Ferroviária investe no protagonismo feminino e na base para se manter no topo

Foto: Jonatan Dutra/Ferroviária SAF

Jéssica de Lima chegou à final do Campeonato Brasileiro Feminino após apenas um ano de trabalho no comando da Ferroviária – e apenas um ano à frente de uma equipe profissional -, sendo a terceira treinadora mulher a chegar na decisão nacional. Em 2019, Tatiele Silveira foi campeã brasileira com a Ferroviária, entrando para a história como a primeira técnica a conquistar o título – em cima do poderoso Corinthians. Em 2015, Emily Lima foi vice-campeã brasileira à frente do São José, que perdeu a disputa da taça para o Rio Preto. 

Tradicionalmente a Ferroviária tem sido o time a abrir espaço para mulheres exercerem o cargo de treinadora da equipe principal. Tanto que elas têm feito história no comando da Ferrinha. Além de Tatiele e Jéssica no Brasileirão, Lindsay Camila foi a primeira técnica mulher a conquistar a Libertadores, em 2020/21, também com a Ferroviária. 

“A liberdade, segurança e confiança que a Ferroviária dá para nós, mulheres, faz com que a gente se sinta respeitada desde o começo. Chegar em um lugar em que ser treinadora mulher é normal, e tem que ser, é uma tranquilidade absurda”, comentou Jéssica, que tem contrato com o clube de Araraquara até 2026. 

“E isso não é só para a treinadora, mas também para a parte técnica, com a preparadora física, auxiliar técnica, preparadora de goleiras… Passamos uma mensagem para o Brasil que a mulher pode fazer o que quiser e pronto”, completou. A comissão técnica da Ferroviária é composta pela assistente técnica Andreia Rosa, a médica Ana Carolina dos Santos Dinucci, a treinadora de goleiras Vanessa Cristina Cataneo, a preparadora física Raquel Ferreira Viana e a fisioterapeuta Ariane Patricia Falavinia dos Santos.

Ex-jogadora do Rio Preto, Jéssica de Lima começou a carreira com a prancheta à beira do campo como auxiliar de Jonas Urias na seleção brasileira sub-20, em que conquistou o bronze na Copa do Mundo da categoria em 2022. Neste ano, ela correspondeu à primeira oportunidade de comandar um clube nacional e atingiu o objetivo de fazer com que a Ferroviária voltasse a figurar entre os protagonistas após ser eliminado pelo São Paulo nas quartas de final do Brasileiro do ano passado. 

“A Ferroviária é um time muito grande no futebol feminino e tenho jogadoras com muito caráter, muito brio e fantásticas como seres humanos, porque não é fácil encarar um time desse diante de mais de 40 mil pessoas”, disse Jéssica de Lima, sobre a conduta da sua equipe no segundo jogo da final contra o Corinthians, na Neo Química Arena, em Itaquera, na capital paulista.

Jéssica defendenndo o Rio Preto (Foto: Leo Roveroni-Assessiva Comunicação)

A treinadora contou que a mensagem que passou para as jogadoras naquele dia de decisão foi de gratidão, independentemente se a maioria da torcida que bateu o novo recorde de público em um jogo feminino entre clubes era do adversário. “Falei para as jogadoras se sentirem gratas, porque hoje existem mais de 40 mil pessoas que pagam para vê-las jogando, diferente da minha época em que eu era xingada simplesmente por estar dentro do campo”, disse Jéssica.

Outra prova de como o futebol vem mudando para ser um ambiente mais seguro e acessível às mulheres é a presença da pequena Luísa, filha da treinadora Jéssica de Lima, . A pequena Lulu, de 1 ano e 1 mês, é figura frequente na rotina de trabalho da mãe e costuma roubar a cena com tanta fofura. Na final do Brasileiro não foi diferente. Vestida com a camisa 10 da Ferroviária, ela entrou no campo no colo das jogadoras, acompanhou a mãe nas várias entrevistas antes e depois dos jogos e também mostrou que já gosta de brincar com uma bola de futebol. “A naturalidade com que minha filha brinca com a bola, era a naturalidade que eu queria ter quando criança”, comemora a treinadora.

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Ferroviária colhe frutos de investimento na base

Além de tradição no futebol feminino, a Ferroviária alimenta o time principal com atletas formadas no próprio clube, que tem categoria de base desde a sub-12. A atacante Aline Gomes é atualmente o principal fruto desse trabalho. Ao todo, a Ferroviária chegou à final do Brasileiro com nove jogadoras formadas na base do time.

Foto: Tiago Pavini/Ferroviária SAF

“Estou muito feliz. Tem dois anos que estou no profissional e toda essa evolução que eu venho apresentando tem muito dos profissionais que trabalharam e trabalham comigo até hoje. Sou muito grata a eles por poder aprender sempre um pouquinho mais”, comentou a Aline Gomes. Ela terminou o Brasileirão como artilheira da Ferroviária, com 10 gols. 

A Ferroviária ainda tem formulado contratos mais longos, para poder usufruir do investimento na formação e lapidação das jogadoras, assim como captar recursos em uma possível venda. Aline Gomes, por exemplo, tem vínculo com a Ferrinha até 2025. 

“A Ferroviária é um clube que eu amo muito, é o meu primeiro clube e pretendo ficar até 2025 e, mais pra frente, ver se renova ou não. Mas estou muito feliz por ter jogado a minha primeira final de Brasileiro, feliz também por ter feito parte do novo recorde de público do futebol feminino. É sempre bom exaltar o tanto que a modalidade está crescendo. Com certeza, não encerramos da forma como queríamos, mas estamos muito orgulhosas da temporada que fizemos até aqui e ainda temos o Paulista”, comentou Aline. 

Considerada uma jóia da equipe, Aline chegou na Ferroviária em 2019, após uma seletiva, e acabou se destacando na base em 2020. Já na primeira participação em competição oficial, Aline Gomes ajudou a Locomotiva a chegar à final do Paulistão Sub-17 de 2020, terminando com o vice-campeonato diante do Santos. Em 2021, com menos de 16 anos, ela estreou com o time profissional no Brasileirão. Em 2022, ela foi um dos destaques da seleção brasileira no Mundial sub-17 e sub-20. 

Neste ano, Aline Gomes chegou à seleção principal aos 17 anos e 9 meses e foi para a Copa do Mundo como suplente do elenco convocado por Pia Sundhage. A caçulinha do elenco brasileiro, inclusive, completou 18 anos na Austrália durante a preparação brasileira para o Mundial. Atuando pelo clube, ela foi um dos destaques do Campeonato Brasileiro e ainda disputou sua primeira final nacional.

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