O maior campeonato de futebol feminino do país já tem data certa para retornar em 2022: 6 de março. Pensando no mais cobiçado troféu da modalidade, os 16 clubes participantes aos poucos anunciam suas contratações, reformulações e retornam de férias para os treinamentos.
Espera-se que esta edição do Brasileirão Feminino seja a mais disputada da história do torneio na primeira divisão (A1), ultrapassando os ótimos números conquistados em 2021 (audiência, engajamento, público) e aumentando ainda mais o nível técnico das partidas. Este também será o ano com o maior número de treinadoras mulheres à frente dos times desde 2013, quando aconteceu a primeira edição do Brasileirão feminino oficialmente organizado pela CBF.
Cronologia
Em sua primeira edição, em 2013, apenas Aline Costa comandava o Tuna Luso, do Pará. No ano seguinte, Aline assumiu o Pinheirense (PA) – clube no qual em 2017 se tornou a primeira técnica mulher a vencer um Campeonato Brasileiro Feminino, o da A2 – e Gleice Falcão, o Náutico (PE). Em 2015, Aline Costa foi para o seu segundo ano à frente do Pinheirense e ganhou a companhia de Gleide Costa no Botafogo (PB) e Emily Lima, no São José.
Inclusive, a hoje técnica da Seleção do Equador foi a única mulher treinadora na edição de 2016 do campeonato, novamente com o São José. Em 2017, Patrícia Gusmão assumiu o Grêmio e Ana Lúcia, a Ponte Preta. No ano seguinte Ana seguiu na Ponte, Emily assumiu o Santos e Macarena Deichler, o São Francisco, da Bahia. Em 2019, novamente três mulheres no comando de times da primeira divisão: Keila Felício, no Sport, Emily Lima, ainda no Santos, e Tatiele Silveira, que assumiu a Ferroviária e se tornou a primeira mulher técnica campeã da A1 do Brasileiro Feminino.
Tatiele seguiu na Ferroviária em 2020, ano em que Patrícia Gusmão retornou com o Grêmio à competição. Já em 2021 tivemos o recorde do número de treinadoras até então: Carine Bosetti no Napoli, Lindsay Camila, na Ferroviária, Patrícia Gusmão no Grêmio e Christiane Lessa (depois substituída por Tatiele Silveira), no Santos.
Em todo esse período, foram nove edições do Brasileiro feminino. Em duas delas (2013 e 2016), houve apenas uma mulher atuando como treinadora entre os 16 clubes participantes (Aline Costa em 2013 e Emily Lima em 2016). E não houve um crescimento orgânico e constante – em 2018 e 2019, por exemplo, foram três treinadoras na A1, mas em 2020 voltamos a ter apenas duas.
A história parece mudar de figura agora, na passagem de 2021 para 2022. Se no ano passado, já tivemos um nímero recorde de mulheres no comando, com quatro treinadoras em 16 times da primeira divisão, agora começaremos o campeonato com cinco.
Linha cronológica:
2013: Aline Costa, Tuna Luso (PA)
2014: Gleice Falcão, Náutico (PE); Aline Costa Pinheirense (PA)
2015: Gleide Costa; Botafogo (PB); Emily Lima, São José; Aline Costa, Pinheirense (PA)
2016: Emily Lima, São José
2017: Patrícia Gusmão, Grêmio; Ana Lúcia, Ponte Preta
2018: Ana Lúcia, Ponte Preta; Emily Lima, Santos; Macarena Deichler, São Francisco (BA)
2019: Emily Lima, Santos; Tatiele Silveira, Ferroviária; Keila Felício, Sport
2020: Tatiele Silveira, Ferroviária; Patrícia Gusmão, Grêmio
2021: Carine Bosseti, Napoli; Lindsay Camila, Ferroviária; Patrícia Gusmão, Grêmio; Christiane Lessa, Santos
2022: Patrícia Gusmão, Grêmio; Tatiele Silveira, Santos; Roberta Batista, Ferroviária; Lindsay Camila, Atlético-MG; Rosana Augusto, Red Bull Bragantino
2022: praticamente 1/3 dos clubes serão comandados por mulheres
Chegamos, então, ao ano do recorde de mulheres à frente das equipes que disputam o torneio nacional. Totalizando cinco, o que representa quase 1/3 dos clubes e quintuplica o número de técnicas no período de 2013 a 2022.
