Após afastamento de Caboclo, seleção feminina divulga carta de repúdio ao assédio

A seleção feminina de futebol entra em campo nesta sexta-feira para enfrentar a Rússia em amistoso preparatório para a Olimpíada. Mas antes do jogo, nas redes sociais, todas as jogadoras divulgaram um manifesto de repúdio ao assédio.

A nota escrita por elas em conjunto com a coordenadora de seleções femininas, Duda Luizelli, e a coordenadora de competições femininas da CBF, Aline Pellegrino, vem à tona cinco dias depois que o presidente da entidade, Rogério Caboclo, foi afastado da função justamente por causa de uma grave denúncia de assédio moral e sexual feita por uma funcionária.

Nossa luta por respeito e igualdade vai além dos gramados. Hoje, mais uma vez dizemos: não ao assédio!”, diz a postagem. 

É a primeira vez que jogadoras e dirigentes do departamento feminino da CBF se manifestam publicamente sobre o assunto. Antes delas, a técnica da seleção feminina, Pia Sundhage, falou sobre o tema em coletiva de imprensa realizada na quinta-feira.

“É algo muito sério, e eu adoraria explicar isso em sueco porque inglês não é minha línguas materna. Porque palavras são muito importantes”, disse Pia, quando questionada sobre a situação envolvendo Caboclo, presidente que fez o convite para que ela viesse treinar a seleção brasileira em julho de 2019.

“Essa é uma situação muito grave, algo sobre o qual conversamos. O que nós fizemos primeiro e acima de tudo foi informar para as jogadoras o que estava acontecendo e elas tiveram a chance de conversar sobre isso e ter sua opinião própria sobre. Cada uma de nós tem que ser responsável pelas suas respostas”, prosseguiu.

A treinadora também reforçou que a notícia “atropelou” a seleção feminina em meio a preparação olímpica. E que um esforço seria feito para que elas mantivessem o foco nos amistosos tão importantes na caminhada até Tóquio.

“No fim do dia, estamos dando mais um passo e estamos mais perto da Olimpíada. Sim, nós fomos “atropeladas” por toda a situação e acho que é importante voltar ao campo e tentar jogar 11 contra 11.”

Para além do papel que desempenham em campo, a seleção feminina também carrega a responsabilidade de representar a luta das mulheres por respeito na sociedade. É claro que, por terem sido sempre tão “rejeitadas” dentro da CBF, tão “ignoradas”, haveria um receio de se manifestar sobre um caso envolvendo o presidente da entidade que mais investiu no futebol feminino. Demorou alguns dias, mas a seleção feminina se manifestou. E deixou clara sua posição contra o assédio (crime pelo qual o presidente Rogério Caboclo está sendo acusado pela funcionária, que se afastou da CBF por problemas de saúde).

A seleção feminina joga contra a Rússia nesta sexta e depois contra o Canadá na segunda-feira nos últimos amistosos antes dos Jogos Olímpicos.

Leia a nota divulgada pelas jogadoras na íntegra: 

Todos os dias no Brasil, milhares de pessoas são acometidas e desrespeitadas com cenas de assédio, seja moral ou sexual. Especialmente nós, mulheres.

São brasileiras e brasileiros, vítimas de abusos e atos que vão contra nossos princípios de igualdade e construção de um mundo mais justo.

Dizer não ao abuso são mais do que palavras, são atitudes. Encorajamos que mulheres e homens denunciem!

Nossa luta por respeito e igualdade vai além dos gramados.

Hoje, mais uma vez dizemos: não ao assédio!

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