Globo finalmente terá mulheres nas transmissões da Copa: “Deveria ter acontecido antes”

(Foto: Dibradoras)

A cobertura da Copa do Mundo de Futebol Masculino promete ter mais mulheres, pelo menos na TV Globo. Em anúncio feito na última segunda-feira (19), os executivos da emissora revelaram detalhes da cobertura multiplataforma na competição, que começa no dia 20 de novembro, no Catar.

A emissora carioca transmite a Copa do Mundo há 50 anos. O Mundial de 1970, no México (em que a seleção brasileira foi tricampeã mundial), foi o primeiro que a Globo transmitiu para o país. Desde então, todas as edições do torneio passaram pela tela do canal.

Uma das vozes mais marcantes do futebol fará sua despedida das transmissões neste Mundial. Galvão Bueno – que narra futebol na Globo desde 1982 – já se prepara para dar adeus aos telespectadores que se acostumaram com seus bordões. Muito emocionado, o narrador declarou: “Se essas palavras já começam a me faltar agora, então o que eu vou dizer quando acabar o último jogo, em 18 de dezembro. O que eu peço é que a seleção brasileira esteja do meu lado. Se sair gol eu não sei o que vai acontecer. Se vou gritar gol ou chorar.”

Galvão Bueno discursa em evento da Globo (Foto: Dibradoras)

Se de um lado uma lenda se despede, do outro, novas vozes começam a surgir, e são vozes femininas. Renata Silveira e Natália Lara se preparam para quebrar barreiras e se tornarem as primeiras mulheres a narrar o Mundial na TV Globo. Em entrevista, Galvão celebrou o feito e declarou que esse momento deveria ter acontecido antes.

“Me sinto como um mestre de cerimônias da pluralidade, sempre narrei para todo o tipo de gente, independentemente de cor, raça, crenças, escolhas pessoais. E agora, fico muito feliz com a chegada de mulheres nesse nosso time, as narradoras e as comentaristas. Deveríamos ter tido antes, é verdade, temos que falar. E talvez nós mesmos sejamos um pouco culpados por isso. Temos que falar também”, disse o narrador.

Com mais de 500 pessoas envolvidas na cobertura – sendo 73 no país sede do Mundial -, a maior emissora do país abriu mais espaços para as mulheres. Além das jornalistas e das narradoras, jogadoras de futebol também foram contratadas pela emissora para a cobertura do Mundial. É o caso de Formiga (que já tem aparecido na tela da Globo e do Sportv, comentando jogos da seleção feminina) e das atletas Cristiane e Tamires, que atuam pelo Santos e Corinthians respectivamente.

(Foto: Divulgação)

“Acreditamos que a conexão com a sociedade é fundamental. Queremos que as pessoas se enxerguem em nossa cobertura, nas histórias que vamos contar. Queremos criar identificação. O brasileiro vai se reconhecer quando assistir à Copa em alguma plataforma Globo. Estamos idealizando uma Copa de todos para todos”, afirmou Joana Thimóteo, diretora de eventos esportivos da Globo.

Direto do Catar, Ana Thais comentará na TV Globo

Foi durante a cobertura de uma Copa do Mundo que Ana Thaís Matos cravou seu espaço no Grupo Globo. Em 2018, durante a Copa da Rússia, a jornalista trabalhava como repórter na Rádio Globo/CBN e foi convidada para participar do programa Troca de Passes, comandado por Tiago Maranhão, analisando os jogos das rodadas.

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No mês seguinte, ela foi contratada pela emissora e quebrou uma barreira: foram necessários 54 anos para que finalmente uma mulher comentasse um jogo do Brasileirão na TV Globo, a maior emissora do país. Ana Thaís Matos foi a responsável pelo feito na transmissão de Santos e Athletico Paranaense ao lado de Cleber Machado e Caio Ribeiro.

Em afiliadas regionais da Globo, isso até já havia acontecido antes – como na transmissão do Baiano em 2011 com Clara Albuquerque comentando na Tv Bahia -, mas essa foi a primeira vez que uma voz feminina esteve nos comentários no horário nobre de transmissão do futebol para todo o país.

Ana Thais já havia sido a primeira a comentar na Globo com o futebol feminino, na Copa do Mundo da França, em 2019. Agora, ela se prepara para comentar, pela primeira vez, um Mundial masculino. Ela será a única comentarista mulher a trabalhar nas transmissões direto do Catar, ao lado de Galvão Bueno, de Júnior e do pentacampeão Roque Júnior. “É uma Copa plural, com diversos rostos. Todo privilégio requer muita reponsabilidade. Eu me sinto hoje muito privilegiada e muito feliz com a minha trajetória”, declarou Ana Thaís durante o evento.

Ana Thaís e Renata Mendonça, as comentaristas da Copa (Foto: Dibradoras)

Além de Ana Thais, Renata Mendonça também comentará os jogos da Copa do Mundo pelo Sportv – ela foi a segunda mulher a ocupar o posto de comentarista na emissora, em 2020.

“O mais significativo de termos mulheres nas transmissões da principal competição de futebol do mundo é que agora as meninas que assistirem vão saber que esse jogo, esse espaço, também é delas. É um pequeno passo, ainda precisamos de muito mais diversidade na cobertura esportiva. Mas precisamos reconhecer e celebrar os avanços e seguir lutando por mais. E uma coisa é certa: nunca mais teremos uma Copa do Mundo sem que mulheres também ocupem espaços de protagonismo”, declarou Renata.