Lindsay Camila – Atlético Mineiro
Após se tornar com a Ferroviária a primeira mulher a vencer uma Libertadores Feminina (temporada 2020), Lindsay Camila deixou o comando das Guerreiras Grenás durante o Campeonato Paulista Feminino de 2021 e meses depois assumiu o Atlético-MG. As Vingadoras tinham acabado de conquistar o acesso à elite do BR Feminino com o vice-campeonato da A2 quando seu então treinador, Hoffmann Túlio, saiu do time.
Em solo mineiro, Lindsay vai colocar em prática toda a sua experiência adquirida em passagens pela seleção brasileira feminina Sub-17, onde foi auxiliar técnica, e quando treinou as categorias de base do Lyon, na França. A comandante tem a licença A da UEFA e está fazendo a mesma licença pela CBF.
“Eu estou muito contente de estar em um clube como o Atlético e pela segunda vez disputar o Campeonato Brasileiro. Acredito que eu tive um ano muito bom em 2021 junto à Ferroviária, um terceiro lugar no Brasileiro, campeã da Libertadores e quando eu saí a equipe estava classificada entre os quatro no Paulista. Eu chego no Atlético e a gente é campeão Mineiro, no Mineirão, com torcida oposta, então foi um ano muito bom”, conta a comandante.
“A expectativa para a equipe é boa, a gente tentou buscar algumas meninas, mas elas não queriam sair de SP alegando que o Paulista é um bom campeonato, e eu concordo. Trocamos cerca de 50% do elenco, estamos nos conhecendo e acho que o Brasileirão deste ano vai ser um dos mais difíceis no sentido de muitas equipes estarem se reforçando. Nós, do Atlético, vamos tentar dificultar para todos os adversários, mesmo sendo nosso primeiro ano na 1ª divisão. Não digo que chegamos para ser campeãs, temos uma estrutura muito boa, mas no feminino ainda está começando. O primeiro objetivo é se manter na elite. E depois, buscar uma classificação (para o mata-mata)”, completa Lindsay.
Roberta Batista – Ferroviária
Em um clube que exalta o trabalho da mulher em diversas áreas do futebol, Roberta Batista, que está concluindo a licença B da CBF, foi efetivada como técnica das Guerreiras Grenás após a saída de Lindsay Camila. A comandante, que chegou em Araraquara para assumir a base do feminino, de cara já teve seu primeiro desafio internacional na Libertadores da América, onde conquistou o terceiro lugar.
No Paulistão, chegou às semis, eliminada pelo principal rival da sua equipe, o Corinthians. Para a próxima temporada, Robertinha terá em mãos uma equipe recheada de novas caras e bons nomes (como o da meio-campista Fany Gauto, vice-campeã da Libertadores Feminina 2021 com o Independiente Santa Fé, da Colômbia).
“Na verdade, estou iniciando a temporada com a equipe, estou há poucos meses como treinadora. Estou entusiasmada em poder ter uma pré-temporada, vai ser um período importante de treinamentos para desenvolver e aplicar alguns conceitos técnicos/táticos, obter ganho físico importante para o decorrer da temporada, além de criar uma boa interação entre as atletas, pois tivemos algumas saídas e buscamos repor com qualidade para manter uma equipe competitiva”, diz Roberta Batista.
“Sobre contratações, seguimos uma linha de investimento, realizando e concretizando um planejamento em busca de jovens atletas com potencial e algumas atletas já consolidadas, procurando sanar algumas carências da equipe. A pressão é a que sempre esteve presente quando falamos de Ferroviária: uma equipe gigante do futebol feminino, competitiva e presente nos momentos decisivos das competições que disputa”, conclui.
Patrícia Gusmão – Grêmio
Patrícia Gusmão – licença B na CBF – é a mulher que a mais tempo comanda um time do Brasileirão Feminino. Ela chegou ao Grêmio em 2017, quando a equipe estreava no torneio e retornou ao Tricolor Gaúcho em 2019 para brigar pelo acesso.
