Walewska foi campeã olímpica, colecionou títulos e agora quer descobrir novas paixões além do vôlei

Walewska Moreira de Oliveira, campeã olímpica com a Seleção Feminina de Vôlei, em Pequim-2008 e bronze em Sydney-2000, se despediu das quadras, oficialmente, no Campeonato Sul-Americano de Vôlei, no mês passado, com o Praia Clube.

Wal, para os íntimos, que gosta de música clássica, moda, e de frequentar o Teatro Municipal, não imaginava, nem em seus maiores sonhos, que começaria e encerraria a sua vitoriosa carreira em Minas Gerais. Depois de 30 anos, a vida fez questão de voltar ao início de tudo para fechar este ciclo com chave de ouro. O adeus veio com o vice-campeonato da Superliga e do Sul-Americano pelo Praia Clube, derrotado pelo Minas Tênis Clube, justamente o clube no qual iniciou a carreira.

“Eu fiz o meu primeiro teste com 12 anos, no Minas, então, esse primeiro teste, é o pontapé inicial da minha carreira. E, a partir desse momento, as coisas foram acontecendo, evoluindo”, afirmou a ex-atleta em entrevista às Dibradoras. 

Walewska se emociona em despedida da Arena Praia — Foto: Eliezer/Praia Clube

Wal nos contou o misto de sensações que sentiu nesses últimos meses, quando a ficha caiu que agora ela estava realmente dizendo um “adeus” às quadras. “Último Campeonato Sul- Americano, última Superliga e também finalizar essa trajetória em um clube tão vitorioso e estar em alto nível ainda, pra mim foi muito bacana. Levantar vários troféus, ano passado foram três, estar em finais ainda esse ano. Então, foi um turbilhão de emoções, mas muito grata por tudo o que aconteceu”, relembra.

Walewska ao lado de Tomás Mendes, presidente da FMV e Paulo Henrique, vice-presidente do Praia — Foto: Eliezer Esportes/Praia Clube
Walewska ao lado de Tomás Mendes, presidente da FMV e Paulo Henrique, vice-presidente do Praia — Foto: Eliezer Esportes/Praia Clube

A campeã olímpica já tinha se despedido da Seleção Brasileira em 2008, no mesmo ano em que ganhou o ouro olímpico. Na época, muitas pessoas não entenderam o motivo da jogadora sair da seleção, prestes a começar um novo ciclo olímpico, mas a atleta se culpava por não estar presente nos momentos mais importantes com sua família e amigos. Wal revelou, por exemplo, que não viu o seu irmão, três anos mais novo, mudar de voz. Algo pequeno para alguns, mas, que para ela dói até hoje.

“Eu acho que eu consegui resgatar muitas coisas, que, se eu não tivesse tomado aquela decisão super difícil (ter saído da seleção em 2008) naquele momento, talvez eu não tivesse resgatado tanta coisa”, completa.

Brasil campeão olímpico em 2008 – Créditos: Reuters

Wal ainda relembra que Zé Roberto (técnico da Seleção Feminina desde 2003), a convidou para fazer parte do grupo que estaria nos Jogos Olímpicos de Londres – time que conquistou a 2ª medalha de ouro da modalidade feminina – mas a então atleta optou por ficar de fora. “Eu estava muito efetiva ainda, jogando bem, então eu acho que eu poderia ter disputado, mas eu não troco hoje aquela medalha, o bicampeonato olímpico, pela minha família, pelos meus amigos, por tudo o que eu tenho hoje. Isso é muito importante pra mim”, revelou.

A Wal 100%

Por muito tempo, Walewska pensava em ser mãe, chegou a planejar uma pausa em algum momento da carreira para se dedicar à maternidade. “Eu cheguei até a programar com a minha ginecologista, quatro anos atrás, para tirar o DIU e começar a fazer essa mudança para tentar engravidar. Mas depois eu sentei com o meu marido e disse: ‘gente, que estranho, né? Eu vou sair de uma vida de muita dedicação e eu vou passar pra outra vida de muita dedicação 100%. Eu acho que preciso de um tempo pra mim agora. Eu preciso viver o meu tempo agora’. E nessa conversa, acho que ele entendeu perfeitamente. Então, eu não sei se hoje, eu abriria mão da minha liberdade, de ter tempo, de programar as minhas coisas pra mim, pra minha família, para o meu marido, e ter que, de novo, me dedicar 100%”, avalia.

