“Jogadora moderna”, Bruna Calderan é peça importante no finalista Palmeiras

Finalista do Brasileiro Feminino pela primeira vez na sua história, o Palmeiras perdeu a primeira de duas batalhas para o Corinthians por a 1 a 0 no Allianz Parque. Mas, engana-se quem acha que o Alviverde se abateu com o revés. Muito por conta da boa temporada apresentada até aqui – que inclui o empate em 1 a 1 entre os times no jogo da última quarta-feira (22), válido pela sexta rodada do Paulistão, a equipe sabe que ainda pode sonhar com o título.

Desde que retomou o time feminino, em 2019, o Palmeiras tem desenvolvido um projeto promissor. Em um ano chegou à elite do campeonato nacional, venceu a Copa Paulista, avançou às semis da A1 e do Paulistão e foi ao mercado para disputar em alto nível qualquer partida em 2021.

E deu muito certo. Ricardo Belli montou um elenco não só de renome, mas de qualidade tática e técnica. Implementou sua filosofia de jogo, incomodou, e muito, os adversários e terminou a primeira fase do campeonato nacional sem perder sequer um jogo, sendo eficiente defensiva e ofensivamente: 11 vitórias, quatro empates, 45 gols marcados (o melhor ataque da competição) e 13 gols sofridos (a melhor defesa da competição ao lado do Corinthians).

Para o mata-mata, perdeu sua principal jogadora, artilheira do torneio (13 gols), Bia Zaneratto. Coincidência ou não, também conheceu sua primeira derrota na competição no jogo de ida das quartas diante do Grêmio, por 2 a 1. Mas, aquele time entrosado, bem treinado e de peças individuais de alto nível ainda estava lá para vencer a volta por 4 a 1 e despachar o Internacional nas semis com duas vitórias.

Trabalho de alta intensidade

Não é preciso insistir muito para “descobrir” o segredo deste Palmeiras de 2021. O discurso de quem está no dia a dia do clube é unânime: trabalho intenso. “O Belli é um treinador muito inteligente, deixa as atletas à vontade, mas com responsabilidade. Ele tem um grupo de jogadoras que compram a ideia dele, que se empenham, se dedicam. O lema é ‘trabalho com intensidade’”, explica a lateral-direita Bruna Calderan.

Créditos: Rodrigo Corsi/Paulistão

A jogadora de 25 anos faz parte do “pacote” vindo do Avaí/Kindermann no começo do ano. Ao lado de Duda e Julia Bianchi, Bruna disputa sua segunda final consecutiva de Brasileirão Feminino e é um dos destaques do Alviverde.

Falar em “deixar as atletas à vontade” é mais uma característica desse time de Ricardo Belli: jogadoras móveis. A própria Calderan já foi vista jogando não só pela direita, mas também no meio e até aparecendo na lateral-esquerda. “É tudo treinado. Ele fala sobre se sentir bem. Se eu vou para o meio, outra atleta vai para a lateral. Se eu apareci na esquerda, alguém me cobriu na direita e depois eu retomei minha posição de origem”, conta a atleta.

Natural de Sananduva (RS), Bruna iniciou sua carreira no futsal da cidade. Depois de dividir as quadras com meninos, sempre com o apoio da família, ela foi atuar no Iranduba, da Amazônia. “Quando eu comecei a jogar bola me olhavam meio estranho, a única menina, né. Mas depois viam que eu jogava bem e falavam ‘a Bruna é do meu time’”, brinca a jogadora. “Em Manaus foi bem difícil. Sair da minha cidade, tudo lá era diferente, muito calor, comida diferente, migrar da quadra para o campo também exigiu adaptação. Mas, foi um ano muito importante para a minha carreira”, conclui.

Neste meio tempo, a lateral serviu à seleção brasileira Sub-20, vencendo o Sul-Americano da categoria em 2015. De volta ao sul do país, a atleta aceitou o convite do Avaí/Kindermann e no clube gerido por Sr. Salézio, evoluiu taticamente e se projetou para o país.

“Eu fui me aprimorando, na seleção foi difícil jogar com atletas mais velhas. E no Kindermann a gente mantinha aquela base, chegava uma ou outra jogadora, mas a gente mantinha a base e íamos conquistando as coisas, a gente que ia construindo os bons resultados”, explica Bruna, que em seguida lamenta a situação atual do seu ex-clube (salários atrasados e possível fim do projeto) após o falecimento de Sr. Salézio pela Covid-19.

“É muito triste, a gente sabe o quanto o Sr. Salézio amava aquele clube, era tudo do jeitinho dele, só ele sabia como tocar aquele time. Eu falo com as pessoas de lá, pergunto como estão as coisas e uma frase dita por uma colega de lá me marcou muito. Ela disse: ‘Enquanto existir o time, vamos honrar essa camisa com dignidade e manter a história’”, diz a lateral.