Formiga, jogadora do São Paulo, também está escalada para comentar jogos durante a Copa do Mundo. “Estou ansiosa. Claro que é uma baita de uma responsabilidade, mas espero corresponder a confiança e que possamos fazer uma boa Copa e trazer alegria ao nosso povo que tanto precisa. Que seja uma Copa bem diferenciada e que seja produtiva pra todos”, afirmou às Dibradoras.

Mulheres na narração: Renata e Natália são as primeiras

A cobertura da Globo também terá as primeiras narradoras mulheres em jogos de Copa: Renata Silveira na TV Globo e Natália Lara, no Sportv.

Esta será a terceira vez que Renata irá narrar jogos de Copa do Mundo, mas será a primeira vez na TV Globo. “Cada Copa tem uma história e um marco. Em 2014 (pela Rádio Globo) eu nem imaginava fazer isso que faço hoje, foi uma coisa completamente nova e diferente. Acho que nem consegui aproveitar como deveria. Em 2018 (pelo Fox Sports) foi uma experiência muito legal, consegui aproveitar mais. Fiz vários jogos importantes, como os jogos do Brasil e narrei aquela final também. E ali foi o início da minha carreira, onde eu entendi que eu queria fazer isso. E agora, em 2022, eu me considero pronta. É uma Copa para aproveitar, fazer história e essa é uma conquista de todas nós. É um momento de celebração e de curtir muito porque do outro lado da TV outras mulheres vão estar se identificando e estarão felizes com essa conquista”, declarou Renata ao site.

Além de ser a primeira narradora do canal por assinatura em Copa do Mundo, Natalia Lara, que tinha menos de um ano em 1994, quando o Sportv transmitiu o seu primeiro Mundial, será também a mais jovem da equipe a exercer esta função na cobertura. Ela reconhece o importante papel que vai assumir este ano.

“O momento das mulheres é muito importante. O movimento feminista fez com que em diversas áreas tenhamos mulheres atuando na linha de frente. Eu estou representando um monte de mulheres que lutaram tanto para estar aqui. É um momento maravilhoso. É o reconhecimento pelo sonho que eu tinha desde o começo. Eu acreditei” declarou a narradora, que vai se tornar a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo no Sportv.

As jogadoras também falarão de Copa!

Ao longo dos 28 dias do torneio, o Sportv vai ter uma programação totalmente dedicada à Copa do Mundo, com mais de 300 horas de cobertura e vai transmitir todos os 64 jogos. E, para enriquecer os comentários durante as transmissões, o canal contará com a participação de Tamires, meio campista do Corinthians.

Foto: Divulgação/Sereias da Vila

Além dos jogos, três programas especiais farão parte da grade especial de Copa do Mundo do Sportv. Um deles será o o Seleção Catar, que terá o comando de André Rizek e Marcelo Barreto. Direto do estúdio especial montado nos Estúdios Globo, a atacante Cristiane será mais uma das atletas que analisará as partidas que aconteceram no dia. Atualmente, Cris defende o Santos e é a segunda maior artilheira da história da seleção brasileira.

Outras mulheres que estarão na cobertura da Copa

São oito mulheres que estarão no Catar para a cobertura da competição. Na Chefia de Reportagem da Seleção Brasileira estará Priscila Carvalho e as repórteres serão Débora Gares e Gabriela Ribeiro. Durante as entradas ao vivo na emissora, estão escaladas Carol Barcellos, Karine Alves, Giovanna Biotto e Paloma Fukusig. Na cobertura de outras seleções estará Julia Guimarães.

+ ALÉM DE KARINE, AS PRETAS QUE ESTÃO MUDANDO A CARA DO JORNALISMO

Karine Alves se tornou a primeira mulher negra a apresentar o Globo Esporte após 15 anos (Foto: Reprodução Twitter)

Do Brasil, Janette Arcanjo e Fernanda Colombo estarão na Central do Apito, Bárbara Coelho comandará o Esporte Espetacular e também marcará presença no Troca de Passes. O Sportv News terá Mariana Fontes e Camila Carelli e a experiente Gabriela Moreira vai apresentar o Redação.

Quantidade e representatividade importam

Copas do Mundo abrem espaço para novas propostas de conteúdo e inclusão de pessoas. Foi participando de um programa no Sportv, durante o Mundial da Rússia, que Ana Thais escancarou as portas para a chegada de novas mulheres nas transmissões de futebol (comentaristas e narradoras), mas ainda é preciso pensar na diversidade. Há apenas uma mulher preta entre as comentaristas: a jogadora Formiga. Não vemos essas mulheres ocupando cargos de opinião (comentaristas) e nem de narração com frequência. Elas aparecem, de fato, na apresentação e nas reportagens, como Débora Gares e Karine Alves.

(Foto: Dibradoras)

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018 mostram que 56% da população do nosso país se autodeclaram negra e ainda são poucas as mulheres pretas que ocupam as telas das tevês. Muitas delas até estão ocupando espaços, mas de maneira tímida ou pontual e pouco divulgada.

A luta por igualdade de oportunidades e representatividade deve se manter ativa sempre. E ao menos um passo foi dado nessa cobertura, que terá pela primeira vez na maior emissora do país, mulheres também como protagonistas nas transmissões. Não haverá mais Copas do Mundo sem que a presença feminina seja registrada – e a luta continua para que as coberturas esportivas sejam na frente das telas o reflexo da diversidade que existe atrás delas.

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