Se Sarina Wiegman vencer Jorge Vilda, maioria das Copas terá campeãs treinadas por mulheres

Foto: Reuters/Jaimi Joy

Aos 53 anos, Sarina Wiegman é a primeira treinadora a chegar à segunda final de Copa do Mundo seguida no comando de duas seleções diferentes. A holandesa é uma das armas da Inglaterra para a decisão contra a Espanha que renderá um campeão inédito no domingo (20), a partir das 7h (de Brasília). Quatro anos atrás, ela viveu a mesma sensação com a seleção da Holanda, que acabou como vice-campeã diante dos Estados Unidos. 

A seleção norte-americana, por sua vez, tinha Jill Ellis como técnica em 2019. Essa, sim, deve saber perfeitamente o que Sarina está sentindo, afinal Ellis foi a primeira treinadora a sagrar-se bicampeã mundial, à frente da equipe estadunidense. E isso ainda aconteceu em uma final de Copa do Mundo decidida entre duas seleções comandadas por mulheres – o que também já tinha ocorrido na decisão de 2003, disputada entre a Alemanha, da técnica Tina Theune, e a Suécia, da Marika Domanski-Lyfors.

Elas ainda são minorias entre os treinadores de futebol que chegam ao Mundial. Tanto a atual Copa do Mundo feminina, quanto a edição anterior começaram com 37% das seleções sendo comandadas por treinadoras (elas foram nove entre as 24 equipes no torneio de 2019; e 12 entre as 32 seleções participantes neste ano). Agora, na final, Sarina Wiegman faz a porcentagem subir para 50%, já que a Espanha é comandada por Jorge Vilda.

E tem mais! Se Sarina levar a Inglaterra ao título, ela ainda fará com que a maioria das Copas femininas sejam vencidas por treinadoras. Das oito edições disputadas até o momento, quatro foram conquistadas por seleções comandadas por mulheres e outras quatro por técnicos homens. Sarina Wiegman, pela Inglaterra, ou Jorge Vilda, pela Espanha, será o desempate.

Se as inglesas levarem a melhor, Sarina se juntará ao seleto grupo de treinadoras campeãs mundiais formado por Tina Theune, que venceu com a Alemanha em 2003; por Silvia Neid, que levou a Alemanha à conquista do bicampeonato mundial em 2007; além de Jill Ellis, que foi campeã com Estados Unidos por duas edições seguidas, em 2015 e 2019. 

Já entre os homens, os treinadores que levantaram a taça foram Anson Dorrance com os Estados Unidos em 1991, Even Pellerud com a Noruega em 1995, Tony DiCicco com os Estados Unidos em 1999 e Norio Sasaki com o Japão em 2011.

Mulheres são 42% da delegação inglesa, e 21% na espanhola

Para além da representatividade no cargo de maior liderança à frente das equipes, é importante se atentar para dentro das comissões técnicas: 42% da delegação inglesa é formada por mulheres. Dos 31 integrantes, 13 são representantes femininas, como a diretora técnica do futebol feminino, Sue Campbell. Elas também ocupam cargos de fisioterapeutas, psicóloga, nutricionista, segurança e mídia – além, obviamente, da treinadora.

No lado da Espanha, o dono do posto de treinador ocupado por Jorge Vilda foi um dos pontos de insatisfação do motim de boa parte das jogadoras da seleção principal. Em setembro do ano passado, 15 atletas mandaram e-mail para a federação reivindicando mudanças na comissão técnica por estarem insatisfeitas com a metodologia de trabalho de Vilda e por questões relacionadas ao preparo físico das atletas, que elas consideravam abaixo do ideal. A federação espanhola foi irredutível e tornou pública a demanda das jogadoras numa resposta em que reiteravam a confiança no trabalho de Vilda e sua comissão. Aitana Bonmatí e Alexia Putellas deram o braço a torcer e representaram o país na seleção. Já Patri Guijarro e Mapi León sequer foram convocadas.

