Primeiro teste do ano: She Believes é termômetro para a renovada seleção na Copa

São muitas as expectativas para a primeira atuação da seleção brasileira feminina em 2023, afinal a equipe jogará a Copa do Mundo na Austrália e Nova Zelândia em menos de seis meses. E o desafio não poderia ser melhor.

A She Believes Cup é organizada anualmente pela Federação de Futebol dos Estados Unidos desde 2016 e ganhou grande prestígio por reunir equipes bem ranqueadas pela Fifa, além da presença da própria seleção americana, que é tetracampeã mundial. Neste ano, Brasil, Canadá e Japão – todos classificados para a Copa – também disputam a taça do quadrangular, de 16 a 22 de fevereiro, com transmissão de todos os jogos pelo SporTV. 

Além de ter a oportunidade de enfrentar seleções consideradas “cascudas” e de escolas de futebol diferentes, a renovada equipe brasileira poderá usar a She Believes para avaliar pontos cruciais na preparação para a Copa do Mundo. O primeiro deles é a condição física e a adaptação tática da Marta, que voltará aos gramados após dez meses de recuperação por ter rompido o ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho esquerdo. Marta sequer voltou a atuar em um jogo oficial com o clube Orlando Pride. Mas os treinos dela com bola na seleção são animadores e a expectativa é de vê-la em campo com a amarelinha. 

“Fico tão feliz pela forma como a Marta se apresenta dentro e fora do campo. É como uma injeção de energia para nós. Ela está ótima, fez todos os treinos com a gente e é aquela velha Marta, no melhor dos sentidos: traz a experiência e também aquele passe final. Queria poder contar com ela todos os minutos, mas não podemos, porque não voltou a jogar ainda. Então nós veremos a Marta atuando por alguns minutos, espero ver como ela vai se sair diante dos três adversários”, comentou a técnica Pia Sundhage, em coletiva de imprensa.

Foto: Thais Magalhães/CBF

Se por um lado a Pia tem muito a comemorar pelo retorno da Marta, por outro tem de resolver os muitos problemas que surgiram em decorrência de outras lesões. Antônia, que parecia ser a solução ideal para a lateral direita da seleção, sofreu uma lesão no joelho direito justamente em um jogo do Brasil contra o Canadá, em novembro. A jogadora passou por cirurgia em 13 de janeiro e tem previsão de voltar a competir no fim de março

A dona da lateral direita na She Believes provavelmente será a jovem Bruninha. Já a zagueira Kathellen deve ser a aposta da Pia como opção para ser a substituta do setor. Isso porque a treinadora não levou Fê Palermo para a competição. Ela atua pelo São Paulo na direita e na seleção também foi testada na lateral esquerda, onde parecia estar convencendo. Nesse lado do campo, a treinadora segue atrás de uma peça para ser a substituta da Tamires. Por isso, Yasmim é uma das surpresas da seleção. A jogadora do Corinthians havia sido convocada apenas uma vez pela Pia, em setembro de 2021, até ter uma nova oportunidade agora. 

Na linha de defesa, três nomes são tidos como certos para a Copa do Mundo: as zagueiras Rafaelle e Tainara e a lateral Tamires. As jovens defensoras Lauren e Tarciane correm por fora por uma vaga no Mundial e fazem parte de um plano de futuro da seleção. E Antônia tem muito crédito com a Pia, mas dificilmente terá condições de retornar a tempo.

Outro setor que abriu oportunidades novas nesta reta final de preparação para a Copa do Mundo é o meio-campo – o “coração do time”, como a Pia gosta de chamar. Desde o começo do trabalho à frente da equipe brasileira, em 2019, a técnica sueca busca opções de duplas que funcionem bem. Quando Angelina e a Ary Borges pareciam ser a solução, Angelina sofreu uma lesão grave. Depois, foi a Duda Sampaio que conseguiu um bom entrosamento com a Ary, mas também se machucou. As duas seguem em recuperação. 

Foto: Thais Magalhães/CBF

Pia vem fazendo malabarismo para achar essa dupla ideal. Na última Data Fifa, contra o Canadá, foi a vez de testar Kerolin em uma nova função. A treinadora recuou a atacante para jogar ao lado da Ary no meio campo. “A forma como a Kerolin jogou com a Ary no primeiro tempo foi interessante. Acho que podíamos ter segurado a bola um pouco mais para a Tamires e Fernanda participarem mais. Precisávamos de um pouco mais de pressão. Mas foi um bom jogo”, avaliou a treinadora, na ocasião. 

Diante do desafio imposto pelas várias lesões, Pia abriu novas oportunidades também no meio campo, provavelmente o setor com menos vagas definidas para a Copa do Mundo. Depois de mais de um ano fora das convocações, Júlia Bianchi voltou a figurar na lista da seleção. A nova volante do Chicago Red Stars, dos EUA, treinou ao lado de Kerolin na véspera da estreia do Brasil contra o Japão na She Believes. 

“Vamos mudar algumas coisas na equipe e uma das razões é porque precisamos de algumas respostas. Vamos ver, por exemplo, como a Júlia Bianchi atuará ao lado da Kerolin e das outras jogadoras próximas a ela e se ajustará um pouco o seu estilo de jogo. Veremos se ela é uma das peças desse quebra-cabeça. Temos algumas opções no meio-campo e talvez ela seja uma delas”, explicou Pia.

