Uma vida pelo esporte: conheça a história de Beth Gomes, paratleta do lançamento de disco

O esporte sempre esteve presente na vida de Beth Gomes e não seria qualquer adversidade que a afastaria da prática. Nem mesmo uma esclerose múltipla descoberta aos 28 anos de idade fez com que Beth abandonasse a sua paixão. E foram muitas as modalidades praticadas pela paratleta durante sua vida.

E essa história virou livro. Luciane Tonon, jornalista do site Guia do Deficiente é a autora da biografia da paratleta que tem lançamento previsto para novembro. “Todo mundo me falava que a Beth era uma fênix porque ela já tinha enfrentado várias mortes por conta da doença degenerativa que ela tem. E aí, pensando na história dela, conclui que ela tem que ser mais que uma fênix, ela tem que ser uma deusa da sabedoria, deusa mãe, deusa guerreira, algo que unisse muitos atributos”, contou Luciane ao Dibradoras.

E pensando em contemplar algo muito maior, a autora deve batizar a biografia da paratleta de “Beth Gomes: Uma Atena brasileira” ou “Beth Gomes: Uma Atena Paralímpica”. “Fiz uma analogia com Atena (a deusa grega que é a divindade da sabedoria, inteligência, do senso de justiça e também protetora dos heróis) e o livro ainda está em processo de decisão do título, mas deve seguir essa linha”, completou.

(Foto: Daniel Zappe/Exemplus/CPB/Direitos Reservados)

Serão muitas as passagens da vida de Beth que estarão disponíveis no livro, como por exemplo, sua ausência nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Ela iria competir no arremesso de peso mas, meses antes, passou por uma classificação funcional (processo que categoriza o atleta conforme o grau da deficiência) devido à esclerose ser uma patologia degenerativa. Na ocasião, ela integrava a classe F54, mas foi realocada na classe F55, ao lado de lançadoras com menor comprometimento.

“Ela enfrentou erros de classificadores que a deixaram de fora dos Jogos do Rio porque, às vezes, eles interpretam que ela está tendo força muscular, mas na verdade são espasmos da própria doença. Ela passou por muitos altos e baixos e essa capacidade de resiliência que ela tem é incrível”, disse Luciane.

E foi diante das inúmeras dificuldades que ela se tornou um dos grandes nomes do esporte paralímpico brasileiro.

Uma vida para o esporte

Com apenas 14 anos, foi na escola que Beth descobriu o voleibol e começou sua trajetória esportiva. Natural de Santos, ela defendia o time da cidade e, depois do diagnóstico, precisou se adaptar à sua nova condição.

“O vôlei era meu combustível. Quando fui acometida pela deficiência, pensei que não poderia fazer mais nada. O esporte paralímpico trouxe a minha vida de volta, me mostrou que eu poderia querer a vida e não a morte, elevou a minha autoestima”, afirmou ao portal da Prefeitura de Santos.

Beth sempre foi uma mulher ativa. Além da prática esportiva, ela também trabalhava como guarda civil em sua cidade natal e o esporte era mais uma atividade que a movia diariamente.

Em 1993, ela foi diagnosticada com esclerose múltipla, doença autoimune que atinge o sistema nervoso central,  causando lesões cerebrais e na medula. E além da adaptação para o dia-a-dia, ela precisou se reinventar para seguir fazendo aquilo que amava.

Beth ingressou no Movimento Paralímpico pelo basquete em cadeira de rodas. E foi jogando com a bola laranja que em 2008 ela defendeu a seleção de basquete em cadeira de rodas na Paralimpíada de Pequim, na China.

“Naquela época, era o basquete que inseria as pessoas com deficiência no esporte. Foi uma experiência inacreditável ser convocada à Paralimpíada. Na abertura, quando adentrei o Ninho de Pássaro (estádio que recebeu a cerimônia), eu me beliscava para ver se era um sonho”, afirmou à Folha de Pernambuco.

E, depois de ter a experiência marcante de viver uma Paralimpíada praticando um esporte coletivo, ela conheceu o atletismo paralímpico. Beth chegou a praticar as duas modalidades simultaneamente até optar pelas provas de campo em 2010.

Beth nos Jogos Paralímpicos de Lima (Foto: Reprodução / Instagram)

Atena recordista 

Aos 56 anos, esta será será a primeira vez que Beth irá participar de uma Paralimpíada competindo no atletismo. E ela já chega com moral, trazendo as ótimas marcas que alcançou no lançamento de disco antes dos Jogos de Tóquio acontecerem.

Em 2019 ela quebrou dois recordes mundiais: em junho, no arremesso de peso na classe F52 (cadeirantes) durante o Circuito Nacional de Atletismo Paralímpico, em São Paulo, e em agosto, bateu um recorde – que já era dela – no lançamento de disco durante os Jogos Parapan-Americanos, em Lima, quando se tornou bicampeã.

(Foto: Reprodução/Portal Prefeitura de Santos)

Na seletiva da seleção brasileira de atletismo da Paralimpíada de Tóquio, em junho, ela bateu seu próprio recorde duas vezes, cravando 17,41 metros. A marca supera a que ela alcançou no Mundial de de Dubai (também em 2019) em mais de meio metro (52 centímetros).

Seus feitos são fruto de um trabalho árduo que conta com treinamentos intensos de segunda a sábado, que envolvem parte técnica, no campo, e o condicionamento físico, com musculação. E os resultados de Beth no esporte contam com o preparo especial da treinadora Rosiane Farias, que há mais de oito anos acompanha a trajetória de Beth no atletismo. “Ela me prepara para que minhas marcas melhorem a cada competição. É um anjo na minha vida. O trabalho é árduo, mas compensador”, declarou ao portal da Prefeitura de Santos.

 

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Além das marcas e conquistas, leva consigo o apelido de “Fênix”, dado por um de seus técnicos, pela capacidade que tem de se reinventar. E ela não quer sair de lá sem pisar no pódio.

“Vou em busca de uma medalha seja ela qual cor for e, mesmo que eu volte sem a medalha, já vai ser uma gratificação por eu estar lá, representando meu país. Mas vou dar tudo de mim para poder trazer uma medalha para o Brasil”, afirmou ao Globoesporte.com.

Além da resiliência, Luciane destaca que Beth é também uma mulher que pensa muito no próximo. Não à toa ela é madrinha da equipe Fast Wheels (equipe referência no paradesporto nacional) e acompanha de pertinho a inclusão de novos atletas paralímpicos em Santos. “Ela está sempre envolvida em projetos sociais, então ela tem diversos atributos da Deusa Atena”, declarou a jornalista.

Beth Gomes já está em solo japonês para competir no lançamento de disco na classe F-52, uma das oito voltadas a cadeirantes nas provas de campo (lançamentos de disco e dardo e arremesso do peso). A categoria reúne atletas sem controle de tronco e com deficiência nos membros superiores.

Luciane também está partindo para Tóquio para escrever o último capítulo da biografia da paratleta santista. “O desfecho merecido dessa história é poder presenciar a Beth no lugar mais alto do pódio”, declarou a autora. É impossível que alguém irá se atrever a duvidar de uma Atena.

Principais conquistas de Beth Gomes: Ouro no lançamento de disco no Mundial Dubai 2019; ouro no lançamento de disco nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019; bronze no arremesso de peso no Mundial Doha 2015; ouro no lançamento de disco e prata no arremesso de peso nos Jogos Parapan-Americanos Toronto 2015.

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