Nesse meio tempo, Patrícia foi auxiliar de Tatiele Silveira no Internacional. Às Dibradoras, ela comentou sobre o desenvolvimento do seu trabalho em todos esses anos de clube.
“Acredito que quem acompanha o futebol feminino do Grêmio e conhece o trabalho que é realizado aqui sabe o quanto conseguimos evoluir nesses últimos anos, tanto em estrutura, que facilita muito o nosso trabalho, quanto na maneira de jogar. Até pouco tempo nossa equipe, quando enfrentava as principais equipes do país, jogava praticamente atrás da linha do meio. Hoje, vemos um Grêmio propondo cada vez mais o jogo, fazendo partidas equilibradas e vencendo equipes de orçamentos muitos maiores, e fico feliz por isso. Mas, é claro que queremos mais e estamos trabalhando para isso, podem ter certeza”, comenta a comandante.
“Quanto a ascensão de mulheres nos comandos das equipes, fico muito feliz em ver grandes profissionais, mulheres cada vez mais capacitadas, que realmente conhecem a modalidade, fazendo bons trabalhos nas principais equipes do país. O que precisamos é melhorar esses números”, completa.
Rosana Augusto – Red Bull Bragantino
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Medalhista olímpica com a Seleção Brasileira e multicampeã no futebol feminino, Rosana trocou a lateral-esquerda pela área técnica no ano passado, quando assumiu o Athletico-PR. Com as Gurias do Furacão, a treinadora conquistou o bicampeonato Paranaense (a edição de 2020 foi disputada em 2021) e parou nas quartas de final da A2, eliminada justamente pelo novo clube de Rosana, o Red Bull Bragantino. A hoje treinadora possui a licença PRO da CBF e tem a licença C da UEFA.
O time de Bragança quer manter sua importante ascensão. Sob o comando de Camilla Orlando – que deixou o clube para assumir a seleção feminina dos Emirados Árabes –, o RB Bragantino chegou à semifinal do Paulistão Feminino de 2020, ano de sua estreia na modalidade, eliminando o São Paulo e na temporada seguinte foi campeão da Série A2, conquistando seu primeiro troféu e o acesso à A1.
“Eu estou muito feliz de ter sido a escolhida para fazer parte desse time que conseguiu o acesso. Um clube/empresa que te possibilita executar grandes trabalhos como foi o da Camilla. A ideia é continuar agregando, talvez com uma ótica diferente, para somar ainda mais no desenvolvimento das atletas. Para mim, profissionalmente, é um desafio muito grande. Me preparei para que isso acontecesse e espero poder fazer um bom trabalho juntamente com a comissão técnica e a diretoria”, diz Rosana.
Tatiele Silveira – Santos
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Finalizando a licença PRO da CBF e chegando à sua quarta temporada de Brasileiro Feminino, Tatiele Silveira tem a missão de colocar as Sereias da Vila de volta à competitividade. Desde que venceu a competição em 2017, o Santos sempre parou nas quartas de final (eliminado em 2018, 2019 e 2021 pela Ferroviária e em 2020 pelo São Paulo).
Uma das pioneiras na função, Tatiele vibra a cada mulher que “debuta” no cargo. “Fico muito feliz de ver que todo o sonho e persistência valeram a pena. O futebol feminino vem crescendo exponencialmente e ver nossa representatividade crescendo, também à beira do gramado, me enche de alegria e orgulho, fazer parte dessa história é muito marcante na minha trajetória. Que sejamos muitas a cada edição do Brasileirão Feminino e possamos continuar deixando esse legado de inspiração, competência e muito amor pelo que fazemos”, aponta a comandante.
Bom dia, meu Brasil! Já estamos em 2022… Ano que eu completo anos de competição! #BrasileirãoFemininoNeoenergia
Rebeca Reis / Staff Images Woman / CBF pic.twitter.com/6wAQL1QqyI
— Brasileirão Feminino Neoenergia (@BRFeminino) January 2, 2022
A tabela do Brasileirão Feminino 2022 ainda não foi divulgada. Teremos uma importante temporada para consolidar mais ainda o trabalho dessas comandantes e, quem sabe, atrair mais mulheres à frente das equipes. Capacitadas, motivadas e preparadas, elas só precisam de oportunidades!
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