A técnica Pia Sundhage convocou a seleção brasileira para os dois últimos jogos antes da Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia. Os confrontos serão contra Inglaterra (pela Finalíssima) e Alemanha, em 6 e 11 de abril, respectivamente. Muitos dos nomes chamados nesta segunda-feira (20) devem se repetir no Mundial, salvo exceções que estão fora por lesão e devem se recuperar a tempo. Assim, o Brasil deve ir à Copa de 2023 com quase 70% do elenco renovado.
De todas as jogadoras que disputaram a Copa da França e os Jogos Olímpicos de Tóquio, apenas oito permanecem na seleção brasileira: Letícia (goleira); Kathellen e Rafaelle (zagueiras); Tamires (lateral); Bia Zaneratto, Debinha, Geyse e Marta (atacantes). Delas, Kathellen participou apenas do Mundial de 2019, enquanto Rafaelle esteve só nas Olimpíadas disputadas em 2021. Uma mudança no elenco de quase 70% em relação à equipe comandada por Vadão na França há quatro anos e ao elenco levado pela própria Pia nas últimas Olimpíadas.
Entre as jogadoras experientes, a atacante Ludmila já é uma ausência confirmada para a Copa do Mundo por causa de lesão. A jogadora que esteve nas últimas grandes competições com a seleção rompeu o ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho direito no dia 12 deste mês jogando pelo Atlético de Madrid e está fora do restante da temporada.
Outras atletas com vaga praticamente garantidas para o mundial ficaram ausentes desta lista por causa de lesão, mas têm perspectiva de retornarem a tempo. São os casos da goleira Lorena (estiramento no LCA), da zagueira Tainara (tornozelo) e Debinha (joelho). “Nós falamos com os clubes para entender o que seria melhor para a Debinha e a Tainara. Não para a seleção, para elas. Elas precisam estar 100%. Não estou preocupada, elas vão voltar”, afirmou Pia, confiante sobre o retorno delas para a Copa, durante a coletiva de imprensa na sede da CBF, no Rio de Janeiro, após a convocação.
Um dos setores da seleção brasileira que mais sofreu com lesão foi o meio campo. A Pia chegou a fazer 11 testes na busca por uma dupla de volantes (a lista contou com Adriana, Angelina, Ary Borges, Duda Santos, Kerolin, Luana, Duda Francelino, Duda Sampaio, Ana Vitória, Yaya e Julia Bianchi). Jogadora do OL Reign (EUA), Angelina vinha em uma caminhada promissora na função, mas rompeu o LCA na final da Copa América – ela retomou trabalho leve com bola na última semana, mas dificilmente retorna ao alto nível físico e técnico a tempo da Copa. Desde a Copa América, a dupla mais usada pela treinadora sueca foi Ary Borge e Kerolin.
Nos quase quatro anos à frente da seleção brasileira, Pia Sundhage convocou 92 atletas, sendo que 34 jogaram pela primeira vez na equipe principal. A mais jovem novidade é Aline Gomes, a meio-campista da Ferroviária tem apenas 17 anos e é uma promessa que já vem desempenhando papel de destaque nas categorias de base da seleção brasileira. “Falamos sobre o lado esquerdo, contra-ataques, vi Aline jogando a Copa sub-20. Se você vê a jogadora percorrendo essa jornada, sub-17 e sub-20 até chegar no profissional é importante, isso ainda não estava sendo feito aqui. Isso é o que deveria acontecer e estou feliz que está acontecendo agora”, comentou Pia, sobre chamá-la para a equipe principal a quatro meses do Mundial.
De todos os testes realizados pela técnica Pia na seleção brasileira, algumas se firmaram, outras não. Fato é que 12 jogadoras do grupo que ganha forma para defender o Brasil na Copa têm até 25 anos. Portanto, praticamente metade desse grupo provavelmente também estará apto para o próximo ciclo até a Copa do Mundo de 2027, quando boa parte dessas jovens jogadoras deverá chegar mais madura e entrosada. A média de idade das atletas convocadas pela Pia para enfrentar Inglaterra e Alemanha é de 26 anos.
“Esses anos com a seleção brasileira foram fantásticos, mas acho que os melhores anos ainda estão por vir, com toda essa comissão técnica e porque as jovens estão chegando. Estamos indo para uma Copa do Mundo que várias jogadoras vão estrear nesta competição. Portanto, na próxima vez, que elas forem para uma Copa ou Olimpíadas, terão mais experiência”, prevê Pia.
É uma preocupação que visa um ciclo de trabalho na seleção brasileira feminina mais duradouro para que seja possível, de fato, vislumbrar chances mais concretas de o Brasil “voltar a ser protagonista dentro dessas grandes competições”, como planeja a gerente geral de seleções femininas, Ana Lorena Marché. Em entrevista exclusiva ao Dibradoras, ela afirmou que o plano da CBF é que a seleção feminina volte a chegar às semifinais para poder disputar medalhas de novo nas grandes competições.
