Pia na Seleção: o que deu errado na Copa e como seguir em frente

(Foto: CBF)

De maneira precoce e apática, a Seleção Feminina de Futebol se despediu da Copa do Mundo da Austrália a Nova Zelândia ao empatar em 0x0 com a Jamaica no terceiro jogo da fase de grupos.

É claro que o resultado foi inesperado e, de certa forma, classificado como um vexame – afinal, a última vez em que o Brasil foi eliminado ainda na fase de grupo de um Mundial foi em 1995 (na segunda edição oficial da competição).

O debate começou a esquentar após a convocação das 26 atletas que iriam representar o país na 9ª edição do Mundial, quando a treinadora Pia Sudhage anunciou veteranas improváveis, como a goleira Bárbara e a zagueira Mônica – atletas que não fizeram parte do ciclo de renovação da equipe após os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021.

De toda forma, a renovação estava em curso e essa seria a primeira Copa disputada por 11 das 23 atletas: Camila (goleira), Antônia, Bruninha, Lauren, Duda Sampaio, Kerolin, Adriana, Ana Vitória, Ary Borges, Nycole e Gabi Nunes. As suplentes também eram estreantes: Tainara, Angelina e Aline Gomes.

Mas, para além dos nomes e da falta de experiência em uma competição como essa, Pia cometeu alguns erros e não soube encorajar sua equipe. Os resultados diante de França (derrota por 2×1) e Jamaica (empate sem gols) mostrou fragilidades e limitações das atletas dentro das quatro linhas e expôs passividade por parte da treinadora, que não conseguiu mudar o time em momentos cruciais e pouco usou as atletas que estavam no banco.

Em entrevistas, Pia sempre destacou a importância de ter jogadoras no banco de reservas que seriam capazes de entrar em campo e mudar o jogo – ela até usava uma expressão “super-subs “, de super reservas -, mas a técnica pouco ousou quando se viu pressionada. Gabi Nunes e Duda Sampaio, por exemplo, não tiveram minutos suficientes em campo para, quem sabe, dar um outro ritmo ao jogo, e Angelina sequer foi utilizada.

A derrota para a França, com um gol sofrido aos 38 minutos finais após um erro grotesto de marcação em cobrança de escanteio, fez com que o Brasil não tivesse tempo hábil para reagir. De toda forma, o placar era de se esperar, já que o histórico entre Brasil e França mostra amplo domínio da equipe europeia, mas o resultado desse jogo abalou demais a equipe e colocou o Brasil contra a parede: era necessário vencer a Jamaica a qualquer custo.

As atletas sentiram o peso do jogo decisivo e, para esse duelo, Marta passou a ser a figura central do momento. A camisa 10 ficou distante dos gramados por dez meses, após ter rompido o ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho esquerdo, em abril de 2022 e voltou a ser convocada pela treinadora sueca em janeiro deste ano, mas deixou de ter a titularidade garantida.

Na Copa, Marta atuou por alguns minutos diante do Panamá (quando o placar já estava sacramentado) e entrou em campo no duelo contra a França aos 84 minutos de jogo quando a equipe já estava apática e atrás do placar. Mas, para o duelo contra a Jamaica, a jogadora se tornou peça primordial.

Na coletiva de imprensa pré-jogo, Marta participou da entrevista ao lado de Pia, dando indícios de que seria titular no jogo que valia a permanência do time na Copa. “O jogo vai ser nervoso porque é praticamente um mata-mata que começou antes do previsto. Mas a gente tem uma equipe qualificada e, com a minha experiência e de outras atletas que já viveram isso, vamos fazer tudo pra manter a equipe focada e confiante”, declarou a Rainha.

Porém, dentro de campo, aconteceu o que era previsto: a Jamaica se fechou defensivamente e o Brasil não conseguiu furar o bloqueio da adversária. O desempenho das atletas nesse confronto foi muito abaixo do esperado, com muitos erros de passe e pouca precisão no ataque. Uma partida apática e decepcionante que, mais uma vez, evidenciou a demora e falta de estratégia por parte da treinadora para mudar o rumo do jogo e um abalo psicológico por parte das atletas.

Para efeito de comparação, a equipe australiana passou por situação parecida no Mundial: após vencer na estreia e ser derrotada de virada pela Nigéria, as donas da casa foram obrigadas a brigar pela classificação enfrentando o Canadá, atual campeão olímpico. E com uma mentalidade forte, construíram seu resultado dentro de campo, vencendo as adversárias por 4×0 e com um detalhe importante: sem contar com Sam Kerr, a maior estrela do time, durante toda a fase de grupos.

Na coletiva pós-jogo, de maneira fria e simples, Pia admitiu a responsabilidade pela eliminação – assim como fez em Tóquio-2021 – e fez questão de ressaltar que precisa olhar para trás e buscar soluções para os problemas encontrados.

“No final o resultado é minha responsabilidade, mas não minha apenas. Tem a ver com a forma como trabalhamos, a nossa preparação. Eu realmente tenho que pensar se poderia ter feito diferente, mas agora não tenho resposta para isso. Nós fizemos uma boa preparação, bons jogos e bons treinamentos”, disse. “No fim das contas, a Jamaica jogou defensivamente e foi um 0 a 0. Não é uma grande diferença entre falha e sucesso.”

Ainda não se sabe se Pia Sundhage seguirá no comando do time brasileiro. Em sua última coletiva, a treinadora reforçou que seu contrato com a CBF segue até agosto de 2024. De toda fora, a presença de Pia no Brasil foi positiva em muitos aspectos, principalmente fora de campo. Ela organizou uma estrutura de trabalho voltada para a equipe principal e de base, ajudou a melhorar as condições oferecidas para as atletas e iniciou o processo de renovação do time. Com o peso de ser bicampeã olímpica, conseguiu cobrar melhorias e ser ouvida pela entidade.

Mas seu último ato na Austrália foi decepcionante. Um dia após a eliminação, Pia e seus assistentes técnicos se despediram do staff e voltaram para a Suécia, deixando as atletas e parte da comissão na espera de seus retornos. Não pegou bem essa saída rápida, em menos de 24h após uma das piores derrotas da história da seleção. Esperava-se um pouco mais de presença e acolhimento por parte da treinadora.

Agora, só resta esperar pela decisão da CBF. Se Pia não permanecer no comando da seleção – o que é até compreensível – a nova comissão que assumir o comando não pode abrir mão da renovação. O foco já está voltado para Paris-2024 e é necessário que o time brasileiro se fortaleça para enfrentar os próximos desafios.

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