Vai ter ou não vai ter transmissão do Brasileiro feminino pela internet?

A temporada de 2022 do Campeonato Brasileiro Feminino começou na última sexta-feira (04) quando o Palmeiras entrou em campo e venceu o Atlético-MG por 2×1. A partida inicial da competição contou com a transmissão do SporTV que é o canal da TV fechada que detém os direitos da competição – na TV aberta, a Band é a emissora que exibe o torneio.

Conforme adiantamos no site no dia 28 de janeiro, a Globo decidiu apostar de vez no futebol feminino e adquiriu os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro feminino até 2024. Até lá, a Band têm exclusividade na transmissão até 2023.

+ COM SUPERCOPA, GLOBO APOSTA NO FUTEBOL FEMININO E FECHA TRANSMISSÕES ATÉ 2024

Antes das emissoras entrarem na disputa pela exibição do futebol das mulheres na TV, a plataforma digital Eleven (que atuava como MyCujoo) era a responsável pela transmissão dos jogos desde 2015. No entanto, para 2022, ainda não houve acordo entre a empresa e a CBF para a exibição do Brasileiro Feminino. E, quando a temporada de 2022 começou, o susto de grande parte dos torcedores foi enorme ao perceber que apenas 2 ou 3 jogos por rodada poderiam ser vistos (somente os que teriam transmissão da TV).

Em contato com Eleven e CBF, o Dibradoras confirmou que as empresas ainda estão em negociação para a transmissão dos jogos. Enquanto isso não se concretizou, os clubes ficaram responsáveis por exibir seus jogos por meio de seus canais nas redes sociais.

Eleven x futebol feminino

A plataforma digital realizou sua primeira transmissão do futebol feminino, ainda como MyCujoo, em 2015. O primeiro jogo foi um amistoso feminino entre FC Zürich Frauen x FC St.Gallen. E nos últimos três anos, a Eleven exibiu o Brasileirão Feminino da Série A1, A2 e os torneios sub-16 e sub-18.

“Ficamos muito felizes com tudo o que vem acontecendo com o futebol feminino no Brasil e com o aumento do interesse das mídias tradicionais e do público. Sempre acreditamos no futebol feminino como produto, e por isso sempre investimos na transmissão das principais competições. Tanto que tivemos mais de 400 jogos transmitidos no último ano”, afirmou Terence Gargantini, responsável pelas operações da Eleven Sports no Brasil e na América Latina.

Segundo Terence, a audiência das partidas femininas comprovam o aumento do interesse do público para acompanhar a modalidade. “A respeito da audiência, comprova o que imaginávamos, já que tivemos um aumento de 68% de 2020 para 2021. O brasileiro está se encantando com o futebol feminino e ter cada vez mais jogos transmitidos só vai acelerar esse processo. Temos um orgulho enorme de termos sido pioneiros e esperamos continuar por muito tempo sendo uma plataforma de destaque no futebol feminino brasileiro.”

A Eleven declarou ter interesse na transmissão do Brasileirão feminino, em todas as duas divisões – inclusive as competições da base e regionais – e também a série C, que terá sua primeira edição em 2022.

“Ainda estamos em negociações com a CBF, que sempre foi uma grande parceira. O futebol feminino sempre foi importante para nossa plataforma e segue como uma de nossas prioridades. Esperamos que nesta e nas próximas temporadas continuemos a fazer essa ponte entre o público e os clubes e atletas. Em todos os cantos do Brasil”, afirmou Terence.

Questionamos a Eleven e a CBF se houve um amento sobre o valor cobrado para a exibição das partidas e as duas empresas não falam sobre números. “Não podemos comentar valores por nossas restrições contratuais, mas ressaltamos novamente que acreditamos no produto lá atrás. E seguimos acreditando. A valorização é normal e fruto de muito trabalho, de todos os envolvidos. Nosso último contrato foi para o triênio 2019, 2020 e 2021 e no último ano transmitimos mais de 400 jogos, sendo séries A1, A2, sub-18 e sub-16”, declarou a Eleven.

