10ª edição do Brasileiro quebra recordes e consolida hegemonia do Corinthians

A promessa de que a 10ª edição do Campeonato Brasileiro Feminino seria histórica foi cumprida com louvor – e ressalvas. No último sábado (24), Corinthians e Internacional decidiram o título na Neo Química Arena e pela quarta vez, a terceira consecutiva, a taça ficou com o clube do Parque São Jorge.

O placar agregado de 5 a 2 para as Brabas do Timão não reflete exatamente o que foram os dois jogos da decisão. Chegando à sua primeira final de campeonato, o Internacional “vendeu caro” o primeiro lugar, sendo superior no primeiro tempo do Beira-Rio e saindo na frente em ambas as partidas.

Mas, a final foi apenas a cereja do bolo em uma edição que teve duas quebras de recorde de público, clubes comercializando ingressos, alto nível de competitividade e aumento na premiação. O torneio que começou apresentando falhas de planejamento, terminou fazendo história.

Cris Mattos / Staff Images Woman / CBF

Primeiras rodadas sem transmissão e cobertura massiva na decisão

SporTV e Band eram as emissoras oficiais das partidas do Campeonato Brasileiro Feminino 2022. Desde o início, as duas detentoras dos direitos dividiriam jogos por rodada, e com isso, tantos outros não seriam transmitidos.

Antes das emissoras entrarem na disputa pela exibição do futebol feminino na TV, a plataforma digital Eleven (que atuava como MyCujoo) era a responsável pela transmissão dos jogos desde 2015. No entanto, para 2022 o contrato com a CBF emperrou, e o campeonato começou.

Foi apenas a partir da sétima rodada que a empresa e a Confederação Brasileira chegaram a um acordo. Além desta temporada, pelos próximos dois anos (2023 e 2024) haverá transmissão gratuita de todas as séries do Brasileirão de futebol feminino.

A cobertura da grande final foi digna do clima criado. O SporTV levou equipe para o Beira-Rio e na volta fez um intenso e prolongado pré-jogo. A Band também esteve presente na Neo Química Arena para a transmissão e outras grandes mídias (como Rádio Bandeirantes, BandNews FM e ESPN) também levaram suas equipes.

Foi massiva a presença da imprensa em Itaquera. Ao todo, 379 profissionais, e claro que dentro deste número esteve a mídia independente, tão importante na construção do que hoje colhemos de fruto com a modalidade.

Volta do público e quebra de recordes

Pensar em como atrair o torcedor para prestigiar o futebol de mulheres também passou a fazer parte do dia a dia dos clubes.

O Palmeiras passou a mandar seus jogos no Allianz Parque e a colocar à venda os ingressos. No jogo que abriu a competição, 1200 torcedores viram as Palestrinas vencerem o Atlético-MG por 2×1. O salto foi gigantesco quando no jogo da volta das semis, na derrota por 4 a 0 para o Corinthians, 11.450 pessoas (e renda de R$ 203.460,00) estiveram presentes estabelecendo o atual recorde do estádio com o futebol delas.

Ainda no mata-mata, Grêmio, Real Brasília e São Paulo também mandaram seus jogos nos grandes estádios: Arena Grêmio, Mané Garrincha e Morumbi. Dos oito clubes classificados para as quartas, apenas o Flamengo não levou seu jogo para “casa” (enfrentou o Inter no Luso Brasileiro).

As finais prometiam lindos espetáculos, e assim foi. Em sete dias o recorde nacional foi quebrado por duas vezes: primeiro no Beira-Rio (#GiganteDasGurias), com 36.330 torcedores e 27 toneladas de alimentos adquiridos (no esquema de troca de ingressos, sendo o maior montante já arrecadado pelo Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul). Segundo na Neo-Química Arena (#InvasãoPorElas), uma renda de quase R$ 1 milhão (R$ 900.981,00) para 41.070 presentes (recorde sul-americano, inclusive).

“Condiz com a 10ª edição. Vem para coroar esse momento do futebol feminino. Agora se alguém ainda não acreditava no potencial, tá aí, recordes de público sendo batidos em menos de sete dias. Vai ser ainda melhor nos próximos anos”, avaliou Aline Pellegrino, gerente de competições da CBF.

Investimentos, competitividade e finalista inédito

(Foto: Cris Mattos / Staff Images Woman / CBF)

A expectativa a cada início de temporada é para ver qual time terá forças para bater de frente com o Corinthians. Além disso, como será composto o G8, teremos novidades? Serão novamente os mesmos? O próprio mercado de transferências que antecedeu o campeonato criou expectativas.

Com o retorno de Bia Zaneratto e outras contratações pontuais o Palmeiras deu pinta de que viria com força máxima antes mesmo do torneio começar. Dito e feito: teve a melhor campanha, venceu pela primeira vez desde que retomou a modalidade o clássico contra o Corinthians (2×0 na 11ª rodada) e avançou para o mata-mata na liderança, com 12 vitórias, um empate e duas derrotas, além do melhor ataque com 45 gols marcados (e 13 sofridos).

