O Corinthians sagrou-se bicampeão da Supercopa do Brasil sobre o Flamengo no último domingo (12/02), mas foi o “puxão de orelha” da Tamires ao adversário rubro-negro que ganhou grande repercussão. Após o término do jogo, em entrevista à TV Globo, a capitã do Timão fez críticas importantes.
“Olha o Corinthians. O Corinthians ganha título porque é isso aqui. O Duílio (presidente do clube) coloca a gente para jogar na Arena, a torcida lota estádios. Então nada do que estamos conquistando hoje é simplesmente porque a gente tem talento, é porque a gente recebe esse apoio do clube, da torcida. Vamos os clubes fazer isso pelas atletas, porque temos muito potencial e muita menina para crescer”, declarou Tamires, capitã de um clube que tornou-se uma máquina de levantar taças – são 13 títulos desde 2016, quando o Corinthians reativou o futebol feminino em parceria com o Audax após sete anos de paralisação.
Necessária demais essa fala da @tamires. Um time do tamanho do @Flamengo tem um potencial enorme no futebol feminino.
“Nada que a gente tá conquistando é simplesmente por a gente ter talento. É porque a gente recebe esse apoio também do @SCCPFutFeminino e da torcida”. pic.twitter.com/xg5m4IA0tC
— Dibradoras (@dibradoras) February 12, 2023
Tamires citou o fato de o Flamengo ter mandado a semifinal da Supercopa no Luso Brasileiro, um estádio mais distante onde as condições do gramado também não são as ideais. “Um clube com a camisa que o Flamengo tem, na minha visão, não pode mandar uma semifinal no campo que elas jogaram”.
Quando a capitã diz “olhem o Corinthians”, ela quer chamar a atenção para o trabalho feito nos últimos anos. Porque além dos títulos, o Timão fez do futebol feminino uma fonte de renda. Mas não foi do dia para noite. A primeira vez que o alvinegro levou a equipe feminina para jogar no principal estádio do clube foi em abril de 2018, na estreia do Campeonato Brasileiro daquele ano contra o São Francisco, em uma quarta-feira, diante de 3.895 pagantes – com ingresso a R$10 e R$20, que incluía também a transmissão do jogo Corinthians x Vitória, pela Copa do Brasil masculina, nos telões do estádio após a partida feminina.
A torcida ainda não estava tão engajada com o time feminino na época. Mas com o trabalho de marketing, a criação das redes sociais exclusivas para a equipe das mulheres e uma divulgação grande, o Corinthians começou a despertar a atenção da sua grande torcida para acompanhar também o futebol delas.
Em novembro de 2019, veio o primeiro recorde de público. A final do Paulistão feminino na Arena marcou a conquista do título regional após a vitória por 3 a 0 sobre o São Paulo diante de 28.862 presentes. Nesse mesmo ano, o recorde mundial de público na modalidade foi batido pelo Atlético de Madrid, que colocou 60.739 espectadores para assistirem ao clássico contra o Barcelona no Wanda Metropolitano, fato que escancarou o potencial da modalidade.
Dois anos depois, o Timão bateu o próprio recorde de maior público de clubes do futebol feminino no Brasil, novamente em uma final de Paulistão contra o São Paulo e com entradas gratuitas. Dessa vez, 30.077 torcedores acompanharam a vitória corintiana, por 3 a 1, na Neo Química Arena, que fechou o ano do clube alvinegro como tricampeão do Paulista, do Brasileiro e da Libertadores.
O Corinthians virou a grande vitrine do futebol feminino no Brasil. Assim, o clube se planejou para aumentar a arrecadação em 2022, que previa obter até R$8,87 milhões de receita bruta com o time feminino durante a temporada, sendo R$6,52 milhões com patrocínios e R$580 mil com venda de direitos de transmissão dos jogos.
Logo na abertura da temporada do ano passado, o Corinthians apostou que o engajamento construído com a torcida já era suficiente para cobrar pelos ingressos para a Supercopa Feminina (a valores de R$20 a R$40). A conquista do título sobre o Grêmio, diante de 19.547 pagantes, gerou renda de R$442.644. Isso porque a primeira edição da competição feminina nem dava premiação financeira aos finalistas.
