Viagens de ônibus, horários dos jogos e premiação: o que Supercopa tem a melhorar

Corinthians x Cruzeiro Final Supercopa 2024 Foto: Mauro Horita/Cruzeiro

Foto: Mauro Horita/Cruzeiro

Desde 2022, o calendário do futebol feminino conta com mais uma competição nacional: a Supercopa Feminina. A edição deste ano terminou com uma grande final entre Corinthians e Cruzeiro, mais de 33 mil pessoas no estádio (novo recorde do torneio), arbitragem com auxílio do VAR e transmissões na TV aberta e fechada. A festa foi exaltada pelas jogadoras, mas a cobrança por melhorias na organização foi o que prevaleceu, ficando marcada pelo desabafo da Gabi Portilho: “Futebol feminino não é um favor”.

O título ficou com o Corinthians pela terceira vez seguida, mas Byanca Brasil, atacante do Cruzeiro que teve um gol anulado no fim da partida, foi um dos destaques da decisão. “Sobre o gol, acho que isso é muito pequeno perto do que o Cruzeiro está construindo. A gente sabe da estrutura que a gente tem. Queria muito ter feito o gol, queria muito ter esse título. Mas, acho que mais do que título, é o que o Cruzeiro está construindo, não só para o Cruzeiro, mas para o futebol feminino”, discursou, em entrevista à TV Globo após a final.

“Tenho muito orgulho pelo o que a gente fez hoje. Estou feliz demais por essa torcida estar aqui, é a do adversário, mas sonho em um dia ter a do Cruzeiro e de todos e todo mundo junto em prol do futebol feminino. E dizer que o futebol feminino não é um favor. A Portilho foi muito feliz quando falou isso. Então, que tenha mais visibilidade e mais apoio de verdade, porque não estamos pedindo, a gente merece isso”, completou Byanca.

Viagens longas de ônibus

A Ferroviária encarou uma viagem de 10h de ônibus para estrear na Supercopa Feminina diante do Flamengo. Isso porque, segundo o regulamento da Supercopa Feminina 2024, a CBF proporciona aos clubes passagens aéreas para 25 pessoas somente quando as viagens entre as cidades são maiores do que 700km. Como Araraquara fica a 680 km do Rio de Janeiro, o transporte oferecido pela entidade foi terrestre – em um ônibus que não era leito, o que dificulta o descanso. 

A equipe viajou por quase 10h para jogar no Rio no domingo num calor de 40ºC. Logo depois da classificação nos pênaltis, a Ferroviária entrou no ônibus de novo para viajar por mais 10h de volta para Araraquara. E, dois dias depois, já estava na estrada novamente para disputar a semifinal em São Paulo. Numa competição curta, de apenas uma semana de duração, a logística foi bastante complicada.

Situação parecida seria vivida pelo Cruzeiro para disputar a final da competição contra o Corinthians, já que a distância entre Belo Horizonte e São Paulo é de 593 km, com duração de aproximadamente 9 horas de ônibus. O patrocinador do time feminino custeou 38 passagens aéreas para que as Cabulosas pudessem ter mais conforto na viagem, se preservando fisicamente para a partida decisiva. O Cruzeiro já havia viajado desde o início da competição, primeiro para Brasília (mais de 700Km), depois para Florianópolis (1.285Km) e por último para São Paulo.

Vale ressaltar que a Supercopa Feminina é uma competição de 10 dias de duração, em que os clubes jogam a cada quatro dias. 

“A solução que a Gerdau trouxe pra gente é muito pontual e de curto prazo. A gente quer que nas próximas edições da Supercopa, do Brasileirão e do que tiver ver essas instituições apoiando com o que há de cenário mais profissional. Queremos brigar para que num próximo campeonato todos possam estar em condições mais iguais para chegar dentro de campo e brilhar”, declarou Kin Saito, diretora de futebol feminino do Cruzeiro, ao Sportv.

