De volta ao São Paulo, Formiga projeta pós-carreira como treinadora no clube

Nesta terça-feira (22), o São Paulo Futebol Clube apresentou oficialmente a jogadora Formiga, que irá defender a equipe do Morumbi até o final de 2022. Na recepção da atleta, sua ex-companheira de equipe, Juliana Cabral, recebeu a jogadora no Tricolor.

A jogadora de 43 anos – que defenderá a seleção brasileira pela 7ª vez em uma Olimpíada – foi apresentada pelo Diretor de Futebol Feminino do clube, Antônio Luiz Belardo e pelo presidente Júlio Casares. Na apresentação, o diretor frisou que o São Paulo teve interesse em contratar Formiga por se tratar de uma atleta de alto-escalão e de elite.

Casares reforçou que a contratação da jogadora foi possível graças ao apoio financeiro que o time recebeu do patrocinador Tricolor Chip, que tem investido no futebol feminino no clube. E, antes da coletiva de imprensa começar, foi exibido um vídeo de boas-vindas à atleta com depoimentos de Maurren Maggi (ex-atleta do atletismo), Aline Pellegrino (Diretora de Competições na CBF), Hernanes (jogador do São Paulo) e Pia Sundhage (técnica da seleção brasileira), que tocou “Anunciação” no violão para saudar o retorno da jogadora.

Confira abaixo as declarações de Formiga durante a sua apresentação:

O que atraiu na proposta de retorno ao São Paulo 

“Um dos motivos de voltar ao São Paulo foi o pós-carreira. Acredito que após (o término do contrato como jogadora) eu possa continuar aqui, trabalhar, quem sabe, na gestão ou até mesmo no futuro como auxiliar técnica. Todos sabem o desejo que eu tenho em ser treinadora.”

Desenvolvimento da modalidade no Brasil 

“Hoje eu vejo o futebol feminino evoluindo. É uma maravilha ver a competição hoje, no nível em que está, não vemos tantos placares elásticos, os times estão se fortalecendo, então só tem a ganhar o futebol feminino. Espero que, nos próximos anos, melhore em termos de qualidade e apoio porque é o que o futebol feminino precisa.”

Como era jogar no São Paulo na década de 90

(Foto: Acervo São Paulo)

“Entre 97-99 nosso treinamento era em Indaiatuba e depois é que veio para São Paulo. O apoio a gente sempre teve, era uma diferença incrível entre as outras equipes. Nessa época, o São Paulo era a base da seleção brasileira, então todo apoio nos foi dado e fomos felizes. Acredito que todos os títulos que o São Paulo ganhou nessa época foram justamente por ter tido apoio. Acredito que agora não será diferente porque as equipes estão se fortalecendo e o São Paulo está no caminho certo. Espero, de verdade, trazer títulos para esse clube novamente com as minhas companheiras e que, a cada dia, o clube venha crescer mais e mais”

As mudanças do futebol feminino no Brasil de 2016 pra frente

“A visibilidade ajudou bastante na evolução. Se lembrar de 97, ninguém lembra de quem jogava aqui e em outras equipes. E hoje todo mundo tem a oportunidade de saber onde estão as jogadoras. Acredito também que a presença da Aline (Pellegrino) na Federação Paulista teve um papel fundamental para que o futebol brasileiro esteja do jeito que está. E hoje, lá na CBF, a tendência é o futebol feminino melhorar.

Precisamos colocar ex-jogadoras à frente para que ajudem ainda mais o futebol feminino, porque a gente (as mais velhas) sabe como é o ambiente da modalidade, sabe como ajudar. E claro, os clubes quererem ter essa vontade de ter o departamento de futebol feminino. Antigamente, a gente brigava tanto por isso e hoje a realidade é outra. As coisas estão acontecendo e fico feliz por isso.”

Como auxiliar as atletas mais jovens numa renovação 

“Todo mundo sabe da minha luta e do meu desejo, eu sempre quis ver o futebol feminino no auge, no ponto em que está e aí seria o momento mesmo de parar (de jogar). Acho que está chegando esse momento e claro que me falta ainda esse papel com relação às meninas novas. Vou de todas as formas ajudá-las e venho falando que elas precisam valorizar o que tem hoje e trabalhar seriamente para conquistar mais coisas porque foi duro lá atrás o que passamos.

Se hoje elas tem isso, tem que agradecer as outras jogadoras que carregaram o piano. Tem que trabalhar com seriedade, ter vontade de conquistar coisas e manter o futebol feminino em alta. Esse vai ser um dos meus papéis, de fazer com que elas acreditem no potencial dela, continuem crescendo e pensando que é possível chegar numa seleção brasileira. A mídia está aí pra mostrar o talento delas.

Treino da seleção feminina Sub-20 (Foto: Adriano Fontes/CBF)

Vejo com bons olhos esse trabalho da base aqui no Brasil e no São Paulo. Espero que 80% delas chegue na seleção principal. Sei o quanto é difícil, mas o clube está dando a oportunidade para as meninas. Espero que a gente possa ter um celeiro de jogadoras boas. A base é importante para que elas cheguem preparadas na principal. Passamos anos carentes de renovação porque não tinha trabalho na base. Que elas desfrutem muito o trabalho de base nos clubes e na seleção. E quando tiverem a oportunidade, aproveitem o momento, porque é maravilhoso.”