“Sei que continuamos na 9ª colocação do ranking, é algo que me deixa um pouco triste, porque tem muita relação com a forma como o futebol feminino está sendo jogado no geral. Todo mundo está melhorando. Vou continuar dizendo que precisamos acompanhar as melhores seleções do mundo. Quando olhamos para Estados Unidos, Europa ou Japão, as coisas estão acontecendo muito rapidamente. Temos de ficar alerta, caso contrário ficaremos pra trás. Esse tipo de preparação será muito importante para que tenhamos sucesso, talvez não seja neste ano ou no próximo ou perto disso, porque será quando tivermos jogadoras mais experientes”, avalia Pia.
Até lá, porém, a seleção brasileira promete enfrentar um desafio grande nesta Copa. Depois de tantos anos com um trio formado por Marta, Cristiane e Formiga, o Brasil passou pela inevitável renovação. Não falta talento e habilidade às novatas. Mas experiência em grandes eventos só se ganha competindo. Tratando-se de Copa do Mundo e Olimpíadas, a atual equipe brasileira é bastante inexperiente. É um elenco que tem apenas cinco jogadoras acima dos 30 anos – Luciana, Rafaelle, Tamires, Debinha e Marta. Nesse contexto, a presença da maior jogadora brasileira de todos os tempos na sexta Copa do Mundo dela será um diferencial e tanto.
Aos 37 anos, Marta ainda tem bola pra gastar. A atacante ficou se recuperando por quase 11 meses da lesão mais grave da carreira. Mas voltou a jogar em fevereiro com a seleção brasileira e provou que segue sendo decisiva: em poucos minutos em campo, ela deu uma assistência para a Debinha marcar o gol da vitória brasileira sobre o Japão na She Believes Cup. Após o fim do torneio, Marta reconheceu que ainda tinha muito o que recuperar fisicamente até a Copa. Tratando-se da maior artilheira de Copas do Mundo, pode-se esperar que a jogadora buscará bater mais recordes na Austrália e Nova Zelândia.
“A Marta, depois que se lesionou, está mais forte. Isso me surpreendeu e me deixou feliz. A presença dela é muito importante, ela lidera pelo exemplo. Como um time, a gente precisa do passe final dela, que faz muita diferença. A energia dela é contagiosa. Ela vai ajudar a seleção a jogar melhor. Ela já fez grandes coisas, mas acho que o melhor momento dela ainda pode estar por vir”, disse Pia.
Além dos feitos em campo, a Camisa 10 do Brasil tem colaborações que extrapolam as quatro linhas. A braçadeira que a capitã carrega no braço será ainda mais simbólica nesta Copa. Marta é o elo entre uma geração pioneira, que lutou muito para que as jogadoras que chegaram recentemente à seleção possam usufruir de mais estrutura e condições profissionais no cenário do futebol feminino. Nos bastidores, Marta é a ídola tida como referência. Ao mesmo tempo que conhece os truques para descontrair o ambiente, a craque sabe cobrar empenho das companheiras e chamar a responsabilidade em momentos decisivos.
Veja as convocadas para enfrentar Inglaterra e Alemanha
Goleiras
Letícia Izidoro (Corinthians) – 28 anos
Luciana (Ferroviária) – 35 anos
Camila (Santos) – 22 anos
Zagueiras
Kethellen (Real Madrid) – 27 anos
Lauren (Madrid CFF) – 20 anos
Antonia (Levante) – 28 anos
Rafaelle (Arsenal) – 32 anos
Fernanda Palermo (São Paulo) – 26 anos
Tamires (Corinthians) – 35 anos
Tarciane (Corinthians) – 20 anos
Yasmim (Cornthians) – 26 anos
Bruninha (NJ/NY Gotham) – 21 anos
Meia-campistas
Gabi Portillo (Corinthians) – 28 anos
Ana Vitória (Benfica) – 23 anos
Duda Sampaio (Corinthians) – 21 anos
Duda Francelino (Flamengo) – 27 anos
Aline Gomes (Ferroviária) – 17 anos
Adriana (Orlando Pride) – 26 anos
Ary Borges (Racing Louisville) – 23 anos
Kerolin (North Carolina) – 23 anos
Ingryd (Ferroviária) – 25 anos
Atacantes
Nycole (Benfica) – 23 anos
Gabi Nunes (Madrid CFF) – 26 anos
Geyse (Barcelona) – 24 anos
Bia Zaneratto (Palmeiras) – 29 anos
Marta (Orlando Pride) – 37 anos