Austrália x França: o ‘jogo das mães’, que viraram protagonistas nessa Copa

Katrina Gorry, da Austrália, vive momentos especiais da Copa do Mundo com sua filha; Majri viu sua bebê completar um ano no Mundial.

Na viagem para Brisbane (local das quartas-de-final da Copa do Mundo), o voo da delegação australiana teve uma passageira especial. A pequena Harper, que está prestes a completar 2 anos de idade, foi a atração da viagem, sentada ao lado da atacante Caitlin Foord por alguns minutos. De colo em colo, a menina atrai a atenção das jogadoras e já virou quase que a mascote da equipe neste Mundial.

Harper é filha da meio-campista Katrina Gorry, que é titular da Austrália na Copa do Mundo.

Esse tipo de cena tem chamado a atenção neste Mundial. Até pouco tempo atrás, era muito raro ver jogadoras de futebol voltando a jogar depois da maternidade. Mas, nesta edição do torneio, algumas das protagonistas do jogo são também mães de primeira viagem.

Katrina Gorry, da Austrália, vive momentos especiais da Copa do Mundo com sua filha; Majri viu sua bebê completar um ano no Mundial.

Na partida entre Austrália e França valendo vaga nas semifinais, neste sábado, são três mães somadas nos dois times. As meio-campistas Katrina Gorry e Tameka Yallop na Austrália, e a meia/lateral esquerda Amel Majri na França – dessas três, só Yallop não gerou o filho (a esposa dela, que é ex-jogadora da Nova Zelândia, Kirsty Yallop, foi quem teve o bebê em 2020).

Katrina Gorry decidiu ser mãe solo no meio da pandemia. Ela fez FIV (fertilização in vitro) e sua filha nasceu em agosto de 2021. Hoje, Katrina tem uma noiva e está feliz com a família completa – ela diz que sua filha Harper foi quem a fez recuperar seu amor por jogar futebol.

Majri chegou a receber a medalha de campeã da Champions League em 2022 pelo Lyon quando estava grávida. A bebê dela nasceu em julho do ano passado e, um ano depois, estava junto com a mãe embarcando para a Austrália para a Copa do Mundo.

Outras seleções também tinham outras jogadoras mães. Os Estados Unidos, por exemplo, tinham três entre as titulares (Alex Morgan, mãe de Charlie que tem 3 anos; Julie Ertz, mãe de Madden que tem menos de um ano; e Crystal Dunn, mãe de Marcel, que completou um ano em maio). A Jamaica tinha Cheyna Matthews, que teve o terceiro filho e voltou a jogar. A Argentina tinha Vanina Correa, mãe de gêmeos de 4 anos de idade. E a Alemanha tinha Melanie Leupolz, mãe de um bebê de 9 meses.

A impressão é que as mães atletas estão se multiplicando nesta Copa. Mas não há números oficiais que comprovem isso. A Fifa afirma que essas são informações privadas, então não há confirmação sobre o número de jogadoras que vieram para o Mundial após terem filhos. Ainda assim, não há dúvidas de que esse é um fenômeno recente: o de cogitar a maternidade antes mesmo de encerrar a carreira no futebol.

Em 2017, uma pesquisa da Fifpro (uma espécie de sindicato dos atletas) trazia que só 2% das jogadoras de futebol eram mães. Além disso, 47% das atletas da modalidade diziam que esperariam a aposentadoria do futebol para só depois tentarem engravidar.

Havia um receio muito grande por parte delas de perder o emprego e os direitos básicos. Isso porque não havia uma regra mundial no futebol que protegesse as jogadoras nesses casos. Mas desde 2021 isso mudou.

A Fifa aprovou uma resolução para garantir alguns direitos para as atletas. Elas agora têm pelo menos 14 semanas de licença-maternidade com o pagamento de dois terços do salário nesse período, e não podem ser demitidas durante a gravidez.

Na Copa do Mundo, algumas facilidades também foram oferecidas, como local reservado para amamentação do bebê, transporte com cadeirinha infantil caso solicitado, e um espaço viabilizado no estádio para o encontro da mãe com a criança e familiares após os jogos.

Alex Morgan falou sobre a importância de ter esse suporte por parte da Fifa, das federações locais e também dos clubes: “Crescendo junto com esse time, eu pude ver outras atletas tendo que fazer isso com menos apoio do que nós estamos tendo. Jogadoras que abriram caminho para que nós pudéssemos ter mais apoio e melhores condições para fazer isso, e com isso hoje podemos ser mães e jogar em alto nível”, afirmou.

“Esse é um novo momento, temos visto também em outras equipes, acho que ter o apoio das federações ajuda e permite que a gente possa voltar a jogar depois de ter filho, isso nos ajuda a nos manter no jogo por mais tempo. Acho que muitas jogadoras anteciparam o fim da carreira (para serem mães), ainda é difícil, mas ter esse apoio enquanto a gente passa por isso é importante e tive a sorte de ter isso”, concluiu.

Katrina Gorry, que foi titular absoluta da Austrália nesta Copa do Mundo, também destacou a mudança de cenário com relação a perspectiva que as atletas ganharam mais recentemente para poderem ter filhos durante a carreira.

“Nós sempre pensamos que teríamos que nos aposentar para começar uma família. Mas agora muita gente está começando a pensar nisso. Os clubes têm apoiado mais também, então as mães podem se sentir seguras e confortáveis para treinar sabendo que estão cuidando do seu bebê enquanto isso”, afirmou – a Austrália, inclusive, fornece cuidadoras para bebês menores de 2 anos que sejam filhos de um membro da delegação.

Ainda há muitos desafios, mas as imagens das jogadoras vivenciando uma Copa do Mundo com seus filhos também podem inspirar ainda mais mudanças na forma de enxergar a questão, para que as mulheres de fato tenham liberdade de escolher o melhor momento de suas vidas (pessoais e profissionais) para viverem a maternidade. Lugar de mãe, afinal, também é no futebol.

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