Na seleção espanhola, o técnico Jorge Vilda ao lado da assistente técnica Montse Tomé | Foto: Rfef

Em meio a tantas turbulências expostas desde setembro de 2022, Jorge Vilda lidera uma comissão técnica composta por 21% de mulheres na seleção espanhola. Uma delas é a Montse Tomé, sua assistente técnica que também já trabalhou com as seleções sub-23, sub-17 e sub-15 da Espanha. Ao todo, elas são sete entre os 34 profissionais da delegação e também ocupam os cargos de preparadora física, fisioterapeuta, diretora, chefe de delegação, chefe de imprensa e redatora.

Sarina Wiegman, a colecionadora de títulos grandes

Em 2019, a Holanda de Sarina foi uma das sensações do torneio por ter chegado até a final, competitividade que a equipe já havia mostrado com a conquista da Eurocopa em 2017. Apesar da conquista continental anterior, as holandesas não eram tidas como favoritas naquela final diante dos Estados Unidos, que confirmaram o título.

Depois de ser eliminada com a Holanda nas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, Sarina assumiu a seleção feminina inglesa. Em dois anos no cargo, a treinadora levou a Inglaterra para a conquista da Eurocopa de 2022 e da Finalíssima de 2023, competição na qual as inglesas derrotaram o Brasil nos pênaltis após empate em 1 x 1.

Desta vez, a seleção comandada por Sarina chegou na Copa como uma das grandes favoritas em função do forte elenco e do título da Eurocopa um ano antes, que rendeu à Sarina o terceiro prêmio da FIFA de melhor técnica do mundo do futebol feminino. Mas os problemas começaram antes mesmo do Mundial, com os desfalques de Beth Mead, artilheira da Euro com seis gols, por uma lesão no joelho, a capitã Leah Williamson, com lesão ligamentar, e Fran Kirby, também por razões de ordem médica.

Durante a Copa, Sarina também teve que se virar para adaptar o time à ausência de Keira Walsh no jogo contra a China por causa de um problema no joelho e, depois, da atacante Lauren James, suspensa das quartas e semifinais por um pisão intencional que deu na nigeriana Michelle Alozie nas oitavas. Mas a treinadora mostrou eficiência e viu a Inglaterra crescer na reta final da competição. Após ter garantido a classificação diante da Nigéria apenas na decisão de pênaltis, conseguiu se impor diante da Colômbia e da Austrália para chegar até a final.

Diante dos resultados que Sarina Wiegman vem alcançando e da visibilidade que o futebol feminino e a Copa do Mundo da modalidade ganharam, o nome dela começou a circular também como possibilidade de assumir a seleção inglesa masculina, segundo a imprensa britânica.

Técnicos e técnicas finalistas da Copa feminina

Copa do Mundo Feminina 2019 
– Campeã: Jill Ellis (Estados Unidos)
– Vice-campeã: Sarina Wiegman (Países Baixos)

Copa do Mundo Feminina 2015 
– Campeã: Jill Ellis (Estados Unidos)
– Vice-campeão: Norio Sasaki (Japão)

Copa do Mundo Feminina 2011 
– Campeão: Norio Sasaki (Japão)
– Vice-campeã: Pia Sundhage (Estados Unidos)

Copa do Mundo Feminina 2007
– Campeã: Silvia Neid (Alemanha)
– Vice-campeão: Jorge Barcellos (Brasil)

Copa do Mundo Feminina 2003 
– Campeã: Tina Theune (Alemanha)
– Vice-campeã: Marika Domanski-Lyfors (Suécia)

Copa do Mundo Feminina 1999 
– Campeão: Tony DiCicco (Estados Unidos)
– Vice-campeão: Ma Yuanan (República Popular da China)

Copa do Mundo Feminina 1995 
– Campeão: Even Pellerud (Noruega)
– Vice-campeão: Gero Bisanz (Alemanha)

Copa do Mundo Feminina 1991 
– Campeão: Anson Dorrance (Estados Unidos)
– Vice-campeão: Even Pellerud (Noruega)

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