‘Hoje sou uma atleta mais forte por tudo o que passei’, diz medalhista Rebeca

Rebeca Andrade fez história nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ela conquistou a primeira medalha olímpica da ginástica feminina para o Brasil. Com o segundo lugar na final do individual geral, a brasileira de Guarulhos conquistou a prata e emocionou o país inteiro.

Para chegar até lá, Rebeca precisou superar seus próprios medos. A ginasta rompeu o ligamento cruzado do mesmo joelho por três vezes: uma em 2015, outra em 2017 e outra em 2019. Ela quase desistiu no meio do caminho, mas dona Rosa, sua mãe, não deixou.

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“É lógico que passa pela nossa cabeça a vontade de parar de treinar, que eu não vou conseguir voltar, e eu cheguei a falar isso para minha mãe: ‘eu não quero mais treinar, eu quero voltar para casa’. E ela disse: “não, a mãe não vai deixar você parar de treinar se você não tentar’. Se em 2015 eu tivesse parado, olha o tanto de coisa que eu teria perdido. O tanto de evolução como ser humano, não só como atleta, eu teria perdido”, disse Rebeca em entrevista ao Globoesporte ainda em 2020.

Depois de ter recebido a medalha, em entrevista a TV Globo, Rebeca lembrou o processo que a levou até o pódio olímpico. Aos 22 anos, ela diz que estava mais pronta nesta Olimpíada para disputar uma medalha justamente por toda a superação que precisou ter com as três cirurgias no joelho.

“Hoje eu sou uma atleta diferente pela cabeça que eu tenho. Se eu tivesse em 2016, isso não teria acontecido. Eu precisei passar pelo processo”, disse a atleta.

Foto: Jonne Roriz/COB

“Mesmo se eu não tivesse conquistado a medalha, eu teria feito história. Justamente pelo meu processo até aqui. Gostaria de dizer para vocês não desistirem, seguirem firme, dificuldade sempre vai ter, tem que ser forte para passar por cima. Eu tive pessoas incríveis ao meu redor para me ajudarem. Eu sou muito grata por isso”, completou.

Rebeca também comentou a saída de Simone Biles, o grande nome da ginástica atualmente, da final do individual geral. A americana levantou um debate importante sobre saúde mental, e a brasileira elogiou sua adversária por isso.

“O que eu sempre admirei na Simone era o psicológico dela. Ela é incrível, porque a pressão em cima dela era constante. Ela tem que entrar no ginásio pra se divertir. Fiquei orgulhosa por ela ter pensado nela antes de qualquer coisa. Acho que o fato de ela ter saído não foi negativo. As pessoas têm que entender que o atleta não é um robô é um ser humano. Não se brinca com a cabeça”, afirmou.

Foto: Jonne Roriz/COB

Rebeca Andrade fez questão de, no pódio, fazer um sinal para mostrar que sua medalha era de muita gente. Ela citou o nome de algumas ginastas que a antecederam e outras que treinaram com ela e fizeram parte dessa conquista.

“Eu passei por muita coisa e coloquei essa Olimpíada como objetivo mas o meu objetivo aqui era fazer o meu melhor, era brilhar e eu acho que eu brilhei, consegui nossa primeira medalha olímpica em ginástica artística feminina. Todas as mulheres que passaram pela ginástica artística do Brasil se veem nessa medalha, elas estão muito orgulhosas de mim e se sentindo orgulhosa dessa história. Eu só estou dando um passo a mais nessa história e eu espero que a nossa geração consiga isso e muito mais. Eu estou muito orgulhosa de mim e de todas as pessoas que me ajudaram a chegar até aqui, por que eu não estaria aqui sozinha.”

História vitoriosa

Inspirada em Daiane dos Santos, Rebeca começou na ginástica muito cedo, ainda com quatro anos de idade. Com seis irmãos e uma mãe solo para criá-los, ela precisou sair de casa com 9 anos para focar nos treinamentos em Curitiba.

A mãe, aliás, dona Rosa, foi uma das grandes apoiadoras de Rebeca em todo o processo. Nos momentos de maior dificuldade, foi ela quem não deixou a filha desistir.

“Minha mãe está muito emocionada. Ela acompanhou todo o processo. Ela está mais orgulha que eu desse momento”, disse.

Em meio à preparação para Tóquio, os atletas do mundo inteiro foram surpreendidos com a pandemia, que fez tudo parar. Para Rebeca, o momento foi importante para que ela conseguisse mais tempo para se recuperar da cirurgia e chegar mais forte aos Jogos.

“Eu tenho cinco cirurgias em um joelho, pois fazia fibrose e eu tinha que tirar, eu não conseguia dobrar. E eu sou jovem. As pessoas te moldam, te mudam, sabe, eu tive acompanhamento psicológico desde os meus 13 anos e ano passado para cá eu consegui colocar em prática a parte de não me sentir nervosa, de manter o controle, de conseguir fazer tudo o que eu fazia no treino. É muito importante esse processo de me conhecer”, afirmou.

“A pandemia foi incrível para mim, tanto para minha operação quando pro meu psicológico. Eu pude me cuidar, me conhecer melhor, saber o que era bom, o que era ruim. Eu me conectei comigo mesma, e hoje a gente vê o resultado disso.”

Foto: Jonne Roriz/COB

Quem também se emocionou muito com a conquista da ginasta brasileira foi Daiane dos Santos. Uma das pioneiras na modalidade, foi ela quem encantou o mundo ao som de Brasileirinho, trouxe a primeira medalha de ouro da ginástica brasileira em Mundiais e agora celebrou a primeira conquista olímpica da ginástica na categoria feminina.

 

“A primeira medalha do Brasil num Mundial de Ginástica foi negra. A primeira medalha do Brasil na Ginástica feminina foi negra. Isso é muito importante. Diziam que a gente não podia estar nesses lugares”, disse a ex-ginasta e comentarista da Globo, visivelmente emocionada.

E esse é só o começo. Rebeca Andrade ainda pode conquistar mais duas medalhas. No domingo, ela disputa a final do salto sobre a mesa e, na segunda-feira, vai para a final do solo. O nome dela já está na história!

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