(Divulgação Globo)
Estamos no quarto dia de Copa do Mundo Masculina – realizada no Catar – e duas mulheres já entraram para a história do jornalismo esportivo brasileiro: Renata Silveira e Natália Lara. Ambas colocaram suas vozes no Mundial e se tornaram as primeiras mulheres a narrarem um jogo na TV aberta e no SporTV, respectivamente.
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Renata Silveira
O jogo entre Dinamarca e Tunísia entrou para a história porque uma voz feminina comandou a transmissão na maior emissora do país. Pela primeira vez, tivemos uma mulher narrando uma partida de Copa do Mundo masculina na TV aberta e Renata Silveira foi a dona desse feito.
Jornalista do Grupo Globo desde 2020, Renata se destaca por sua competência, por sua voz potente e imponente durante as narrações. E foi essa voz que deu o tom da partida.
“Depois de alguns muitos anos teremos uma narração feminina em uma Copa do Mundo em TV aberta. A Globo, que transmite Copas desde 1970. Hoje é um dia muito especial”, disse a jornalista na transmissão.
Richarlyson, ex-jogador e comentarista do Grupo Globo estava na transmissão e fez questão de compartilhar este momento com todos os telespectadores. “Satisfação é minha de estar representando e fazendo parte dessa sua estreia. Que Deus abençoe! Seja tudo de bom”.
Estreia e reencontro
Renata já viveu grandes momentos na narração brasileira, mas um deles a marcou: a partida de estreia da Dinamarca na Eurocopa, ano passado.
Durante o jogo contra a Finlândia, o meia dinamarquês Christian Eriksen caiu desacordado e teve uma parada cardíaca em campo, e precisou ser reanimado com um desfibrilador ainda no gramado. Foram 20 minutos de angústia que Renata viveu durante a transmissão, reportando do estúdio o que acontecia no Parken Stadium, em Copenhague, para os telespectadores. Depois do susto, o jogo recomeçou, e Renata fez uma de suas melhores transmissões no SporTV.
A partida de hoje marcou o reencontro dos dois. Ambos estreando em uma Copa do Mundo: Eriksen no campo e Renata no microfone.
Esta foi a terceira vez que Renata narrou jogos de Copa do Mundo, mas foi a primeira vez na TV Globo. “Cada Copa tem uma história e um marco. Em 2014 (pela Rádio Globo) eu nem imaginava fazer isso que faço hoje, foi uma coisa completamente nova e diferente. Acho que nem consegui aproveitar como deveria. Em 2018 (pelo Fox Sports) foi uma experiência muito legal, consegui aproveitar mais. Fiz vários jogos importantes, como os jogos do Brasil e narrei aquela final também. E ali foi o início da minha carreira, onde eu entendi que eu queria fazer isso. E agora, em 2022, eu me considero pronta. É uma Copa para aproveitar, fazer história e essa é uma conquista de todas nós. É um momento de celebração e de curtir muito porque do outro lado da TV outras mulheres vão estar se identificando e estarão felizes com essa conquista”, declarou Renata, em setembro, às Dibradoras.
Podemos dizer que o meia dinamarquês é um exemplo de superação. E Renata também. Há pouco tempo, vivíamos em represálias: mulheres eram proibidas de jogar futebol, de votar e de assumir postos importantes no mercado de trabalho. Hoje, meninas e mulheres – do passado, presente e futuro -, vão olhar para o dia 22 de novembro de 2022 e dizer: “eu também posso, eu também consigo.”
A vez de Natália Lara
Natália Lara também fez história no Grupo Globo. Pela primeira vez, a jornalista narrou um jogo de Copa do Mundo no SporTV. “É um misto de sentimentos. A animação, a ansiedade, a felicidade e tantos outros. Chega a ser difícil de descrever. Toda a carreira mirando um momento como esse, e ele chegou”, escreveu Natália no Instagram. A partida de estreia foi um empate de 1 a 1 entre Estados Unidos e País de Gales.
Durante a transmissão, o comentarista Paulo César Vasconcellos, que está em sua 11º Copa do Mundo, falou sobre a importância deste momento. “A primeira grande história desse jogo é ter a primeira mulher narrando um jogo de Copa do Mundo, no SporTV. E saiu-se muito bem! Parabéns”. Natália agradeceu. “Um prazer estar com vocês dividindo esse momento, muito, muito emocionante. Tenho certeza que, a partir de agora muitas mulheres que nunca se sentiram representadas, agora vão”, completou.
Além de ser a primeira narradora do canal por assinatura em Copa do Mundo, Natalia Lara, que tinha menos de um ano em 1994, quando o Sportv transmitiu o seu primeiro Mundial, se tornou também a mais jovem da equipe a exercer esta função na cobertura.
“O momento das mulheres é muito importante. O movimento feminista fez com que em diversas áreas tenhamos mulheres atuando na linha de frente. Eu estou representando um monte de mulheres que lutaram tanto para estar aqui. É um momento maravilhoso. É o reconhecimento pelo sonho que eu tinha desde o começo. Eu acreditei” declarou a narradora ao site.
Linha do tempo das mulheres na narração no Brasil
A história da narração nas vozes de mulheres começou lá atrás, nos anos 60 com uma equipe 100% feminina cobrindo o futebol masculino pela Rádio Mulher. Claudete Troiano narrou, e Jurema Yara e Leilah Silveira comentaram.
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Três décadas depois, Luciana Mariano se tornou a primeira mulher a narrar na televisão brasileira, transmitindo o Campeonato Pernambucano na TV Pernambuco. Após se afastar dos microfones, ela foi chamada pela ESPN – onde permanece até hoje –19 anos depois de seu último trabalho narrando.
Em 2018 o Esporte Interativo e a Fox Sports lançaram programas para promover narradoras. Pelo “Narradora Lays”, Viviane Falconi e Elaine Trevisan – hoje na ESPN – foram as primeiras mulheres a narrar um jogo de Champions League. Vivi, a vencedora, foi para a Espanha narrar o jogo da volta entre Real Madrid e Bayern de Munique no Santiago Bernabéu.
Milla Garcia, que também participou do reality do Esporte Interativo, já é uma voz conhecida no mundo esportivo. Ela foi a primeira mulher a narrar um jogo de futebol na Arena Corinthians e hoje transita em diversas plataformas e competições.
O “Narra Quem Sabe”, da Fox, recebeu mais de 300 inscrições e selecionou Isabelly Morais, a própria Renata Silveira e Manuela Avena para dois meses de treinamentos e testes para que elas pudessem narrar jogos da Copa do Mundo da Rússia.
Hoje na TV Band, Isabelly se tornou em 2017 a primeira mulher a narrar uma partida de futebol na história da Rádio Inconfidência, com América-MG e ABC pela Série B do Campeonato Brasileiro masculino. Já Manuela também conquistou um espaço importante ao ser a primeira mulher a narrar uma partida da Copa do Nordeste pela TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia, em 2020.
Outro fruto do “Narra Quem Sabe” foi Natália Lara, contratada em 2021 pelo Grupo Globo após passar por TV Cultura, DAZN e ESPN. E assim vamos nos acostumando a ver e ouvir futebol na voz delas, que com empenho, competência e dedicação ocupam cada vez mais espaços até então destinados a homens.
“Um recado para a todas as meninas: acreditem, é possível sim vocês fazerem, estarem onde quiserem estar”, reforçou Renata Silveira, primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo masculina na TV Globo.