Campanha histórica do Brasil deixa legado: “que olhem com carinho para a modalidade”

(Foto: Thaís Magalhães / CBF)

No último domingo (28), o Mundial de Futebol Feminino Sub-20, realizado na Costa Rica, conheceu seu novo campeão. A Espanha levantou o troféu pela 1ª vez ao vencer o Japão, algoz das espanholas em 2018, por 3×1. Além da conquista inédita das europeias, o Brasil também voltou ao pódio após anos de descaso com sua base e levou a medalha de bronze para casa após derrotar a Holanda por 4×1, com gols de Ana Clara, dois de Tarciane e Gi Fernandes.

A campanha do Brasil entrou para a história com o melhor desempenho alcançado: foram 13 gols marcados, 3 sofridos e apenas uma derrota (na semifinal, para o Japão). A equipe comandada por Jonas Urias passou invicta pela 1ª fase, vencendo a Costa Rica (donas da casa) e a Austrália e empatando – sem levar gols – com a forte seleção espanhola (que chegou para a disputa do Mundial após conquistar o título europeu Sub-19, além de ser vice-campeã Sub-20 em 2018).

Chegou às quartas-de-final do torneio com o segundo lugar de um grupo difícil. E só não foi o primeiro por uma diferença de um golzinho no saldo para a Espanha. Na fase eliminatória, as brasileiras passaram pela Colômbia e caíram na semifinal – após muita entrega e um ótimo segundo tempo – diante da forte equipe japonesa, por 2×1.

Foto: Thais Magalhães/CBF

Fazia 16 anos que o Brasil não conquistava uma vaga na semifinal da Copa do Mundo sub-20. Em quatro das últimas cinco edições, a seleção brasileira foi eliminada ainda na primeira fase. Mas depois de um Mundial cancelado (em 2020) e com uma seleção menos experiente (por não ter disputado a Copa do Mundo sub-17), o Brasil quebrou alguns tabus.

E vale destacar que a preparação feita pela equipe para a competição não foi das melhores. A Sub-20 fez apenas dois jogos-treino na Granja Comary diante das equipes principais de Palmeiras e Flamengo e, nas vésperas do Mundial, elas jogaram contra o time feminino principal do Dimas Escazú e Nova Zelândia.

Foto: Thais Magalhães/CBF

“A gente sabe que enfrentar adversários do mundo e fazer amistosos internacionais é uma das partes fundamentais pra evolução da seleção em busca do mais alto nível. Vemos isso na equipe principal, como a cada jogo, diante de adversários de alto nível, a seleção evolui. Gostaríamos de ter feito mais jogos amistosos, mas com o que tínhamos em mãos e em cima do que foi possível fazer, a gente tirou proveito”, declarou Jonas antes da Copa.

+ SEMPRE JUNTAS: O LEMA QUE LEVOU A SELEÇÃO SUB-20 A QUEBRAR TABUS NO MUNDIAL

Embaladas pela metodologia de trabalho “Sempre Juntas”, a seleção sub-20 igualou a melhor posição que o Brasil já havia conquistado em 2006: a medalha de bronze. Emocionado após a conquista, o treinador fez questão de compartilhar o feito com outras gerações que passaram pela categoria.

Foto: Thaís Magalhães/CBF

“Quero dizer que essa vitória, essa medalha, traz muita gente com ela, que passou na história de cada um que está aqui. Esperamos mto que isso traga um olhar pras categorias de base, para que tenha investimento, cuidado e trato humano com essas mulheres maravilhosas que foram incríveis nessa Copa do Mundo. Que honra lutar ao lado delas e dessa comissão técnica. Sou apenas um porta voz de muita gente e das meninas do ciclo anterior que perderam o Mundial por conta da pandemia. Essa medalha vai para todos”, declarou pós-jogo contra a Holanda.

Da base para a equipe principal
Foto: Thaís Magalhães/CBF

O ótimo resultado alcançado chamou a atenção de torcedores e também de Pia Sundhage, treinadora da equipe principal, que acompanhou in loco alguns jogos da seleção mais jovem. Na última semana, durante a convocação da Seleção Principal para amistosos, a técnica parabenizou o desempenho da equipe sub-20 e afirmou que poderá aproveitar algumas atletas do plantel.