 

Estreia contra um Japão organizado

Primeiro adversário do Brasil, o Japão gosta de ficar com a bola, por contar com um elenco habilidoso, de troca de passes e de boa finalização. É uma equipe com um bom meio de campo e que promete dar trabalho pressionando as saídas de bola. “Nós preparamos o time para enfrentar um Japão muito organizado. Vai ser muito importante jogar mais rápido. Não apenas isso, precisaremos ter um bom posicionamento no ataque. Vamos ter que ‘desafiar a linha’, não apenas a linha de defesa como a do meio campo”, comentou a técnica Pia Sundhage.

O assunto principal dos três primeiros dias de treinamento foi o ataque, segundo a treinadora. Na véspera da estreia, porém, foi a vez de falar sobre a defesa. “O Japão gosta de jogar com a posse da bola. Por isso, é muito importante ter organização e também paciência”, explicou Pia. 

Na 11ª posição do ranking da Fifa, a seleção japonesa também disputou 6 amistosos no ano passado, terminando com 4 vitórias e 2 derrotas (para Espanha e Inglaterra). Mas o Japão da técnica Asako Takakura, no cargo desde 2016, não conseguiu defender o bicampeonato na Copa da Ásia. A campanha japonesa na principal competição disputada em 2022 teve 3 vitórias e 2 empates, sendo eliminado nas semifinais, nos pênaltis, pela China.


EUA: longe do auge, mas sempre favorito

Primeiro colocado no ranking da Fifa desde 2017, os Estados Unidos vão em busca do sexto título na She Believes cheio de status, mas longe da melhor fase. Após a conquista das duas últimas edições da Copa do Mundo (2015 e 2019), a técnica Jill Ellis deixou o comando da seleção americana. Vlatko Andonovski assumiu o comando da seleção e teve um ótimo começo de trabalho: somou 22 vitórias e um empate nos primeiros 23 jogos. Mas a situação mudou nos Jogos Olímpicos de Tóquio, disputados em julho de 2021. 

Favoritíssimas a mais um ouro olímpico, as americanas estrearam em Tóquio sofrendo uma derrota por 3 a 0 para a Suécia e terminaram a primeira fase com um empate com a Austrália. No fim, fecharam as Olimpíadas com uma medalha de bronze, que desceu amarga para a seleção mais vitoriosa do futebol feminino. Andonovski manteve-se no cargo e acelerou a desafiadora renovação de um elenco recheado de campeãs mundiais com mais de 30 anos

No último ano, os Estados Unidos disputaram 18 jogos, sendo 14 vitórias, 3 derrotas (em amistosos contra Alemanha, Espanha e Inglaterra) e 1 empate (com a República Tcheca, na She Believes de 2022). Dentre as vitórias, estão inclusas as cinco que renderam o título de forma invicta do Campeonato da Concacaf, em que venceram o Canadá, por 1 a 0, na final. Apesar das oscilações condizentes com a transição entre gerações, as americanas são sempre fortes mentalmente para crescerem em grandes competições, como a Copa do Mundo. E a She Believes é uma preparação importante nesse processo.

 

Canadá, o adversário mais conhecido do Brasil

De todos os participantes da She Believes, o que o Brasil mais conhece é o Canadá, 6º do ranking. As duas seleções se enfrentaram na última Data Fifa, em novembro do ano passado, em dois jogos amistosos que terminaram com uma vitória para cada lado. Em 2021, foram três confrontos, sendo um deles válido pelas quartas de finais das Olimpíadas – as canadenses levaram a melhor, ao eliminarem as brasileiras nos pênaltis

Atual campeã olímpica, o Canadá mantém o bom trabalho da técnica Bev Priestman, no comando da equipe desde outubro de 2020. Na contramão do sucesso que estão trilhando, porém, as jogadoras da seleção canadense criticaram os “cortes substanciais” no orçamento da preparação para a Copa do Mundo a menos de seis meses da competição, em uma carta aberta publicada nas redes sociais na semana passada.

“Apesar do nosso caminho de sucesso e conquistas históricas por mais de uma década, continuam nos dizendo que não há dinheiro suficiente para custear adequadamente nossa preparação e nossas equipes de base”, diz um trecho da carta.

As jogadoras canadenses ameaçaram entrar em greve e chegaram a não treinar um dia na preparação para a She Believes para pressionar a confederação a dar respostas a essa situação. Mas elas decidirem atuar na competição sediada nos Estados Unidos pelo medo de serem processadas. A associação de jogadores da seleção canadense masculina usou as redes sociais para declarar apoio às jogadoras contra a atual direção da Canada Soccer.

 

Veja a programação da She Believes 2023

A 8ª edição da SheBelieves Cup será disputada em três cidades dos Estados Unidos, entre 16 e 22 de fevereiro, em que as quatro seleções se enfrentam e aquela que somar mais pontos é coroada campeã. Todos os jogos serão transmitidos pelo SporTV. 

1ª RODADA – 16 de fevereiro (quinta-feira)
Local: Orlando, Flórida (Estados Unidos)

  • 18h – Brasil x Japão
  • 21h – Estados Unidos x Canadá

2ª RODADA – 19 de fevereiro (domingo)
Local: Nashville, Tennessee (Estados Unidos)

  • 17h30 – Estados Unidos x Japão
  • 20h30 – Canadá x Brasil

3ª RODADA – 22 de fevereiro (quarta-feira)
Local: Frisco, Texas (Estados Unidos)

  • 18h – Canadá x Japão
  • 20h30 – Brasil x Estados Unidos

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