“Porque eu sou 100%. Não vou ter filho pra me dedicar 30%, 40%. Não me peça isso. E foi assim, com muita naturalidade, acho que foi outra decisão muito acertada da minha vida. Às vezes algumas pessoas falam: ‘Mas e se você se arrepender daqui uns anos?’. Gente, tem tanta criança linda precisando de uma casa, de amor, de um lar, é isso que eu vou fazer.”

“Decidi sem ressentimentos e estou muito contente com a decisão que tomei. Porque eu acho que não é uma decisão fácil pra mulher. Hoje eu tenho 42 anos, então, a coisa vai ficando cada vez mais difícil. Tive a indicação da minha médica pra congelar os óvulos, mas tinha pouco tempo de férias, então eu falei: ‘Não quero perder as minhas férias, (talvez ganhar, a gente fala perder porque eu ia perder o meu tempo), mas eu não quis. Nem isso eu quis fazer, então, é uma coisa super bem resolvida, tô super em paz com isso”, assegura Wal.

 

O time que mais soube cair e levantar

Wal fez parte de dois momentos marcantes para a história do vôlei brasileiro. Quando a Seleção passou de “amarelona”, nos anos 90 e 2000 – porque não vencia as principais rivais, como Cuba e Rússia -, até a redenção como campeã olímpica em 2008. 

Time campeão em 2008 – Foto: Reprodução/Rádio Poliesportiva

“Eu peguei toda essa transição, né? O vôlei feminino sempre estava ali, batendo na trave contra Cuba, e aí depois a gente começou a bater na trave contra a Rússia. Foram anos de aprendizado, de amadurecimento, para que a gente aprendesse o caminho da vitória. Foi muito duro. O Pan de 2007, no Maracanazinho, foi muito doído. O Mundial, em 2006, pra Rússia também. Eu acho que esse time é o que mais soube cair e levantar. Fomos aprendendo na dor, a levantar de cada queda que a gente teve, e isso foi muito importante, porque em 2008, chegamos com uma convicção, uma certeza do caminho que a gente percorreu e tínhamos certeza de qual caminho a gente tinha que seguir para chegar até lá”, pondera.

Walewska e Fofão foram dois pilares daquela seleção. Aquele time bicampeão olímpico marcou gerações. Fabizinha, Sheilla, Garay, são jogadoras que estão se despedindo das quadras ultimamente e, se analisar, são mais de 10, 15 anos defendendo as cores do Brasil na modalidade. Aquela equipe deixou um legado. Durante os ciclos de 2000 até 2008, Wal nos contou que elas trabalharam incansavelmente para que as vitórias acontecessem e que não tinha dúvidas de que o ouro seria do Brasil naquela edição. “Foi uma Olimpíada inquestionável. Terminamos com a medalha de ouro e sem nenhuma dúvida de que aquilo foi merecimento de todos esses anos”, analisa.

Wal (à esquerda) foi campeã olímpica em 2008, em Pequim, na China — Foto: AP

A renovação

A Seleção Feminina de Vôlei está disputando a Liga das Nações desde o dia 31 de maio. E como já falamos, o time está em constante processo de renovação. O técnico Zé Roberto declarou em entrevista ao canal Saque Viagem que a equipe precisa construir uma identidade. “O grupo tem que construir a forma de jogar, o sistema defensivo, que é uma coisa que a gente bate muito, então, a gente tem que ter um padrão. Eu tô otimista, porque condições, eu vejo muito nesse grupo.”

Wal também comentou sobre esse momento da Seleção Brasileira. “A renovação precisa ser feita. É hora da gente dar um passo para trás, porque o ouro não vai acontecer em todas as Olimpíadas, isso não existe. Chegou o momento de dar esse passo pra trás, reformular, ver o que precisa construir. Acho que a gente tem um defeito, que depois de dois ouros, a medalha de prata não é importante, estar em outra final olímpica não é importante, porque só o ouro é lembrado. Se não dermos esse passo para trás, as coisas não vão acontecer e a gente vai continuar dependendo das jogadoras que tem 37, 38 anos e que não vão dar sequência para esse trabalho”, constata. 