Preparação para se tornar treinadora

“Pretendo organizar minha vida pós-Tóquio, mas já manifestei para a CBF o meu desejo de fazer esse curso (Licença para Treinadores), aproveitando que estou de vez no Brasil. Mesmo que seja à distância, quero fazer as coisas 100%, assim como faço dentro de campo. Quero fazer os cursos para entender melhor as coisas e, sem dúvida, por onde eu passei, com os treinadores com quem trabalhei, sempre observei, peguei dicas e estou sempre procurando ver jogos até mesmo do masculino e os treinadores mais tops.”

Nível técnico do campeonato brasileiro em comparação com a Europa

“Vejo o futebol feminino brasileiro evoluindo muito, temos muitos talentos hoje e uma coisa que é natural é que temos habilidade. Isso ninguém tira, e sempre escutei elogios quando estava no PSG sobre a qualidade técnica das jogadoras brasileiras. A diferença é que lá eles usam muito a força física e respeitam muito as orientações táticas. Aqui no Brasil a gente também respeita, mas temos mais liberdade para fazer o improviso dentro de campo.

Torcida do PSG preparou faixa especial para a despedida de Formiga (Foto: Arquivo Pessoal)

A parte que a gente perde (com relação à Europa) é no apoio. Elas estão anos na nossa frente em questão de base, mas ao mesmo tempo a gente leva a vantagem no improviso dentro de campo porque somos diferenciadas. Meu sonho é que um dia eu veja meninas jogando bola na escola, com os pais apoiando. Sinto que estamos no caminho e espero que não demore muito.

Avaliação de Pia Sundhage na seleção

(Foto: CBF)

“Sou feliz de ter trabalhado com tantos profissionais qualificados (na seleção) e a Pia é uma delas. Ela está mudando muitas coisas, quem vive o dia-a-dia com ela sabe o quanto estamos evoluindo. Sabemos da exigência e que temos condições de chegar bem na Olimpíada com esse trabalho que ela vem fazendo e claro que tivemos vários contratempos com a pandemia, mas o que ela sempre nos pediu era para que a gente seguisse se cuidando porque não teríamos tempo de trabalhar 100%.

A vinda da Pia quebrou tabus por ser de fora (do país) e foi pra apoiar o futebol feminino e abrir os olhos das pessoas mostrando que é possível trazer pessoas de fora para nos ajudar e ajudar a modalidade. Se vem com ideias boas, temos que abraçar isso e aprender. O currículo dela já diz tudo e eu sou grata por trabalhar com ela e a cada dia aprender mais.

Como se enxerga atuando no São Paulo 

“Venho acompanhando o São Paulo e estamos bem. Estou louca pra treinar, estar em contato com as novas companheiras e poder ter um contato mais próximo com o treinador para entender a filosofia de trabalho dele. Sei que isso será possível depois da Olimpíada, mas estarei torcendo pelo time de lá.

Importante ter a mescla de experiência e juventude e eu sempre incentivo as meninas a se cuidarem e estudar. Precisamos pensar na carreira pós-futebol e o meu desejo aqui é somar com essa equipe. Também tenho muito que aprender com elas e, como sou experiente, também espero ajudá-las.”

Expectativa para os Jogos Olímpicos

(Foto: Richard Callis/SPP/CBF)

“Mesmo sem possibilidade de treinar, a expectativa é muito boa, estou confiante. Principalmente por ver as meninas se cuidar e com a técnica que temos hoje, a chance é grande de trazermos essa medalha. Sinto que agora o ouro vem pro Brasil. Dessa vez está sendo diferente.”

Presença das equipes do Nordeste no campeonato nacional

“Infelizmente o Nordeste sofre com essa situação (de falta de apoio). As federações viraram as costas. Saí de Salvador com a esperança de estar em São Paulo, com a visibilidade que tem hoje, e mudar a história, mas ainda não aconteceu. Espero que a Federação, os clubes e os presidentes cuidem do futebol feminino de uma maneira legal, sem ser obrigado. Sei que na Bahia existem muitos talentos que não conseguem mostrar seu futebol. Eu desejo que o Nordeste possa entrar na vitrine do futebol brasileiro.”

Retorno de jogadoras ao Brasil

“Muitas meninas estão voltando ao Brasil porque estão vendo mudanças. O campeonato está mais forte e tem a oportunidade de estar próximo da seleção. Espero que meu clube faça esse tipo de investimento, que traga jogadoras de potencial para auxiliar no campeonato e que esse trabalho continue. Que a gente não perca a oportunidade de fazer esse investimento. Tenho certeza que com o que estão fazendo hoje, o resultado vai aparecer.”

Início no futebol

(Foto: Acervo São Paulo)

“Fico feliz de ter vencido na vida, por tudo que eu passei. São poucas as pessoas que tem a certeza do que foi o meu começo. Os mais próximos sabem o quanto eu sofri para chegar onde estou. Foi com muita dedicação e superção. Que sirva de exemplo para as meninas, principalmente quando você chegar no topo. Aí, muitas se esquecem de onde vieram e o que passaram pra chegar em seu objetivo. Não é porque está no topo que você tem que flutuar, tem que colocar os pés no chão e buscar sempre mais, sempre o melhor. Pé no chão e consciência de que nada cai do céu e não podemos entrar na zona de conforto. Espero que as meninas de hoje valorizem tudo que ganharam até agora e o que ainda podem ganhar lá na frente”

Conquista de um título de campeã brasileira inédito

“Quando a gente chega em um clube, a meta é ganhar. Me falta esse título, espero voltar de Tóquio e ter a oportunidade de brigar por ele. Se não for esse ano, que seja no próximo. Ficaria feliz se isso acontecesse no São Paulo, porque aí fecharia essa minha passagem por aqui, contando com o que já ganhei em 1997.”

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