São Paulo e Internacional também seguiram uma excelente regularidade, 2º (11 vitórias) e 3º (dez vitórias) lugar, respectivamente, ambos com apenas duas derrotas cada. Eles foram seguidos pelo Corinthians, que enfrentou muitas lesões ao longo da primeira fase e se deparou com uma realidade até então não experimentada no torneio: venceu apenas um clássico de quatro que disputou (contra o Santos, 2 a 1 na 4ª rodada) – perdeu 2×0 para o Palmeiras e empatou 2×2 com a Ferroviária e 1×1 com o São Paulo.

O Real Brasília, quinto colocado, ficou à frente de times como Santos (a grande decepção do torneio, 9º colocado e ficou de fora do mata-mata pela primeira vez em cinco anos), Flamengo e Ferroviária. Inclusive, o time da Gávea estava devendo uma melhor campanha, afinal, não avançava da primeira fase do Brasileiro Feminino desde 2019.

Créditos: Eduardo Ronque/ASCOM Real Brasília

Quando os times se cruzaram nas quartas de final ficou ainda mais evidente o bom e visionário trabalho do Internacional. Mesclando grandes talentos, como Duda Sampaio, juventude, como as atletas da base, e experiência, como a dupla de zaga Sorriso e Bruna Benites e a atacante Fabi Simões, o time comandando por Maurício Salgado foi à final de maneira inédita – o primeiro time gaúcho a conseguir isso (e consequentemente garantir vaga na Libertadores do ano que vem).

Aumento da premiação

(Foto: Thais Magalhães/CBF)

O torneio nacional finalizava a 13ª rodada quando a Federação Paulista de Futebol divulgou a maior premiação da história na modalidade. Faltando dois meses para o início do estadual, a FPF informou que o prêmio para o campeão seria de R$ 1 milhão e o vice ficaria com R$ 500 mil. Ao todo seriam distribuídos para os 12 clubes participantes R$ 2,6 milhões (aumento de 1757% em relação à edição de 2021).

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A pressão em cima da CBF, que já era grande, para o valor do Brasileirão Feminino ser reajustado (não tinha reajuste há quatro anos), ficou ainda maior. A notícia veio, bem em cima da hora, mas veio.

Faltando três dias para a grande decisão, a entidade máxima do futebol brasileiro anunciou R$ 5 milhões distribuídos para os 16 clubes participantes e valores iguais aos da FPF para o campeão e o vice (R$ 1 milhão e R$ 500 mil, respectivamente). Números cinco vezes maiores que os do ano passado.

“Para o ano que vem o presidente já falou que vai aumentar”, garantiu Aline Pellegrino.

Hegemonia corintiana

Se teve uma temporada que parecia que algum clube poderia quebrar a hegemonia do Corinthians, foi essa. O empate em 1 a 1 com o Atlético-MG na segunda rodada do torneio já soou estranho.

Naquela altura, o time contava com 11 desfalques, incluindo Gabi Portilho, Gabi Zanotti, Adriana e Jheniffer. Sem tempo para recuperar as atletas e, pior, adicionando novas ao DM, veio a derrota para o Palmeiras na 11ª rodada e a disparada do rival na liderança.

Os resultados continuaram acontecendo, não houve novas derrotas – apenas empates, como o 1 a 1 para o próprio Internacional, na Fazendinha – e, enfim, o mata-mata com o quarto lugar garantido.

Ninguém duvidava do potencial desse time. Com o 3×0 no agregado diante do Real Brasília nas quartas e o 6×1 nas semis contra o Palmeiras, lá estava mais uma vez o Corinthians finalista, pela sexta vez seguida.

Nem o primeiro tempo arrasador do Internacional no Beira-Rio, nem o jogo no sacrifício de Gabi Zanotti (que ainda este ano deve operar o tornozelo esquerdo) seguraram a máquina de conquistas que é este time do Corinthians.

“Foi desafiador, uma temporada com muitos problemas de lesão, aceleramos processos com algumas atletas, mas elas acabaram ganhando casca, amadurecendo. Foi importante para chegarmos confiantes no mata-mata. Conseguimos relacionar 23 jogadoras, quem diria, já que trabalhei boa parte da temporada com 15 de linha nos treinos, por lesões ou convocações”, disse Arthur Elias após a conquista.

Arthur, sua comissão e o clube (que tem Cris Gambaré, a primeira diretora mulher da história do Corinthians, por trás de todo o planejamento) chegaram ao 12º troféu em 282 jogos, 221 vitórias, 40 empates, 21 derrotas, 854 gols marcados e 169 gols sofridos.

Será que vem mais por aí? Ainda resta Campeonato Paulista (situação difícil por ter priorizado o Brasileirão) e a Libertadores, que começa dia 13 de outubro. Do Brasileirão Feminino a gente se despede já ansiosas pelo que vem pela frente!

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