“A seleção Sub-20 tem alguns nomes interessantes também no ataque, essa é o motivo pelo qual tentamos trazer novas jogadoras, jovens jogadoras, para podermos fazer nosso ataque (da equipe principal) mais imprevisível. Acredito que teremos 3 ou 4 jogadoras dessa seleção (Sub-20) numa próxima convocação”, declarou.

Alguns nomes da equipe de base já tiveram a chance de estar na lista de Pia, como a zagueira Lauren e a lateral Bruninha (que chegaram a ser titulares em um amistoso contra a Argentina, em setembro de 2021) e a meio-campista Yayá, em 2019.

Foto: Thaís Magalhães/CBF

Além delas, a zagueira Tarciane (de apenas 19 anos) demonstrou muita qualidade e liderança dentro de campo. Não à toa, marcou dois gols no jogo que valia a medalha de bronze – um de pênalti e outro de bicicleta – e foi eleita como a terceira melhor jogadora da Copa do Mundo Feminina Sub-20. “Nós gostaríamos muito de estar na final, mas papai do céu quis que fosse assim. Conseguimos colocar o Brasil entre as três melhores do mundo com muita dignidade e entrega”, declarou a defensora.

Com revanche, Espanha se consagra no Mundial Sub-20

Foram muitos os embates entre Espanha x Japão ao longo dos anos nas categorias de base. No mais recente deles, a Young Nadeshiko conquistou o título do Mundial Sub-20 de 2018, vencendo as espanholas por 3×1 na Copa realizada na França.

(Foto: FIFA)

+ COPA SUB-20: JAPÃO É CAMPEÃO E NASCE UMA NOVA HEGEMONIA NO FUTEBOL FEMININO

Na ocasião, o título japonês completou o hall de conquistas da seleção asiática, que já havia conquistado o Mundial com a Sub-17 em 2014 e com a seleção principal em 2011. O Japão é o único país a conquistar títulos nas três categorias do futebol feminino.

Neste ano, sob o comando dos mesmos treinadores do último confronto (Pedro López pelo lado espanhol e Futoshi Ikeda no time japonês), as equipes duelaram e bastou apenas 27 minutos para que a Espanha abrisse uma vantagem de 3×0 sobre as adversárias. O Japão chegou a descontar no início do segundo tempo e sufocar a equipe espanhola, mas não conseguiu reverter o placar.

Com essa vitória, o time espanhol encerrou a invencibilidade do Japão na Copa do Mundo Feminina Sub-20, que era de nove jogos. A última derrota das orientais na competição foi de 1 a 0 para a Espanha na fase de grupos do Mundial da França, em 2018.

Espanha campeão da Euro Sub-19 (Foto: Reprodução/Twitter SeFutbolFem)

Além de vencer o Mundial Sub-17 em 2018, a Espanha coleciona conquistas importantes em seu futebol de base feminino. Já foi bicampeã da Eurocopa na categoria Sub-19 e vencedora do mesmo torneio na Sub-17 também.

Após a conquista inédita, três atletas espanholas receberam prêmios individuais no torneio: Inma Gabarro ganhou a chuteira de ouro (artilheira da competição com 8 gols) e a bola de prata do Mundial, Txell Font foi eleita como a melhor goleira e Salma Paralluelo foi premiada como a melhor jogadora da decisão, marcando dois gols na final.

“Estou chocada. Eu não posso acreditar no que conseguimos. Somos uma equipe incrível. Não tenho palavras para descrever o que fizemos para ganhar uma Copa do Mundo. Não entendo o que acabou de acontecer. Tenho a medalha pendurada no pescoço e ainda estou em choque. Vou levar alguns dias para acreditar que sou uma campeã mundial”, declarou Inma Gabarro após a conquista

O Japão ficou com o vice-campeonato e a atacante Maika Hamano foi a vice-artilheira da competição (4 gols no Mundial) e levou a chuteira de prata para a casa.

Quatro anos depois da mesma final entre Japão x Espanha, o Mundial Sub-17 nos deixa algumas lições. A principal delas reforça o quanto é importante o trabalho contínuo de base, a seriedade no desenvolvimento das atletas e a consistência do trabalho. Neste ano, o resultado da decisão foi diferente, mas em campo vimos a mesma filosofia aplicada por dois países que investem e desenvolvem a modalidade mais jovem, colhendo frutos no futuro.

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