Brasil já perdeu quase um time todo por lesão pós Copa América

(Foto: Thais Magalhães/CBF)

Para a técnica Pia Sundhage, a preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo feminina tem sido como montar um quebra cabeça. Mas, além de buscar os encaixes perfeitos, a treinadora tem se deparado com o desafio de perder peças importantes ao longo do processo. Desde a Copa América conquistada pelo Brasil em julho do ano passado, dez jogadoras desfalcaram a seleção por causa de lesão.

A situação tem sido tão crítica que o Brasil definiu que levará 26 jogadoras para a preparação na Austrália, mesmo que apenas 23 possam permanecer lá para o início da Copa. Agora, são oito ausências para os dois últimos jogos do Brasil antes do Mundial: contra a Inglaterra, na Finalíssima, na quinta-feira (6), às 15h45 (horário de Brasília), no estádio de Wembley, com transmissão do SBT e ESPN/Star+; e diante da Alemanha, na terça-feira (11).

A atacante Ludmila passou por cirurgia para reconstruir o ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho no último mês e não conseguirá se recuperar a tempo do Mundial da Austrália e Nova Zelândia. A goleira titular Lorena é o outro desfalque do Brasil confirmado para o Mundial. Com uma lesão mais grave do que imaginado inicialmente, a atleta do Grêmio passou pela mesma cirurgia no LCA nessa terça-feira (4).

A técnica Pia ainda teve três surpresas indesejáveis após a convocação para a última Data Fifa antes da Copa. Marta, que havia retornado aos gramados na She Believes Cup em fevereiro após 10 meses afastada das competições, sofreu uma nova lesão, desta vez, no bíceps femoral da posterior esquerda e foi cortada. Se depender da escolha da Pia, a capitã do Brasil é presença garantida na Copa. Basta Marta estar bem fisicamente. Ainda assim, é uma ausência que será sentida na busca por maior entrosamento da equipe nesta Data Fifa.

Situação que se agrava com as baixas também da zagueira Tainara e da atacante Debinha, que nem chegarem a ser convocadas para os jogos de abril por estarem se recuperando de lesão. Apesar de a comissão técnica brasileira afirmar que as duas não preocupam para a Copa, as ausências delas se somam aos prejuízos na preparação da seleção. Diante de dois fortes adversários europeus, o ideal seria testar o time titular mais próximo do que a Pia imagina ser o ideal para o Mundial – as duas são titulares absolutas do time.

Técnica Pia no treino da seleção brasileira no The Hive, em Londres | Foto: Thais Magalhães/CBF

Mas a lista de desfalques também contempla quem ainda está na corrida por uma vaga para representar o Brasil no Mundial. Nycole Raysla e Duda Sampaio são jovens jogadoras que estavam muito bem cotados para estrearem em um Mundial. As duas têm tudo para se firmarem nesta seleção renovada, mas podem ser prejudicadas pelas poucas oportunidades que tiveram nesta reta final da preparação para o Mundial devido às lesões.

A atacante Nycole se recuperou de uma cirurgia no LCA, que sofreu no fim de 2021, e voltou a ser convocada para a seleção no primeiro compromisso deste ano. A atacante do Benfica de 23 anos se saiu bem na She Believes e foi novamente relacionada para estes compromissos de abril, mas ela foi diagnosticada no último domingo com uma sinovite no joelho esquerdo, o que a impediu de servir a seleção.

Duda Sampaio, de 21 anos, ganhou espaço na seleção na Copa América, em que foi convocada no lugar da Gabi Nunes, cortada por lesão. Nos meses seguintes, a meia campista reforçou o Brasil nos amistosos contra África do Sul, Noruega e Itália. Mas depois uma entorse no tornozelo esquerdo a tirou dos amistosos contra o Canadá, em novembro, e da She Believes, em fevereiro. Agora, uma lesão de musculatura adutora da coxa esquerda a cortou da terceira Data Fifa seguida.

