Vasco já revelou Marta e hoje vive situação vergonhosa no futebol feminino

O Vasco é um dos times mais tradicionais do Brasil, não há dúvidas disso. Um clube com uma história gigantesca, não só de títulos, mas de lutas históricas contra o racismo e, mais recentemente, contra a homofobia. Um clube que revelou ninguém menos que a maior jogadora de futebol de todos os tempos, Marta. Mas que infelizmente hoje vive uma situação triste, tanto no masculino, quanto no feminino.

Se entre os homens, o Vasco teve um 2021 muito decepcionante, sem conseguir disputar o acesso em nenhum momento da Série B, entre as mulheres a situação é ainda mais complicada. O clube disputou o Campeonato Carioca no segundo semestre de 2021 e começa 2022 ainda sem ter acertado com as atletas os salários combinados.

Jogadores do Vasco tiveram posicionamento histórico contra a homofobia em partida da Série B em 2021 (Foto: Reprodução)

Na verdade, as jogadoras do Vasco recebem uma bolsa-auxílio, que não passa do valor de um salário mínimo (R$ 1.100 em 2021). Elas terminaram a disputa do Carioca em novembro e até esta quarta-feira, 5 de janeiro, ainda estão com dois meses de pagamento atrasados, conforme o próprio clube confirmou para a reportagem.

Enquanto o futebol feminino evolui em tantos outros clubes de camisa, o Vasco ainda não consegue oferecer uma estrutura minimamente profissional para as jogadoras. Um clube com tamanha tradição, que tem o orgulho de ter revelado Marta ainda nos anos 2000, quando a maior de todos os tempos vestiu a camisa cruzmaltina aos 14 anos, hoje vai ficando para trás dos seus principais rivais no Rio de Janeiro com relação ao que proporciona para as mulheres no futebol.

Marta fez um teste no Vasco quando tinha 14 anos e jogou no clube nos anos 2000

Uma jornalista vascaína fez uma denúncia no Twitter relatando todos os problemas sofridos pelas jogadoras do Vasco. As atletas só podiam se alimentar no clube quando tinham atividades em dois períodos, se tivessem apenas um treino em meio período, não poderiam comer lá. Além disso, elas recebiam apenas um uniforme para os cinco dias de treino na semana, tendo que lavá-lo diariamente para reutilizar o mesmo uniforme a semana toda. A reportagem do Dibradoras confirmou a veracidade dessas informações.

 

Entramos em contato com o Vasco, que se manifestou por meio de nota. “O clube informa que tem trabalhado incansavelmente em busca de uma solução para regularizar a situação o mais rápido possível. O Vasco informa ainda que na apresentação das jogadoras ainda em Janeiro, já estarão encaminhadas soluções para os problemas relacionados à alimentação e aos uniformes das equipes femininas de treino e jogo.”

O clube ainda mencionou melhorias que pretende fazer em 2022. “Importante também ressaltar que em 2021 o clube batalhou junto à prefeitura de Caxias para que as meninas voltassem a treinar na Vila Olímpica, além de receberem suplementação. A partir de agora vão contar também com nutricionista exclusivo para a modalidade e coach esportivo. O Departamento de Futebol Feminino informa, ainda, que várias iniciativas de curto prazo estão em curso para garantir que a modalidade se torne não apenas autossuficiente financeiramente, mas que possa aumentar seus investimentos através de projeto incentivados, plano de marketing específicos para patrocinadores exclusivos e produtos licenciados.”

Independentemente dos problemas financeiros pelos quais o clube passa, não dá para aceitar as condições de trabalho às quais essas atletas estão sendo submetidas. Não há justificativa para não fornecer uniformes para elas treinarem, comida para elas se alimentarem. São custos básicos, e não é a economia deles que vai fazer o Vasco se recuperar das dívidas que tem.

Sempre haverá aqueles que aparecerão para dizer que “futebol feminino não dá dinheiro”, como se isso fosse 1. verdade, 2. desculpa para tratar atletas dessa forma. Vale dizer que há muitos outros clubes no Brasil e no mundo que estão mostrando o potencial do futebol feminino, conseguindo patrocinadores exclusivos para as mulheres e fornecendo uma estrutura profisional para elas. Não existe nenhum negócio que vá dar lucro antes que haja investimento nele. Se um clube não consegue sequer investir na alimentação das atletas, como pode exigir que elas tragam qualquer tipo de retorno?

Foto: Divulgação/CRVG

Além disso, não há nada que explique um clube do tamanho do Vasco negar alimentação para seus atletas em qualquer modalidade. É o mínimo.

Um time de futebol feminino para ter uma condição básica de disputar o que o Vasco disputa – Campeonato Carioca e Série A2 do Brasileiro – precisa de um investimento de R$ 1 milhão ou no máximo R$ 2 milhões POR ANO. A folha salarial MENSAL do futebol masculino do Vasco na Série B era mais do que o dobro disso. De novo, não é a economia com a alimentação ou o uniforme das atletas do feminino que vai resolver os problemas financeiros nos quais o clube se afundou nos últimos anos. É, sim, uma gestão mais responsável no futebol como um todo.

Em conversa com a reportagem, o Vasco garantiu que esses problemas estarão resolvidos até a reapresentação das jogadoras em 2022, prevista para acontecer em 17 de janeiro. A gente espera que um clube tão importante para a história do futebol retome sua tradição também entre as mulheres.

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