15 minutos até se encontrar e apresentou falhas de compactação defensiva, mas melhorou ao longo do jogo e fez uma bela apresentação, principalmente no segundo tempo. O placar magro de 1 a 0, com gol de Debinha no último minuto, não refletiu a quantidade de jogadas criadas pela equipe brasileira, que finalizou 16 vezes, sendo apenas três na direção do gol.

“A nossa proposta ofensiva era atacar a linha de quatro defensoras do Canadá com cinco jogadoras de ataque. E a gente precisava do trabalho muito bem feito das duas alas, tanto ofensivamente quanto defensivamente. E a Tamires e a Adriana fizeram esse papel muito bem”, analisou Arthur, após o jogo.

No primeiro jogo, Arthur escalou a Seleção com três zagueiras e Marta e Cristiane juntas no ataque brasileiro, ao lado de Geyse. Questionado sobre a melhora no segundo tempo com as substituições no ataque, Arthur respondeu que usaria os amistosos para criar consistência no time: “O trio de ataque que entrou durante o jogo (Debinha, Bia Zaneratto e Gabi Nunes) foi muito bem. Mas o titular também foi capaz de se corrigir no primeiro tempo, pressionar bem e criar chances. É uma questão de sequência”.

Brasil não repete atuação, mas saldo é positivo

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Mas a boa impressão da estreia de Arthur Elias na Seleção não se repetiu três dias depois, no segundo amistoso contra o Canadá. Diante da melhora da marcação canadense, que conseguiu ser superior ao meio-campo brasileiro, principalmente no segundo tempo, o Brasil não conseguiu ser eficiente na criação das jogadas, teve muita dificuldade na saída de jogo e sofreu muito no setor defensivo, acabando derrotado por 2 a 0.

Arthur Elias aprovou o entendimento das jogadoras e o volume de jogo da sua equipe no primeiro tempo, que neutralizou a ação ofensiva do Canadá na avaliação dele. “O primeiro tempo mostra um caminho do que queremos da seleção brasileira.” Já no segundo tempo, o Canadá foi mais eficiente, dominou o jogo e construiu a vitória explorando falhas do setor defensivo brasileiro em uma bola aérea levantada na área e na cobertura de uma bola longa que deixou a Deanne sair na cara do gol. 

“As substituições do Canadá, sem dúvidas, influenciaram positivamente para a seleção delas. A Fleming é uma jogadora muito eficiente, diferenciada no meio-campo e teve um impacto grande. Não que as nossas trocas fizessem com que o Brasil caísse na partida. Testar jogadoras é um processo natural na equipe que eu não vou abrir mão de fazer. Estamos iniciando o trabalho e é pra esse tipo de observação que trocamos, tanto as 11 jogadoras iniciais, quanto durante a partida”, disse Arthur, após a derrota. 

Arthur ressaltou os aprendizados que ficaram do jogo, como transformar o volume de jogo em construção de chances claras de gol, além de converter as oportunidades criadas em gol de fato. Foi o que faltou no primeiro tempo à Seleção, segundo o técnico. “Já na segunda parte, são vários ajustes, especialmente manter a nossa marcação pressão de forma eficiente, evitar o cruzamento e melhorar o nosso encaixe na área e na bola longa. Tivemos falhas defensivas na disputa pelo alto e na cobertura que precisamos melhorar”, completou.

Com uma vitória e uma derrota diante do Canadá, o saldo dos dois primeiros jogos da Seleção sob comando de Arthur Elias foi positivo. Se analisarmos cada tempo separadamente, o Brasil fez três parciais de 45 minutos boas para uma muito ruim, que foi o segundo tempo contra o Canadá, resultando na derrota por 2 a 0.

Queda de rendimento diante do Japão

Foto: Staff Images/CBF

O problema é que a consistência que Arthur Elias gostaria criar na Seleção Brasileira com os amistosos seguintes não passou nem perto nos confrontos contra o Japão no fim de novembro e início de dezembro, disputados no estado de São Paulo. O Brasil apresentou novamente muitas dificuldades na saída de bola, errou muitos passes – até pelo excesso de passes longos –, foi dominado no meio-campo e apresentou falhas na transição defensiva.

Apesar de o jogo coletivo brasileiro não ter se encaixado, a marcação alta e as performances individuais roubaram a cena e arrancaram uma vitória emocionante por 4 a 3 sobre a bem organizada equipe japonesa no primeiro amistoso disputado entre os dois, na Neo Química Arena, em São Paulo, em 30 de novembro. Destaque para Priscila, atacante do Internacional de apenas 19 anos, que foi convocada pela primeira vez para a Seleção principal e marcou gol na estreia com a amarelinha.

“Gostei que as jogadoras acreditaram até o fim, como foi com a Portilho, a Bia Zaneratto e a Priscila, que fez gol no último minuto. É uma característica importante de elas entrarem em campo para defender a Seleção de uma forma cada vez mais confiante e encorajada para jogar, marcar e ser agressiva. Esse, pra mim, foi o ponto forte do jogo”, analisou Arthur. 

