Por que Atlético-MG vem amargando goleadas e a lanterna do Brasileirão Feminino?

Atlético-MG 0 x 3 Cruzeiro pelo Brasileiro Feminino 2024. Foto: Gustavo Martins/ Cruzeiro

Foto: Gustavo Martins/Cruzeiro

O Atlético Mineiro vive cenários completamente contrastantes entre o futebol masculino e o feminino dentro do próprio clube, o que ficou evidente nos clássicos que ambos jogaram contra o Cruzeiro no fim de semana. Enquanto a equipe masculina atropelou o rival na vitória por 3 a 0 diante de quase 40 mil pessoas na Arena MRV, as Vingadoras foram goleadas por 4 a 0 no Sesc Vivenda Nova, que foi impedido de receber público por não estar em conformidade com normas de segurança, como ter catracas na entrada e divisão entre torcidas.

Por nota, o Sesc esclareceu que “o local é um Centro Oficial de Treinamento, com medidas oficiais da Fifa e estrutura para a realização de campeonatos, mas não tem a pretensão de ser um estádio de futebol”. Ainda assim, esse é o principal local de mando de campo do Atlético no Brasileirão Feminino.

Mas esse é apenas um dos problemas que explicam o desempenho desastroso das Vingadoras nesta temporada. Elas estão na lanterna do Brasileirão, sem marcar nenhum ponto e com a incrível marca de 21 gols sofridos em seis rodadas, sendo 10 deles nos clássicos mineiros: seis diante do América-MG e os quatro contra o Cruzeiro. Na segunda-feira (22), o Atlético-MG informou que o técnico Antony Menezes e o coordenador técnico Raphael Milenas foram desligados do clube. O time feminino será comandado, de forma interina, pelo auxiliar Bruno Proton.

Na contramão da maioria dos grandes clubes da Série A1, o Atlético-MG diminuiu o orçamento do futebol feminino de 2023 para 2024, alegando “questões de adequação em virtude da transformação do clube em SAF”, conforme informou ao Dibradoras, em levantamento publicado no início do Brasileirão. Neste ano, o clube também desativou as categorias de base femininas que o time tinha desde 2020. Para 2024, o clube firmou parceria com uma equipe de um projeto social de Belo Horizonte.

Já o time feminino profissional foi todo reformulado, renovando contrato apenas com a atacante Milena, e ficando com um plantel com média de idade abaixo dos 25 anos. Além do baixo investimento no elenco, a reestruturação começou atrasada, quando outros clubes já estavam em pré-temporadas. Dezenove jogadoras chegaram no Galo para a temporada apenas no fim de janeiro, poucos dias após o anúncio de Antony Menezes como treinador. O nome do técnico tampouco agradou os torcedores. O último trabalho dele no futebol feminino tinha sido no Vasco, cargo que deixou após o time ser rebaixado para a Série A3 (terceira divisão) do Brasileiro Feminino, em 2022.

No fim de 2023, o presidente do Atlético, Sérgio Coelho, não soube sequer falar sobre o orçamento previsto para o futebol feminino quando foi questionado em coletiva de imprensa convocada para apresentar o plano financeiro do clube para os próximos três anos. “Nós estamos fechando orçamento, não tenho esse valor. Devido às minhas ocupações, conversei isso com os 4 Rs, que o futebol feminino nós vamos ter uma gestão separada porque eu já estou assumindo uma cadeira no Conselho de Administração, no Comitê de Futebol, presidente da associação, tenho minhas coisas”, declarou o dirigente.

A falta de investimento na modalidade lembra a do Ceará no Brasileiro feminino de 2023, em que foi o saco de pancadas do campeonato após desestruturar a equipe com a justificativa de ajustes financeiros devido ao rebaixamento do masculino para a Série B. A diferença é que o Atlético-MG não caiu de divisão nem sofre com questões financeiras, pelo contrário, arca com uma folha salarial de elenco e comissão técnica no masculino que gira em torno de R$ 200 milhões (anual). O que mudou foi o direcionamento da gestão em relação ao feminino após a chegada da SAF, em novembro de 2023.

Diante de ações que jogam contra o próprio time feminino, difícil acreditar na afirmação feita pelo Atlético-MG ao Dibradoras, em janeiro, que “existe a possibilidade e a intenção de utilizar a Arena MRV em jogos específicos e que não coincidam com o time masculino”. A projeção mais realista é que será difícil fugir do rebaixamento para a Série A2 do Brasileiro neste ano. A nove rodadas pro fim da primeira fase, o primeiro time fora da zona de degola (Fluminense) soma 5 pontos. As Vingadoras ainda enfrentam Botafogo, Corinthians, São Paulo, Real Brasília, Grêmio, Internacional, Avaí/Kindermann, Ferroviária e Palmeiras.

Mudança de CT após polêmicas

No fim de 2023, o ge publicou relatos de jogadoras do Atlético-MG reclamando da falta de estrutura e condições mínimas para elas treinarem. “Em 2023 a Vila Olímpica esteve fechada para a reforma das estruturas e troca do gramado natural para o sintético. Nesse período, o futebol feminino intercalou treinamentos na Cidade do Galo e em um campo amador alugado pelo clube”, explicou o Atlético-MG. Em março deste ano, o clube reinaugurou a Vila Olímpica, clube social do Atlético que conta com campo oficial, vestiários e estrutura de fisioterapia e serve como local de treinamento do time feminino.

Mas o Galo reconhece que “a estrutura disponibilizada para a equipe feminina é mais enxuta e menos complexa do que a usada pelo futebol masculino”. O Atlético também firmou parceria com uma academia da cidade para o uso das atletas, o que não é o ideal. Mas o clube informou, durante a reinauguração da Vila Olímpica em março, que as Vingadoras passariam a treinar duas vezes por semana no novo local, e três vezes na Cidade do Galo, onde treina o futebol masculino.

O Atlético-MG tem muito potencial para desenvolver o futebol feminino no clube, mas é preciso querer e administrar a modalidade com seriedade, profissionalismo e respeito. Abrir mão do time feminino, tornando-se alvo de goleadas a cada rodada do Brasileiro é uma mancha à imagem do clube, ainda mais neste momento de ascensão do futebol feminino. Afinal, o escudo estampado nos uniformes, sejam vestidos por mulheres ou homens, continua sendo o do Galo.

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