Das oito atletas que não estão à disposição da Pia neste momento, cinco são jogadoras de ataque ou criação. Diante da forte Inglaterra, os desfalques diminuem o poder ofensivo do Brasil. Em entrevista coletiva nesta semana, Bia Zaneratto sinalizou para a estratégia que a técnica Pia deve montar para este desafio da seleção brasileira, apostando em uma defesa bem montada e na velocidade dos contra-ataques.

“Com certeza a gente vai tentar filtrar as grandes jogadas delas, que acho que é o principal. São muitos cruzamentos, elas têm velocidade de jogo, mas a gente por outro lado também tem essa parte ofensiva muito rápida, tem essa força no ataque com muita velocidade, muita força física e, consequentemente, a gente tem que se organizar melhor defensivamente. Então, acho que essa mescla é que vai fazer a diferença para que nesse jogo a gente possa sair com o resultado positivo”, disse a atacante do Palmeiras.

Experientes ganham nova chance

Inevitavelmente os cortes de algumas atletas abrem espaço para novos testes. Foi assim que a própria Duda Sampaio teve a primeira chance na seleção principal, no ano passado. Para os confrontos na Inglaterra e na Alemanha, Pia optou por dar novas chances às experientes Andressa Alves, de 30 anos, Luana, 29, e Duda Santos, 27. “Estou super feliz. Estava trabalhando bastante na Roma, acho que a temporada está sendo boa, estou feliz pela oportunidade e vou dar meu máximo como sempre faço”, comemorou Andressa.

Luana esteve no elenco campeão da Copa América de 2022, mas a atuação não convenceu. Uma das principais jogadoras do início da Era Pia sofreu uma lesão grave em 2021 que a tirou das Olimpíadas de Tóquio. Na temporada passada, ela se transferiu do PSG para o Corinthians e vem trabalhando para voltar ao alto nível – e ainda teve outros problemas de lesão ao longo de 2022.

“Passei por um período difícil de lesões, uma segunda cirurgia, mas tive mais sequência no time. Estou com mais ritmo de jogo e me sinto bem preparada para estar na Seleção e corresponder às expectativas. Se tiver oportunidade de jogar, estou pronta”, comentou Luana.

Andressa Alves e Luana comemoram retorno à seleção | Foto: Thais Magalhães/CBF

Angelina fecha a lista das oito jogadoras que vinham sendo usadas na seleção e não estão à disposição da técnica sueca neste momento. A meia de 23 anos foi outro destaque do Brasil na Copa América, mas rompeu o LCA e menisco lateral do joelho direito na final do campeonato. Desde então, a jogadora do OL Reign, dos EUA, vem se recuperando da cirurgia e deve voltar a jogar em breve. A questão será saber com qual ritmo de jogo.

Ao todo, desde a Copa América, a seleção feminina já teve dez baixas por lesões que obrigaram a treinadora a fazer cortes na lista de convocadas e chamar outros nomes para suprir as ausências. Considerando que boa parte delas eram titulares (casos de Lorena, Tainara, Angelina, Antônia, Rafaelle – que também já ficou fora de convocação por lesão -, Debinha), isso acaba dificultando o processo de encontrar um time “fixo” que tenha sequência de jogos.

Diante de tantos desafios decorrentes de lesões, há notícias a serem comemoradas. A defensora Antônia, que sofreu uma lesão no joelho direito em um amistoso do Brasil contra o Canadá, em novembro, passou por cirurgia em janeiro e voltou para estes amistosos de abril. Zagueira de origem, a jogadora do Levante, da Espanha, teve atuações muito sólidas na lateral direita da seleção e deve ser a titular da posição, que também conta com Bruninha como opção.

Quem está de volta desde o início do ano é a zagueira Rafaelle, que se tornou essencial no setor defensivo e assumiu papel de liderança importante na seleção. No ano passado, ela sofreu uma fratura no pé direito no jogo entre Arsenal e Ajax, válido pela Liga dos Campeões Feminina, e desfalcou o Brasil em duas Datas Fifas. Com a ausência de Marta e Debinha nos últimos jogos do Brasil antes da Copa do Mundo, Rafaelle assume esse papel de referência, ao lado de Tamires, para a geração mais jovem que chegou na equipe nesse último ciclo.

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