Convocação para Copa da Austrália é a mais vista e debatida da seleção feminina

Independentemente dos questionamentos sobre os nomes escolhidos pela técnica Pia Sundhage, o anúncio das 23 jogadoras e 3 suplentes da seleção brasileira feminina de futebol que vão disputar a Copa do Mundo da Austrália e da Nova Zelândia foi uma mostra importante do alcance de visibilidade que o futebol feminino tem vivido no país. A convocação realizada na última terça-feira (27) foi a primeira da seleção feminina transmitida pela TV Globo e contou também com exibição ao vivo de canais fechados, como Sportv e ESPN, além de plataformas online, como a Cazé TV e a própria CBF TV.

Mas a cobertura sobre o evento começou bem antes na mídia brasileira. Portais de notícia, jornais e programas televisivos anunciaram a convocação da seleção feminina com projeções de quais nomes poderiam surgir na lista e as expectativas sobre o Brasil na Copa. O Grupo Globo, que vai transmitir o Mundial feminino na TV aberta e fechada, começou a noticiar o assunto desde o início da manhã, com a repórter Débora Gares ao vivo da sede da CBF no programa “Bom Dia Brasil”, da TV Globo. O mesmo aconteceu nos programas esportivos do Sportv. Na internet, as análises com especialistas começaram uma hora antes do início da convocação em uma live no ge.

A presença massiva da imprensa na sede da CBF, no Rio de Janeiro, para a cobertura da convocação também foi sintomática do crescimento que a modalidade vem tendo no país. Segundo a CBF, 110 jornalistas foram credenciados para o evento. O auditório estava absolutamente lotado! E contou com muitas equipes fazendo transmissão ao vivo direto do local, algumas delas enviadas de outras cidades. A lista impressa com as atletas convocadas não foi suficiente para todos os profissionais da imprensa que estiveram presentes – faltou folha pra dar conta de tantos jornalistas.

A própria coletiva de imprensa durou uma hora. “Nosso recorde”, segundo informou Laura Zago, assessora de imprensa da seleção feminina que fez a apresentação do evento, no encerramento. Ainda assim, porque a organização limitou o tempo para as perguntas.

As notícias e repercussões após o anúncio também tiveram maior espaço e destaque nas diversas mídias do país. Os programas esportivos dedicaram mais de uma hora para debater as escolhas da técnica Pia Sundhage. E o assunto girou em torno de critérios técnicos e informações para contextualizar o momento que vive a seleção feminina e os profissionais envolvidos com ela.

Até outro dia, quando víamos representantes de grandes veículos em convocações da seleção feminina, muitas vezes as perguntas se resumiam a falar sobre Marta. Na terça-feira, foi diferente. As polêmicas da lista foram abordadas, as ausências foram questionadas e percebia-se que, quem estava lá, de fato estava acompanhando com mais afinco o que acontece na equipe comandada por Pia Sundhage.

Uma mudança que pode parecer sutil, mas é gigantesca: hoje se debate a seleção feminina de futebol! Com maior visibilidade, mais informações e questionamentos, as cobranças por melhorias ganham maior respaldo.

Segunda convocação para Copa com coletiva

Essa é apenas a segunda vez que uma convocação da seleção feminina para a Copa do Mundo conta com anúncio na sede da CBF em evento com a presença da treinadora e coletiva de imprensa. A primeira foi há quatro anos, quando Vadão e Marco Aurélio Cunha, então técnico e diretor de futebol feminino na entidade, fizeram o anúncio das selecionadas para a Copa de 2019 a um auditório cheio de jornalistas. Em 2015, porém, a lista das atletas que representaram o Brasil no Mundial do Canadá foi apenas publicada no site da CBF, sem qualquer coletiva de imprensa com o treinador, que na ocasião também era o Vadão.

Em 2023, a composição da mesa com os representantes da CBF para a convocação também mudou. Agora, mulheres estiveram na mesa pela primeira vez e em posição de protagonismo por meio da Pia Sundhage, primeira técnica que comandará o Brasil em uma Copa do Mundo, e da Ana Lorena Marché, gerente de Seleções Femininas. Também esteve presente na mesa o Dr. Jorge Pagura, do Departamento Médico, e as apresentações foram feitas por Laura Zago, assessora de imprensa da seleção feminina. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, diretores e colaboradores da CBF acompanharam o anúncio das primeiras fileiras de cadeiras do auditório.

Como Ana Lorena destacou, o crescimento da presença feminina se estende para além da mesa na coletiva de imprensa. Esta será a delegação com maior presença feminina em um Mundial, com 17 mulheres na comissão – em 2019 eram apenas três. “Mais de 50% da nossa delegação será composta por mulheres. Isso é algo inédito e importante de ser frisado, de que o futebol feminino também é feito por mulheres, homens e pessoas que são conhecedoras do futebol feminino”, declarou a dirigente. Ainda mais por se tratar da maior delegação da história da seleção feminina: são 31 integrantes, contando com comissão técnica, dirigentes e um chefe de delegação, além da treinadora Pia Sundhage.

Na convocação de 2019, por exemplo, a falta da presença feminina na comissão técnica ficou evidente diante de uma pergunta feita na ocasião por um jornalista (homem): “Vadão, tem uma pergunta que só você é capaz de responder. O que dá mais trabalho, um vestiário com 23 homens ou com 23 mulheres?”.

A resposta do treinador foi tão deslocada quanto a pergunta. Vadão citou um jogo onde a arbitragem não estava apitando muito bem e as jogadoras brasileiras ficaram exaltadas com isso no vestiário. “Existem características diferentes, mas no masculino não tem tanto isso (de ficarem nervosos). Às vezes uma discussão ou outra, mas é muito raro. Com as mulheres é com frequência. Quando elas estão nervosas, a frequência é maior. Às vezes é um pouco mais difícil acalmar as mulheres naquele momento, homem é um pouco mais fácil. Esse tipo de característica feminina não tem como você mudar, você tem que aprender a lidar. Acho mais difícil na hora do conflito acalmar as mulheres”, opinou. Mesmo que brigas e expulsões sejam muito mais frequentes no jogo masculino.

Parece impensável ouvir uma pergunta desse tipo hoje, ainda mais depois da convocação da última terça-feira. Mais impensável ainda seria imaginar a resposta que a treinadora sueca daria ao jornalista. Realmente muita coisa mudou em quatro anos.

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