De salto alto e hijab, ela virou craque do futebol freestyle no Irã

Foto: Yasin Shahpiri

No Irã, desde 1979, as mulheres são proibidas de frequentar estádios de futebol. Em um país cheio de restrições aos direitos femininos, elas precisam viver a paixão pelo esporte mais popular do mundo longe das arquibancadas.

Mas se não podem torcer, as iranianas conquistaram um certo espaço jogando. É verdade que também há regras rígidas que elas precisam cumprir para seguirem com a bola nos pés, mas o futebol feminino ganhou popularidade por lá – onde só pode acontecer em locais fechados  (o famoso futsal) e com o uso do hijab na cabeça.

Ainda assim, elas jogam e jogam muito. E também esbanjam habilidade. Como é o caso de Hosna Mirhadi, jovem de 22 anos, que passou a vida jogando bola até sofrer uma lesão séria. Ela rompeu o ligamento do tornozelo e precisou passar por cirurgia, que acabou afastando-a dos gramados por um tempo e fez com que sua família não quisesse mais que Hosna voltasse às quadras. A solução encontrada por ela foi achar uma nova maneira de se divertir com a bola: o freestyle.

O estilo cheio de manobras para equilibrar a bola nos pés não é tão comum entre as mulheres do Irã. Na verdade, Hosna é pioneira e é uma das primeiras atletas a se aventurarem nessa modalidade. Hoje, a bola parece ter grudado em seus pés e não vai sair mais – seja de chuteira ou salto alto, ela segura o freestyle como ninguém.

“Eu tive uma lesão séria quando estava no primeiro ano de faculdade, rompi o ligamento e passei por cirurgia no pé. A partir daí, minha família não quis mais que eu jogasse futebol”, afirmou ela às dibradoras.

 

“Foi aí que eu comecei a fazer freestyle sozinha em casa. Eu sou a primeira atleta de freestyle do Irã”, orgulha-se.

Hosna começou a jogar futebol desde pequena com o irmão mais velho. Quando os familiares viram a habilidade dela, logo procuraram um clube onde a menina pudesse jogar. Até o dia de sua lesão, ela disputou campeonatos e defendeu a universidade onde estudava. Mas mesmo com o problema no pé, não desistiu de seguir jogando e foi buscar uma alternativa de continuar com a bola nos pés.

Treinando as embaixadinhas e manobras em casa, ela foi aprimorando sua habilidade até impressionar ainda mais os familiares. Ela divulga seus vídeos fazendo freestyle hoje em dia em seu Instagram e já conta com 12,5 mil seguidores acompanhando seu domínio da bola em lugares inusitados do Irã.

Como não poderia deixar de ser, Hosna já ouviu muitas vezes que “futebol não é coisa para mulheres”. Mas em vez de responder com palavras, preferiu dar a resposta com a bola. “A gente sempre ouve esse tipo de coisa. Mas acho que consegui provar que mulheres podem fazer tudo o que quiserem. Sempre tentei não responder isso em palavras, mas simplesmente continuava jogando. Acho que era a minha melhor resposta”, afirmou.

O sonho que cultiva hoje em dia é ter um lugar próprio para treinar seu freestyle e conquistar mais espaços para as mulheres na modalidade.

 

História

Engana-se quem pensa que as iranianas sempre foram proibidas de jogar bola. Na realidade, a modalidade tem até um pioneirismo no país. Na década de 1970, o futebol feminino despontou no Irã, com muitas adeptas, clubes se formaram para atender a demanda e até campeonato nacional foi organizado. Aconteceu, inclusive, amistoso internacional de clube iraniano com a seleção feminina da Itália na mesma época.

Mas aí veio a revolução iraniana de 1979 e acabou com tudo isso. O país adotou um regime islâmico rígido e restringiu bastante os direitos das mulheres, que passaram a ter regras para frequentarem espaços públicos e também foram proibidas de frequentarem eventos esportivos masculinos.

 

 

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Isso naturalmente brecou o desenvolvimento da modalidade, que não podia ser praticada nem nas escolas e universidades, como acontecia antes. No entanto, em 1993, houve um “renascimento” do futebol feminino no Irã por conta da pressão popular. Uma universidade impulsionou a formação de times de futsal e conseguiu autorização do governo para organizar a primeira competição oficial de futebol para mulheres desde a revolução. A partir daí, mais e mais times foram surgindo e, em 1997, o futsal passou a ser difundido nas escolas para as meninas.

Hoje em dia, as iranianas ainda são obrigadas a jogar de hijab, mas podem tirá-lo se estiverem jogando em um local sem a presença de homens. Além disso, times femininos não podem ter treinadores do sexo masculino.

 

As restrições para as mulheres nos estádios de futebol em jogos masculinos ainda prevalecem, apesar da pressão internacional para mudança dessa regra e dos movimentos femininos tentando mudar essa lei. Um caso recente envolveu até o disfarce de algumas torcedoras, que se vestiram de homem para conseguirem entrar no estádio.

De todas as formas, Hosna segue levando a inspiração do freestyle pra mais mulheres iranianas que cresceram com a paixão pelo futebol sendo restringida por leis ultrapassadas.

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