Dia do Orgulho LGBTQIA+: e o futebol com isso?

Nesta segunda-feira, é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIA+ (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Pessoas Intersexo), uma data de conscientização sobre a importância do combate ao preconceito e do respeito à diversidade.

O movimento ganhou essa data por conta da Rebelião de Stonewall, quando membros da comunidade LGBTQIA+ enfrentara uma invasão de policiais em um bar na cidade de Nova York, nos Estados Unidos.

 

Aqui no Brasil, há dois anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) criminalizou a homofobia e a transfobia. A Corte equiparou esses delitos aos de racismo, com pena prevista de um a três anos, podendo chegar a cinco anos em casos mais graves.

(Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

Mas, quando a gente pensa em esporte – especialmente no futebol masculino – é fácil afirmar que a homofobia é muito presente e naturalizada, infelizmente.

No último domingo, alguns clubes usaram as cores do arco-íris para homenagear e apoiar a causa. Em São Januário, o Fluminense recebeu o Corinthians e, nas arquibancadas, lia-se a mensagem que precisa ser passada: RESPEITO. Por todas as formas de amor. No uniforme, os jogadores da equipe tricolor carioca carregaram a #TimeDeTodos com as cores do arco-íris.

O Vasco da Gama também preparou uma ação incrível com a camisa especial feita para a data e um posicionamento nas redes sociais. O Flamengo carregou as cores do arco-íris nos números das camisas, e o Santos escreveu palavras de apoio a essa luta, como “amor”, “direito” e “liberdade” nos uniformes.

Durante o jogo do Vasco contra o Brusque, pela Série B, o atacante German Cano fez um gol e foi comemorar com a bandeira do escanteio do estádio, que estava com as cores do arco-íris. Um gesto simples, mas simbólico no mesmo estádio em que, há dois anos, uma partida do Campeonato Brasileiro foi paralisada pela arbitragem por conta dos gritos homofóbicos da torcida. Mostra que a conversa tem evoluído nos clubes, apesar de ainda estar muito incipiente.

Leia também: Quando o futebol sairá do armário?

São alguns exemplos simples, mas que são importantes demais considerando o contexto do futebol, que ainda carrega um ambiente tóxico e homofóbico. Mas, para além das mensagens de apoio na data comemorativa, é preciso que ações sejam feitas diariamente para combater o preconceito.

Dentro ou fora de campo, nas arquibancadas ou na vida, as pessoas devem ser livres pra amar. E o futebol precisa mostrar que está aberto a todas as formas de amor.

Quanto mais gestos assim, em demonstração de apoio à causa da população LGBTQIA+, forem levados para o campo, mais a mensagem ganhará força. É preciso criar um ambiente favorável para que todos se sintam confortáveis para falar abertamente de sua orientação sexual, se assim quiserem. O desconforto tem que estar do outro lado, do lado de quem ainda acha que existe forma “certa” de amar. O futebol precisa gritar seu orgulho e deixar a vergonha com os preconceituosos.

Mulheres resistentes

Desde que o mundo é mundo, a comunidade LGBTQIA+ existe – e resiste. No esporte, não é diferente. O que mudou de lá para cá é que hoje é mais comum falar sobre isso.

A tenista Reneé Richards (Foto: Getty)

Imaginem o que foi para Reneé Richards, uma tenista americana da década de 1960, se entender como mulher transexual e lutar por seus direitos naquela época? Ela foi a primeira atleta trans a conseguir disputar o circuito profissional de tênis feminino em 1977.

Na mesma época, uma das maiores tenistas da história enfrentava o preconceito de um país inteiro ao se assumir lésbica em 1981. Billie Jean King foi a primeira atleta a “sair do armário” e perdeu todos os seus patrocínios da noite para o dia. Só aos 51 anos, ela realmente se aceitou. “Acabei com um distúrbio alimentar que veio da tentativa de me esconder dos meus sentimentos. Eu deveria ter me assumido muito antes”, disse.

O tabu persiste – mas hoje tem mais gente lutando para quebrá-lo. “Se eu jogar bem, minha mãe talvez me perdoe por ser como eu sou”, esse era o pensamento da jogadora dos EUA, Abby Wambach, que cresceu numa família muito religiosa e conservadora. Em 2015, ela mostrou para o mundo que amar não é pecado, e o beijo na então esposa ao comemorar o título da Copa do Mundo viralizou.

Em 2016, quando conquistou o ouro olímpico no Rio, Rafaela Silva já tinha assumido sua orientação sexual. Mas antes disso, sofreu muito escondendo seus sentimentos. “Voltei a respirar, ser quem eu era. Meus melhores resultados começaram a aparecer. Se você fica se escondendo, nunca vai conseguir dar 100% em nada”, disse.

Em 2017, o Brasil teve sua primeira atleta transexual na Superliga de vôlei. Tifanny estreou na competição enfrentando muito preconceito e até hoje lida com ataques transfóbicos.

“Desde criança, eu sabia que era uma menina. Por muito tempo, tive que esconder a Tifanny dentro de mim. Até que um dia não deu mais. Eu não aguentava mais viver a mentira que eu era. Eu vivia para os outros, na verdade”.

Essas mulheres (e muitas outras atletas LGBT) lutaram muito pelo direito de ser quem são. Hoje, ainda bem, elas podem se orgulhar disso e gritar para o mundo que o amor sempre vai vencer.

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