Debate sobre agressão no Gre-Nal mostra que rivalidade superou humanidade

Foto: Reprodução

Uma mãe leva seu filho ao estádio. O menino ganha uma camisa do seu time do coração de um dos principais ídolos do clube. Os dois comemoram a lembrança que levarão daquele jogo – um clássico que terminou empatado, diga-se. Não havia quase ninguém ao redor, mas eis que surgem três torcedores que arrancam a camisa do garoto, empurram a mãe dele e dão o recado com violência: vocês não podem estar aqui.

As cenas da agressão foram repudiadas nos últimos dias. Ninguém concordou com a atitude dos torcedores colorados. Mas muitos fizeram ressalvas com relação à atitude da mãe gremista. “O que ela estava fazendo ali? Olha a situação a que expôs o filho. Faltou bom senso”.

Numa sociedade doente como a nossa, o futebol é onde se pode extravasar nossa irracionalidade. Faltou bom senso à vítima, não à agressora. No contexto irrazoável da maior paixão nacional, o absurdo é uma mãe e um filho quererem ocupar um lugar no estádio rival sem serem agredidos – ainda que estivessem no setor dos colorados -, e não o fato de eles não poderem fazer isso por questões de rivalidade.

Acompanhando a discussão sobre o acontecido em um grupo de futebol nas redes sociais, vi um pai gremista defendendo o direito da mãe em questão. “Eu também sou gremista e fui infiltrado com meu filho bebê no Beira-Rio”, ele confessou. Um torcedor colorado chegou a responder que ele foi imprudente e disse que seria “muita ingenuidade achar que existe esse nível de civilidade” entre os torcedores. A resposta do pai gremista resumiu o cerne da questão: “O errado é a violência, e não o fato de acreditar no melhor das pessoas”.

A rivalidade faz parte do futebol – mas a humanidade também deveria fazer. Você pode não concordar com um torcedor vestindo a camisa do rival no meio da torcida dona da casa. Mas não há rivalidade que possa justificar ou amenizar um ato de violência, como esse que aconteceu no Beira-Rio.

 

O futebol precisa ter limites. Ele não é um mundo paralelo onde é permitido se comportar como um animal irracional – ou ao menos não deveria ser. A gente se acostumou demais a enxergar o calor do estádio, a rivalidade, a paixão que move o futebol como justificativa para atos injustificáveis. A discussão sobre a “irresponsabilidade” da mãe ao levar o filho gremista para o jogo não deveria sequer existir. Porque a única discussão cabível aqui é o absurdo que é uma pessoa ser AGREDIDA por estar vestindo a camisa de um time rival.

“Ah, mas a gente não chegou a esse grau de civilidade”. Qual grau de civilidade? Aquele de passar por uma pessoa que veste uma camisa que você não gosta sem agredi-la? Qual é o nível de civilidade que se espera de um ser humano para sair de um estádio sem agredir um torcedor rival? Sinceramente, acho que nosso grau de exigência com a humanidade pode ser maior do que isso.

O futebol é paixão, é emoção e é isso que faz com que ele seja o maior esporte do planeta. Mas ele não pode estar acima do bem e do mal. Se o “beabá” do futebol é não levantar uma camisa de um rival no estádio do outro, o beabá da sociedade é conviver com as diferenças sem agredir ninguém por uma opinião divergente. A rivalidade não pode apagar nosso senso de humanidade.

 

 

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