Tamires também ressaltou o trabalho psicológico da Seleção. “Era algo que o Brasil vinha sofrendo anos atrás, de não conseguir recuperar quando tomava um gol. Contra o Japão, saímos atrás no placar, conseguimos fazer 3 a 1, depois elas empataram e ainda tivemos força para fazer o gol da vitória. Isso só mostra o quanto viemos trabalhando para, cada vez mais, melhorar os aspectos da seleção brasileira: físico, tático e mental”, analisou.

Além da Priscila, as novidades na Seleção para a data Fifa de amistosos contra o Japão e Nicarágua foram a meio-campista Julia Bianchi, do Chicago Red Stars, que foi chamada pela primeira vez pelo técnico Arthur Elias; assim como Ana Vitória e Eudimilla, que haviam figurado a lista do técnico apenas para o período de treinos na Granja Comary em setembro. Segundo o treinador, ele e sua comissão observam um grupo de 45 jogadoras para escolher as 18 ou 22 que vão aos Jogos Olímpicos.

Arthur Elias minimiza jogo ruim na derrota pro Japão

Já no segundo amistoso contra o Japão, os problemas da Seleção Brasileira ficaram mais evidentes na derrota por 2 a 0. E não teve jogada individual ou mentalidade forte que tenha salvado a equipe de Arthur Elias dessa vez no Estádio Morumbi, em São Paulo. O Brasil foi novamente dominado no meio-campo, onde as duas jogadoras do setor ficaram em inferioridade numérica, e repetiu as dificuldades na saída de bola diante da falta de aproximação da linha de ataque formada por cinco jogadoras, contando com as alas.

Mas Arthur Elias leu o jogo de outra maneira. “Não acho que fizemos um jogo ruim. Não acho que o nosso problema foi o meio campo”, disse na coletiva após a derrota. “Não precisa passar a bola o tempo inteiro por dentro, como vocês acham. A gente quer um futebol eficiente, que crie chances mais do que o adversário ou a gente quer um futebol mais idealizado, que vai comandar o jogo o tempo inteiro?”, completou.

“Estou muito satisfeito, porque a gente enfrentou a base da seleção que, pra mim, foi uma das melhores da Copa, que ganhou de 4 a 0 da campeã do mundo e, até pouco tempo atrás, vocês estavam cobrando da Seleção de não conseguir ganhar, não conseguir passar de fase dessa última vez, a gente não conseguiu nem fazer gol na Jamaica. Cada um faz a sua análise, eu estou preocupado em evoluir a Seleção, a mentalidade, e isso está acontecendo”, avaliou Arthur Elias.

“A gente teve uma marcação, agressiva e encorajada pra jogar contra o Japão, poucos times fazem isso. Tomamos dois gols que são evitáveis e outras boas chances que acabamos não convertendo. Então tem muito a melhorar”, completou o treinador. A chance mais clara de gol do Brasil foi com Geyse no segundo tempo, após erro da goleira japonesa em que a bola sobrou para ela com o gol livre, mas o chute saiu pra fora. Ainda assim, foram poucas as jogadas bem trabalhadas que chegaram com qualidade para as atacantes. As substituições tão pouco foram capazes de melhorar a equipe a ponto de dominuir a desvantagem no placar.

Encerramento com goleada e muito a melhorar

Foto: Nayra Halm / Staff Images Woman / CBF

Claro que um novo trabalho também demanda tempo e paciência para ser implementado. Mas a impressão deixada pelo rendimento em campo foi muito diferente do discurso proferido por Arthur Elias nas entrevistas coletivas sobre os mesmos jogos. De qualquer forma, a estratégia do Brasil foi realizar três amistosos na última data Fifa de 2023, sendo o último contra a frágil Nicarágua, que acabou com vitória brasileira tranquila por 4 a 0 na Arena Fonte Luminosa, em Araraquara (SP), mas que não chegou a convencer.

Em uma data Fifa com três amistosos em um intervalo de dez dias, o último jogo contra um adversário que ocupa a 113ª posição do ranking mundial da Fifa deixou a impressão de que valeu mais para resgatar a confiança das jogadoras, conforme o treinador vem pregando. “Foi uma partida com pouco tempo entre um jogo e outro, muito desgastante. Eu entendo que a gente teve um confronto contra uma equipe muito fechada e vejo que o saldo do trabalho em geral é muito positivo”, analisou Arthur Elias.

Candidatura para Copa 2027 em meio à crise na CBF

O Brasil oficializou a proposta para sediar a Copa do Mundo feminina de 2027.  Representantes da candidatura brasileira entregaram documento com as propostas do país em uma reunião na sede da Fifa, em Zurique, em 7 de dezembro. A disputa será com outras duas candidaturas conjuntas: Alemanha, Bélgica e Holanda, e Estados Unidos e México. A decisão será tomada no Congresso da Fifa, em Bangkok, na Tailândia, em 17 de maio de 2024.

“O Brasil é o franco favorito para sediar a próxima Copa do Mundo Feminina e estamos bastante confiantes. E essa confiança vem de todo um trabalho que, nesta gestão, estamos desenvolvendo, sempre respeitando valores que, para a CBF de hoje, são fundamentais, que são o respeito, lisura, transparência e investimentos”, disse o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, na ocasião. No mesmo dia, porém, Ednaldo foi destituído da presidência da entidade máxima do futebol brasileiro por meio de decisão judicial. O motivo seria a ilegitimidade das eleições que o possibilitaram chegar à presidência.

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