Horários ruins dos jogos

Corinthians x Ferroviária é o maior clássico do futebol feminino dos últimos tempos. Os dois se enfrentaram na semifinal da Supercopa diante de quase 9 mil torcedores presentes na Neo Química Arena no meio da tarde de uma quinta-feira útil. Em setembro de 2023, os dois clubes decidiram o título do Brasileirão nesse mesmo estádio, marcando novo recorde de público da modalidade na América do Sul, mas o jogo foi na tarde de um domingo (16h), horário tradicional do futebol. 

Após a classificação para a final da Supercopa, Gabi Portilho desabafou: “Um jogo como esse, a rivalidade é muito grande, poderia ter sido um pouco mais tarde. Espero que na final, a gente possa lotar a Arena, porque jogar em casa é muito bom, é o 12º jogador e faz diferença. Quando a gente bate recordes, não é o Corinthians. É o futebol feminino brasileiro”, disse a atacante do Corinthians. 

Antes, Portilho já havia criticado a escolha dos horários dos jogos da Supercopa em função do calor do verão brasileiro. “Pra mim, é inadmissível jogar esse horário: 10h30 da manhã, quase 40ºC, a gente sabe que é difícil, mas isso aqui é desumano, coloca em risco a saúde das atletas”, lamentou. 

Mesmo com as críticas das atletas, a CBF confirmou o jogo da final para às 10h30 do domingo (18). Em nota, a entidade comunicou que “os horários das partidas atendem às solicitações dos detentores dos direitos do torneio” – o pedido, nesse caso, é da TV Globo para encaixar na sua grade de programação.

Mas não seriam a CBF e a própria TV detentora dos direitos alguns dos maiores interessados em ter o melhor produto possível para que ele atraia novos patrocinadores? Com jogos às 10h30 no verão brasileiro (em início de temporada ainda, submetendo as atletas ao calor extremo), o nível do jogo não é tão alto quanto poderia ser. E colocando partidas no meio da tarde de um dia útil, a chance do estádio ficar vazio é praticamente 100%. Quem vai querer comprar um produtor que é maltratado por seus próprios donos?

Na decisão, ainda bem, a temperatura estava mais amena em São Paulo. O Corinthians sagrou-se campeão após vencer o Cruzeiro, por 1 a 0, diante de 33.424 pessoas na Neo Química Arena, em Itaquera, São Paulo. Deles, 33.175 eram torcedores pagantes, um novo recorde da Supercopa Feminina. Em 2022, a final entre Corinthians 1 x 0 Grêmio registrou 19.547 pessoas nas arquibancadas do estádio. E em 2023, o público foi de 25.799 espectadores para Corinthians 4 x 1 Flamengo.

Premiação divulgada com atraso

A Supercopa feminina começou em uma sexta-feira (9/2) sem que os clubes soubessem quais seriam os valores da premiação dada aos participantes. Apenas na quarta-feira seguinte, na hora que iria começar a primeira semifinal entre Avaí Kindermann e Cruzeiro, a entidade divulgou que o campeão receberia R$ 600 mil e o vice, R$ 400 mil. O valor é R$ 100 mil a mais para cada um em relação ao prêmio dado em 2023. Convenhamos, ainda é pouco diante do crescimento que a modalidade teve nos últimos anos.

Calendário

O calendário da Supercopa Feminina também não foi dos mais felizes. A competição que abre a temporada do futebol feminino brasileiro começa em um fim de semana e termina no outro, por tanto tem duração de 10 dias. Neste ano, ela começou bem no carnaval, com jogos das quartas de final na sexta-feira (09), sábado (10) e domingo (11) de um dos períodos mais festivos do país. Naturalmente, o campeonato fica com sua atenção dividida e torna-se menos atrativo para cobertura da imprensa e presença da torcida nos jogos. Além disso, a janela entre a Supercopa e o Brasileiro A1 ficou de praticamente um mês, já que o próximo campeonato está previsto para começar em 17 de março.

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