Brasil sai com moral elevada após Finalíssima

(Thais Magalhães/CBF)

A primeira Finalíssima entre mulheres foi digna do marco histórico do evento entre a Inglaterra, campeã da Eurocopa, e o Brasil, vencedor da Copa América. Mais de 83 mil pessoas marcaram presença no estádio de Wembley, em Londres, na quinta-feira (6). É o maior público em um jogo com a seleção brasileira feminina e o quinto maior da modalidade. A partida também teve direito a gol nos acréscimos, levando a decisão para os pênaltis após terminar em 1 a 1. Por fim, o duelo terminou com festa para as donas da casa. A Inglaterra venceu o Brasil por 4 x 1 nas cobranças, sagrando-se campeã. 

Apesar da frustração por ter chegado tão perto, as comandadas por Pia Sundhage saem da Finalíssima com a moral elevada. Depois de um primeiro tempo de domínio ofensivo inglês, que saiu na frente no placar, as brasileiras viraram a chave para o segundo tempo e deixam a sensação de que podem ir mais longe na Copa do Mundo, tanto pela organização em campo quanto pela capacidade técnica, física e emocional de buscar o empate contra uma das favoritas ao título mundial em um estádio lotado pela torcida adversária. 

Foi um jogo difícil como o esperado. A seleção brasileira começou com três zagueiras em uma linha defensiva de cinco. A formação compacta e recuada traduziu a tentativa de segurar o ímpeto das atuais campeãs da Eurocopa, que têm um jogo aéreo muito forte e ainda contavam com a atmosfera do estádio a seu favor. Mas a troca de passes inglesa encontrou espaço pelo lado esquerdo da defesa brasileira aos 22 minutos. Tamires não acompanhou Lucy Bronze na tabela com Stanway. A jogada terminou com Bronze na linha de fundo encontrando Ella Toone livre na área para abrir o placar.

A proposta brasileira para o primeiro tempo era claramente se segurar atrás para apostar nos contra-ataques, como aconteceu quatro minutos antes de sofrer o gol. Aos 18, o Brasil conseguiu interceptar um lançamento no meio de campo. A bola parou nos pés da Tamires, que rapidamente lançou para Geyse na grande área. A atacante dominou e cortou a defensora Jess Carter levando a bola para a perna esquerda, mas a finalização desviou na inglesa e foi para fora.

Essa foi a melhor – mas também a única – chance clara de gol do Brasil no primeiro tempo. As comandadas de Pia se comportaram bem defensivamente com a linha de cinco, mas os erros de passes foram excessivos, prejudicando muito a construção de jogadas. A proposta de fazer uma transição ofensiva em velocidade, portanto, não funcionou. O resultado foi uma superioridade inglesa enorme da posse de bola, principalmente no campo ofensivo na primeira metade do jogo, que terminou com sete finalizações inglesas contra apenas uma brasileira; e 1 x 0 no placar.

 

Segundo tempo empolgante do Brasil
Foto: Thais Magalhães/CBF

Atrás no placar, a seleção brasileira voltou do intervalo com uma formação completamente diferente da que iniciou a decisão e duas substituições. Adriana e Andressa Alves entraram nos lugares de Lauren, que se portou muito bem recompensando a confiança depositada pela treinadora, e Bia Zaneratto, sumida diante das dificuldades de criação ofensiva do Brasil. 

A técnica Pia optou por ir para o segundo tempo com duas zagueiras em uma linha de quatro jogadoras na defesa, como inclusive a seleção está mais acostumada a jogar. A técnica do Brasil também recuou Kerolin para a função de volante, ao lado de Luana e Ary Borges, e abriu Adriana e Andressa Alves para darem mais opção no ataque com Geyse, que manteve-se centralizada.

Era um novo time! Não apenas pela formação diferente, mas pela postura agressiva com que voltou ao jogo, exercendo uma pressão alta que deixou as inglesas desconfortáveis por cerca de 20 minutos. Durante esse período, Geyse aproveitou a maior liberdade para fazer o que tem de melhor. Aos 10 minutos, a atacante do Barcelona recebeu a bola na linha de fundo da lateral direita e partiu para o 1 contra 1. Com belo drible, ela passou pela defensora e tocou para Ary na área, mas Ary furou o chute, desperdiçando uma chance clara de gol. 

