Técnico John Herdman com a seleção canadense feminina antes da disputa da medalha de bronze nas Olimpíadas de 2016. (Foto: Robert Cianflone – FIFA/FIFA via Getty Images)
Entramos na última semana da Copa do Mundo no Catar e durante o torneio conseguimos relacionar o maior evento do futebol masculino com as mulheres. Falamos sobre os costumes e regime opressores do país e mostramos um pouco das impressões das profissionais que cobrem o torneio in loco.
A Copa delas acontece em 2023 na Austrália e na Nova Zelândia e pudemos observar que, de alguma maneira, o futebol feminino também pautou o Mundial deles. Acompanhem:
Seleção Canadense teve técnico que comandava seleção feminina
O Canadá não disputava uma Copa do Mundo desde 1986, e a solução para voltar a figurar entre os classificados veio de dentro da própria “casa”. John Herdman treinou a seleção feminina canadense por sete anos, conquistando dois bronzes olímpicos seguidos (2012 e 2016), além do Pan de 2011, em cima do Brasil.
Ainda com Herdman, o Canadá fez a sua segunda melhor campanha em Copas do Mundo femininas, alcançando as quartas de final. Em 2021 viria o ouro em Tóquio, já com Beverly Priestman no comando – ela chegou a ser auxiliar dele antes.
Ao mudar o treinador da seleção masculina em 2018, Steven Reed, presidente da Canada Soccer, declarou: “Nós damos as boas-vindas a John para este novo cargo, já que ele traz o seu sucesso comandando a seleção feminina nos últimos seis anos com suas habilidades do mais alto nível para continuar a desenvolver a seleção de futebol masculina”.
Na época da troca no comando, as atletas da seleção lamentaram a mudança. Principal estrela do time, Christine Sinclair disse “estar sem palavras”. Já no elenco masculino, diversos atletas escolhidos por Herdman para irem ao Catar enalteceram os feitos da equipe feminina como um exemplo a ser seguido por eles.
Nas Eliminatórias da Concacaf, Herdman e seus comandados superaram Estados Unidos e México com a melhor campanha do torneio, além de quebrarem um tabu de 36 anos do país sem disputar Copas no futebol masculino. No Catar, o Canadá não passou da fase de grupos, mas Herdman tinha como ideia utilizar o Mundial de 2022 como preparatório para quando o país sediasse o Mundial em 2026 junto de EUA e México.
Técnico do Japão revelou inspiração na seleção feminina do seu país
Japan manager Hajime Moriyasu bows to the fans to thank them for their support pic.twitter.com/kCTG6VOoix
— GOAL (@goal) December 5, 2022
A campanha do Japão nesta Copa do Mundo foi impressionante. No mesmo grupo de Alemanha, Espanha e Costa Rica, o time asiático ficou em primeiro do Grupo E.
Dosando muito bem a intensidade do jogo e fazendo alterações determinantes, a seleção japonesa primeiro venceu os alemães (que pela segunda vez seguida ficaram de fora do mata-mata) e depois a Espanha, ambos por 2 a 1.
Nas oitavas, segurou 1×1 com a Croácia e caiu nos pênaltis, desperdiçando todas as suas cobranças. Mesmo assim, a passagem pelo Catar foi marcante. Hajime Moriyasu se tornou o primeiro técnico asiático a conquistar a liderança de sua chave num Mundial.
Alinhado com o projeto para incentivar o desenvolvimento do futebol japonês, Moriyasu tem a meta de conquistar com o país um título de Copa do Mundo até 2050. E ele tem uma importante influência para isso.
“Fui influenciado de várias maneiras. Aprendi com elas como reagir rapidamente a uma bola perdida e torná-la minha. Estou aprendendo com a experiência de sucesso que elas tiveram ao vencer a Copa”.
A Copa que as mulheres conquistaram para o Japão foi a de 2011, quando venceram seleções como Estados Unidos (na final), Alemanha e Inglaterra. Não à toa são uma fonte de inspiração para Moriyasu.