O convite para jogar no Palmeiras chegou num momento importante da carreira de Bruna e também da história recente da modalidade no clube. Ela tinha acabado de ser eleita a melhor lateral-direita do Brasileirão Feminino 2021 como uma das principais armas ofensivas do Avaí/Kindermann, já o Alviverde queria títulos.

“Meu empresário me trouxe a conversa, a gente avaliou e depois o Alberto (Simão, diretor de futebol feminino do clube) colocou a proposta na mesa e eu aceitei. O começo foi de adaptação, cidade diferente e tal. E foi bem legal ter a Julia (Bianchi) e a Duda (Santos) por perto, elas me ajudam muito, é bem legal tê-las ao lado”, conta a jogadora.

Créditos: Thais Magalhães/CBF

Diferencial e regularidade

No Palmeiras, Bruna continuou em ascensão. Presente em 22 jogos dos 26 oficiais que o time jogou até então, ela se tornou uma das principais peças desse elenco. “Jogar no Palmeiras não é fácil, pois praticamos um jogo muito dinâmico e pensado, mas a Bruna é uma jogadora moderna, com a mente aberta, muito inteligente e que sabe interpretar muito bem os espaços em campo. Acredito que ela se adaptou muito rápido ao nosso modelo de jogo graças ao seu entendimento e suas características técnicas e físicas. Ela se encaixa muito bem ao nosso jogo de posição e, além dessa inteligência tática, a sua capacidade técnica, como a facilidade para bater na bola com os dois pés, é um fator preponderante para o nosso jogar”, explica o técnico Ricardo Belli.

“Ela constrói bem o jogo, tem facilidade para apoiar o ataque e gosta de um futebol intenso e ofensivo. Defensivamente ela tem evoluído bastante e seu jogo aéreo também é muito importante quando estamos sendo atacados ou quando temos uma bola parada defensiva ou ofensiva. Estamos bastante satisfeitos com o desempenho dela até aqui, mas acreditamos que ela ainda tem muita margem de evolução devido a sua idade e vontade de aprender”, conclui o comandante.

Por conta deste desempenho e regularidade, o nome de Bruna sempre vem à tona às vésperas de convocações para a seleção brasileira. Pia Sundhage segue testando atletas nesta posição e chegou a convocar a lateral quando ela ainda estava no Avaí/Kindermann, mas não deu outras chances. “Eu fico um pouco triste sim por não ser chamada. Mas hoje eu estou no Palmeiras, pensando no Palmeiras e quero trabalhar para colocar o clube no lugar que ele merece”, pontua a jogadora.


Prestes a tentar, mais uma vez, o título do maior campeonato nacional da modalidade, Bruna conhece bem o adversário, foi dela, inclusive, o gol do empate entre os times em 1 a 1 na sexta rodada do Brasileirão.

Independentemente de enfrentar um multicampeão, ela garante que o seu time está pronto para este momento. “O Palmeiras investiu para isso, tem todas as condições de ser campeão em tudo o que disputar. Nós somos um grupo unido, todos estão num mesmo objetivo que é levar o Palmeiras ao lugar que merece”, disse a atleta, que em seguida revelou qual foi a jogadora mais difícil de marcar – e que também estará nesta final. “Eu já joguei com muitas meninas, mas até hoje a mais difícil de marcar, sem dúvida, é a Adrianinha (Adriana, do Corinthians)”.

Entre a busca pelo título inédito, um lugar na seleção brasileira e outros prêmios individuais, Bruna projeta o seu futuro sem deixar de aproveitar o seu presente. “Quando cheguei no Palmeiras foi estranho o começo, muita gente falando comigo nas redes sociais, muitas mensagens, fiquei um pouco assustada, mas depois acostumei e acho muito legal. Queria também a torcida do Palmeiras nos apoiando nos estádios, mas sei que estamos vivendo um momento difícil, em que vidas importam mais”, afirma a jogadora

“Lá na frente quero ir para a Europa, jogar uma Olimpíada, abrir a minha própria academia, sou formada em Educação Física, sei que não dá para viver do futebol… feminino, né, porque do masculino eles abrem até um hotel se quiserem”, brinca a atleta, que finaliza relembrando um nome da modalidade que admirava quando nova e em quem hoje se inspira.

“No início de tudo eu gostava muito da Marta, adorava assistir ela jogar e queria muito ser como ela. Hoje, com a minha realidade, gosto muito da forma como o Marcelo joga”, conclui.

Créditos: Rebeca Reis e Livia Villas Boas/Staff Images Woman/CBF

Corinthians e Palmeiras entram em campo no jogo decisivo pelo título do Brasileirão Feminino 2021 neste domingo (26), às 21h, na Neo Química Arena. A partida será televisionada na Band e no SporTV, além do Tik Tok oficial do torneio e do Desimpedidos e também na Rádio BandNews FM.

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