Ao longo de 2022, o Corinthians seguiu cobrando pelos ingressos dos jogos das “Brabas do Timão” e conseguiu, ao final da temporada, uma receita de quase R$3 milhões só com bilheteria.
Neste ano, o Corinthians teve uma renda de R$612.183 na decisão contra o Flamengo, disputada na Neo Química Arena, diante de 25.554 pagantes. Além disso, ainda embolsou o prêmio de R$500 mil dado ao campeão – o vice recebeu R$300 mil.
Outros clubes seguiram o mesmo caminho
Atual detentor do recorde de público do futebol feminino de clubes na América do Sul, o Corinthians vem puxando os demais representantes brasileiros. Na final do Brasileirão de 2022, o Timão colocou 41.070 presentes (40.691 pagantes), na Neo Química Arena, gerando uma renda bruta de R$900.981. Uma semana antes, no primeiro jogo da decisão, o Internacional havia protagonizado uma festa com 36.330 torcedores no estádio Beira Rio, com a entrada mediante doação de um quilo de alimento, mostrando que está seguindo o mesmo caminho.
Assim como as Brabas, as Gurias Coloradas jogam com frequência partidas decisivas no principal estádio do clube. Foi assim na fase eliminatória do último Brasileirão e nas duas participações na Supercopa do Brasil. Os dois clubes também adotam estratégias para promover a equipe feminina, como manter uma conta nas redes sociais exclusiva e investir na divulgação das partidas.
O Palmeiras é outro que vem intensificando os investimentos desde que reativou o futebol feminino, em 2019. Após ter terminado a primeira fase do último Brasileiro na liderança, o time alviverde mobilizou a torcida para a semifinal contra o Corinthians no Allianz Parque. Foram vendidos 11.180 ingressos e o clube arrecadou uma renda de R$203.460 no jogo.
Flamengo pode mais no feminino
O Flamengo, que está entre os clubes de maior poder financeiro e que tem a maior torcida do país, ainda deixa a desejar no futebol feminino.
O clube passou a ter um projeto no futebol feminino em 2015, numa parceria com a Marinha. Em 2016, foi campeão brasileiro. No ano passado, o Flamengo fez uma reformulação no elenco e aumentou substancialmente seu investimento, oferecendo salários altos para atrair nomes de peso, como o da meio-campista Duda. O clube ainda buscou o técnico português Luís Andrade.
Mas para conseguir de fato explorar todo o potencial que tem no futebol feminino, o Flamengo precisa fazer mais do que apenas colocar dinheiro no time. Sem um plano de divulgação e marketing para engajar a torcida com a equipe delas, o clube ainda manda jogos em estádios afastados – as semifinais do Brasileiro de 2019, contra o Corinthians, foram no Estádio Kleber Andrade, em Cariacica-ES, as quartas-de-final do ano passado contra o Inter foram no Luso Brasileiro e houve outro jogo contra o Corinthians no Brasileiro que o Flamengo mandou na Gávea, onde sequer há a possibilidade de ter torcida. Na Supercopa, a semifinal foi de novo no Luso Brasileiro.
A título de comparação, o Real Brasília disputou as quartas de final do Brasileirão do ano passado, contra o Corinthians, no Mané Garrincha, estádio da Copa do Mundo. Assim como o Grêmio, que recebeu o Palmeiras na Arena que leva o nome do clube.
No caso do Flamengo, será realmente que não há condições de valorizar o time feminino que está montando com uma partida decisiva no Maracanã? Ou, ao menos, não seria possível o clube começar a fazer um trabalho real para promover o time feminino e engajar a maior torcida do país a acompanhar os jogos delas? Será que um clube com o tamanho e a relevância do Flamengo não seria capaz de colocar 20, 30, 40 ou até 50 mil pessoas num estádio para ver um jogo do feminino?
EXCLUSIVA PRO MUNDINHO FF! Arthur Elias comenta sobre o descaso da diretoria do Ceará com o futebol feminino e a forte declaração da Tamires pós jogo. pic.twitter.com/QiXpN1zayZ
— Dibradoras (@dibradoras) February 12, 2023
A crítica da Tamires foi muito pertinente. Não só para o Flamengo, mas para vários outros clubes que ainda não fazem o mínimo pelo futebol delas.
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