Antes do Catar, Seleção Americana masculina aceitou acordo para dividir premiação igualmente com atletas do feminino
Os Estados Unidos não conseguiram vencer a Holanda nas oitavas de final desta Copa do Mundo e deram adeus ao torneio. Graças à acordo firmado em maio deste ano entre associações que representam os atletas de futebol do país e a US Soccer (Federação de Futebol dos EUA), a equipe feminina receberá parte da premiação do Mundial do Catar destinada a eles.
A conquista histórica das atletas americanas por igualdade salarial inclui pagamentos idênticos de premiação para todas as competições internacionais de futebol, incluindo a Copa do Mundo da FIFA. A divisão vale também para o Mundial de 2023, disputado por elas.
Foram anos de pressão da seleção feminina dos Estados Unidos para o merecido reconhecimento pelos quatro títulos da Copa do Mundo Feminina, enquanto os homens sequer se classificaram para Rússia 2018 (o melhor resultado deles foi um 3º lugar no torneio inaugural, disputado em 1930, no Uruguai).
A participação dos homens no Catar redeu a eles prêmio de US$ 13 milhões (cerca de R$ 68 milhões). Com a divisão, a seleção feminina deve receber US$ 6,5 milhões (R$ 34 milhões), com a federação retendo 10%. Este valor é mais do que elas receberam pelos títulos dos Mundiais de 2015 (US$ 2 milhões) e 2019 (US$ 4 milhões ou R$ 20,4 milhões) somados.
Ex-jogadoras integrando a cobertura e reforçando representatividade como comentaristas
Tamires, Cristiane, Formiga, Alex Scott, Jennie Backie. O que, além de terem sido atletas, essas mulheres têm em comum? Elas estão quebrando barreiras e integrando equipes de cobertura da Copa do Mundo no Catar comentando jogos e repercutindo partidas.
Por aqui, o SporTV montou um time de peso com mais de 500 pessoas envolvidas na cobertura – sendo 73 no país sede do Mundial – para dar conta do maior evento de futebol do mundo, e incluiu mais mulheres nas transmissões. “Acreditamos que a conexão com a sociedade é fundamental. Queremos que as pessoas se enxerguem em nossa cobertura, nas histórias que vamos contar. Queremos criar identificação. O brasileiro vai se reconhecer quando assistir à Copa em alguma plataforma Globo”, afirmou na época da divulgação do projeto da emissora, Joana Thimóteo, diretora de eventos esportivos da Globo.
Formiga, jogadora recordista de jogos pela seleção brasileira, entrou nessa escalação e comentou jogos na TV Globo. Tamires, atleta do Corinthians e da seleção, esteve em transmissões do SporTV. E Cristiane, atacante do Santos e artilheira lendária do nosso futebol, participou como comentarista do programa “Seleção Catar”.
Mundo afora, Alex Scott fez mais do que espera-se do seu atual papel de comentarista da BBC. A ex-jogadora da Seleção Inglesa jogou luz em cima de um assunto que movimentou os primeiros dias da Copa no Catar. Após a FIFA proibir qualquer tipo de manifestação sobre a luta LGBTQIA+ (no Catar é crime ser gay) durante o Mundial, inclusive o uso da braçadeira do movimento “One Love” por parte dos capitães de times europeus, Alex fez uma de suas entradas ao vivo, direto do gramado, vestindo o objeto que contém as cores do arco-íris.
Quem também opinou sobre outra polêmica deste Mundial, que desta vez envolveu a Seleção Brasileira, foi Eni Aluko. A atleta da Juventus foi contrária ao seu companheiro de ITV (rede de televisão do Reino Unido), que criticou as danças brasileiras durante comemoração na vitória por 4×1 contra a Coreia do Sul. “Eu adorei, é como se estivéssemos em uma festa brasileira. A Coreia do Sul facilitou para eles. Olha esse pênalti, é a personalidade, pode-se dizer que eles não estão respeitando a Coreia do Sul, mas Neymar teria feito isso com a maioria dos times”, disse a então comentarista.
Em 2022 vimos uma cobertura um pouco mais diversa e com mulheres do futebol feminino também fazendo parte da cobertura do futebol masculino.