Essa foi a quarta finalização do Brasil em apenas 10 minutos do segundo tempo, contraste grande em relação a um único chute ao gol em toda a primeira parcial. Três minutos depois, foi a vez da Geyse levar perigo ao gol defendido pela goleira Mary Earps em um chute de fora da área após roubada de bola da Luana. A pressão brasileira foi intensa e resultou em um domínio do volume ofensivo, faltando capricho nas tomadas de decisões próximas ao gol, tanto na hora de dar o passe quanto de finalizar.

Apenas aos 20 minutos do segundo tempo que a Inglaterra conseguiu diminuir o ímpeto do Brasil. Pia deu mais fôlego ao meio campo verde-amarela colocando Duda Francelino no lugar da Luana, que voltou a ter oportunidade na seleção por causa do corte de Duda Sampaio. Apesar de não ter sido a primeira opção entre as convocadas, a jogadora do Corinthians foi escalada como titular e teve desempenho bastante interessante, voltando a alimentar esperanças mais palpáveis de ser levada para a Copa do Mundo. 

Outra figurinha que parecia estar distante da chance de carimbar o passaporte para o Mundial na Austrália era a meia Andressa Alves. A jogadora da Roma integrou a seleção de última hora, após a notícia do corte da Nycole Raysla, atacante do Benfica. Pois coube à Andressa Alves marcar o gol de empate do Brasil, já nos acréscimos, para levar a disputa da Finalíssima aos pênaltis. A Inglaterra somou 71% de posse de bola contra 29% do Brasil em todo o jogo. Mas as finalizações sinalizam para um equilíbrio no segundo tempo: foram 11 chutes (sendo 5 no gol) das inglesas contra 10 finalizações das brasileiras (4 no gol). 

Nos pênaltis, Stanway e Adriana abriram as cobranças com gols. Na sequência, a goleira Lelê defendeu a batida de Toone e Mary Earps pegou o chute de Tamires, que desperdiçou a chance de colocar o Brasil na frente do placar. Após Daly marcar para a Inglaterra na sequência, Rafaelle acertou o travessão. Pelo Brasil, Kerolin ainda marcou o gol, mas Alex Greenwood e Chloe Kelly garantiram a vitória da Inglaterra por 4 a 2 nas penalidades.

“No primeiro tempo eu achei que a gente poderia ter encaixado melhor a nossa saída de bola, erramos alguns passes. No segundo tempo chegamos a encaixar um pouco melhor, criamos oportunidades e conseguimos empatar no final”, analisou Andressa Alves. Apesar de lamentar a derrota nos pênaltis, a meia comemorou a festa feita em Wembley: “A gente vê como o futebol feminino está cada vez mais lindo. Claro que é muito ruim perder, é decepcionante, mas hoje isso aqui é espetacular. Hoje o futebol feminino venceu mais uma vez e está demonstrando que cada ano que passa a modalidade é importante, então essa experiência é incrível”.

É importante ressaltar que a seleção feminina jogou com oito desfalques por causa de lesão. Um desafio que vem sendo recorrente. Desde a Copa América, a equipe brasileira já teve dez baixas por lesões que obrigaram a treinadora a fazer cortes na lista de convocadas e chamar outros nomes para suprir as ausências. Apesar da dificuldade de entrosamento por falta de uma sequência de jogos com um mesmo grupo, o Brasil tem mantido um bom nível de competitividade, sendo a Finalíssima contra a Inglaterra a cereja do bolo para elevar a moral nesta reta final de preparação para a Copa do Mundo.

O próximo compromisso das brasileiras é na terça-feira (11), às 13h (de Brasília) contra a Alemanha, em Nuremberg.

 


FICHA TÉCNICA

INGLATERRA 1 (4) X (2) 1 BRASIL

Inglaterra

Mary Earps; Lucy Bronze, Leah Williamson, Alex Greenwood e Jess Carter; Keira Walsh, Gerogia Stanway, Ella Toone; Alessia Russo (Rachael Daly), Lauren James (Chloe Kelly) e Lauren Hemp (Katie Robinson).
Técnica: Sarina Wiegman.

Brasil

Lelê; Antônia (Gabi Nunes), Lauren (Andressa Alves), Kathellen; Rafaelle, Tamires, Luana (Duda Francelino), Ary Borges (Fê Palermo), Kerolin; Bia Zaneratto (Adriana) e Geyse.
Técnica: Pia Sundhage.

Árbitra: Stephanie Frappart (França)

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