As mulheres e os cargos de liderança

A inclusão e a visibilidade de mulheres em cargos de liderança é fundamental para promover mudanças no cenário esportivo. Segundo informações compartilhadas pela Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), a entidade declarou que, no ano passado, iniciaram o programa Jornada das Estrelas, focado em apoiar os atletas na transição de carreira. A primeira turma teve a participação de 14 mulheres, entre elas as medalhistas olímpicas Fernanda Garay (vôlei de quadra) e Juliana Felisberta (vôlei de praia). Este ano terão uma nova turma e está garantida em edital a divisão igualitária na distribuição de vagas entre homens e mulheres.

 

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A comissão técnica do Praia Clube, último time de Walewska, conta apenas com uma mulher, a fisioterapeuta Marcela Gomide e Wal valoriza a presença feminina no esporte.

“A gente se sente tão representada. É tão cômodo pra gente dividir alguma coisa com uma mulher. É uma visão diferente. A participação dela (Marcela) é muito importante, e a gente só percebe quando isso acontece. Imagina o quão difícil é viver e conviver só com homens. Neste caso, eles são obrigados a ter que conversar com uma mulher, ter um ponto de vista diferente, uma conversa diferente, isso vai contribuindo e vai abrindo portas para que outras venham.”

“Eu acho que já evoluímos um pouco, mas temos que plantar essa sementinha lá nas categorias de base, porque como é que vai nascer uma técnica na seleção brasileira principal de vôlei se ela não passou lá atrás? Então, o nosso crescimento como atleta caminha junto com o crescimento de um profissional que vai liderar uma seleção importante”, analisa.

A CBV nos afirmou que identificou essa questão e que isso faz parte da cultura do esporte brasileiro em geral, mas que está trabalhando para estimular a participação cada vez maior das mulheres nas comissões técnicas. Um reflexo disso é que, nesta temporada, pela primeira vez na história das seleções brasileiras de vôlei de quadra, duas mulheres vão integrar comissões técnicas como treinadoras – Karina de Souza como auxiliar da seleção feminina Sub-21 e Mirtes Benko, na Sub-19 feminina. “Foi uma escolha baseada na capacitação e na qualidade profissional. São duas treinadoras qualificadas e com mais de 20 anos de experiência. A ideia é que elas sejam referências e exemplo para que tenhamos cada vez mais treinadoras em formação e em atividade”, explicou a comunicação da entidade.

Em março de 2021, Adriana Behar se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de CEO da Confederação Brasileira de Voleibol. Além disso, dentro da CBV, outras mulheres estão ocupando cargos de liderança, como a gerente de seleções, Julia Silva; a gerente de marketing, Flávia Cattapan; a gerente de projetos especiais, Camila Carvalho; e a gerente administrativo financeiro, Luciana Oliveira.

Nossa, imagina um dia uma mulher comandando a Seleção Feminina? Estamos engatinhando nisso. Mas a gente tem que ter um incentivo também, buscar Ana Moser, a Fofão. A Fofão esteve em Saquarema, com a base e é uma coisa super importante porque ela tem uma bagagem incrível. Mas estamos precisando de mais representatividade, sim, dentro da Confederação”, contesta Wal.

Luz, câmera, Walewska

Pra celebrar sua carreira tão longeva e vitoriosa no esporte, Wal irá lançar no dia 26 de julho um documentário que leva o nome “O último ato” e contará detalhes sobre sua trajetória no voleibol. “Esse documentário terá a participação de pessoas que passaram pela minha carreira e que vão contar um pouco dessa história junto comigo. É também uma forma de agradecer por terem contribuído com esse meu caminho”, declarou.

A produção do documentário é da Roná Comunicação e Two Film e Walewska já tem deixado os fãs bastante curiosos com os teasers que tem divulgado em seu Instagram.

Olhando pro futuro, Wal tem muitos sonhos a realizar. Quer viajar, aprender novos idiomas e até mesmo tocar piano. “Quero me ver de outras maneiras e perspectivas. Acho que terei dificuldades, porque é uma vida nova, com outros acontecimentos. Vou saber agora o que é acordar pela manhã, como uma pessoa normal. Mas me vejo como uma Wal mais madura, completa e com mais sabedoria porque quero aprender muitas coisas. Será que em 10 anos vou conseguir tocar piano? Espero que eu consiga porque esse é um sonho de verdade.”

Alguém duvida de que Walewska vai realizar seus próximos objetivos? A gente aposta que sim!

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