Em nota, a CBF afirmou que “valoriza e entende como fundamental para divulgar o futebol feminino e a realização das transmissões das partidas. As tratativas seguem em andamento. Assim que houver uma conclusão, divulgaremos as informações.”

A importância da visibilidade

Diferente do que acontece com o futebol masculino – um produto que já é comercializado há décadas e consolidado – o futebol feminino ainda está buscando a popularidade. Quando aconteceu a 1ª edição do Brasileirão Feminino, em 2013, os jogos aconteciam às cegas. Não havia transmissão por parte das emissoras, da CBF, nem dos próprios clubes – a rede social ainda não era considerada como uma possibilidade de plataforma para a exibição dos jogos.

Foram anos de jogos realizados com pouquíssima adesão do público, da imprensa e totalmente sem registro de imagens. Em uma época em que ninguém, de fato, sabia nada sobre o futebol delas, a exibição das partidas pela internet fez toda a diferença para a disseminação da modalidade.

Para se ter uma ideia, em 2017, a Libertadores Feminina aconteceu no Brasil. Manaus sediou o torneio e as partidas só puderam ser assistidas pelo Facebook da Conmebol, organizadora da competição.

No mesmo ano, a partida entre Iranduba x Santos – que valia vaga na final do Brasileirão – registrou um recorde de público na história da modalidade, levando mais de 25 mil pessoas à Arena da Amazônia. Nenhuma emissora transmitiu o jogo que acabou em 2×1 para as Sereias da Vila com gols marcados por Maria e Ketlen. Mayara foi quem descontou para o Hulk da Amazônia.

No ano seguinte, em 2018, a seleção brasileira disputou a Copa América – em busca de uma vaga na Copa do Mundo da França – com exibição apenas por parte da CBF (pela internet) na reta final do campeonato. Ou seja, após anos de invisibilidade e de cobranças para que o futebol feminino pudesse ser tratado com mais interesse por parte da mídia, ainda é impensável aceitar que apenas 2 ou 3 jogos sejam transmitidos por rodada.

Iranduba x Santos na Arena da Amazônia em 2017 (Créditos: Bruno Kelly/ALLSPORTS

Atualmente a modalidade vive outro momento. Há patrocinadores que investem no campeonato, há engajamento e investimento por parte dos clubes, a visibilidade aumentou e os torcedores querem ver seus times em campo.

Ao mesmo tempo, apesar de nenhum aumento dos valores para a exibição do torneio ter sido divulgado, é natural imaginar que um contrato de transmissão do Brasileiro feminino em 2022 (seja na TV ou nas plataformas digitais) tenha um preço mais alto do que o mesmo contrato em anos anteriores. Isso faz parte da valorização do produto. Se hoje tem mais gente interessada em ver, é natural que se cobre mais para quem vai querer transmitir.

O mercado do futebol masculino, inclusive, teve um crescimento exponencial justamente no momento em que passou a vender direitos de transmissão. Hoje, essa é a principal fonte de receita dos clubes. No futuro, imagina-se um caminho parecido para o futebol feminino também, é isso que pode marcar um desenvolvimento consistente para a modalidade.

Ao site, a Eleven declarou que mais do que um negócio, a transmissão dos jogos das mulheres faz parte das prioridades da plataforma que assume todo o risco da operação. “Mais importante que o modo de negócio aplicado por nós é preciso entender que, como em todo negócio, é preciso um período de maturação, onde o investimento ainda não se paga. Mas é investimento. Acreditamos no produto e, apesar de buscarmos, sim, o lucro, sabemos que não será imediato. Isso nunca foi um problema”, declarou Terence.

Além disso, o responsável pelas operações da plataforma afirmou que a Eleven está também em negociação com todas as federações estaduais para transmissão todos os estaduais de futebol feminino.

A 2ª rodada do Brasileirão começa no dia 12 de março (sábado) e termina no dia 14 (segunda-feira). Será que até lá a negociação entre Eleven x CBF será concretizada? O público segue aguardando ansiosamente.

Compartilhe

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *