No esporte ‘por acaso’, Carol Barcellos vive aventuras como mãe e repórter

(Foto: Facebook/Carol Barcellos)

Maratonas e aventuras vividas no Polo Norte, Selva Amazônica e no Deserto do Atacama são apenas alguns dos desafios enfrentados pela repórter Carol Barcellos ao longo de sua carreira profissional.

Demonstrando força e coragem ao viver na pele os desafios propostos pelo programa “Planeta Extremo” da TV Globo, Carol é, antes de tudo uma mulher que consegue se reinventar.

Seja para ser uma boa mãe – mesmo a distância – para a filha Júlia, de quase 7 anos, ou quando demonstra medo diante de um terremoto em uma cobertura jornalística. Tudo isso só é possível porque Carol permitiu que o esporte entrasse em sua vida e foi por acaso que tudo começou.

“Sempre gostei de viagens, de expedição, de acampar, fazer trilha e de esporte, sim. Mas nada parecido com o que já fiz no Planeta Extremo. Aquilo nunca foi um plano. Fiz jornalismo para trabalhar com economia”, revelou a repórter às dibradoras no podcast da rádio Central3.

Carol correndo 21km no Rio de Janeiro (Foto: Facebook/Carol Barcellos)

Trajetória no esporte

Formada pela Universidade Federal Fluminense, sua chegada ao jornalismo esportivo do Grupo Globo contou com o olhar perspicaz de um padrinho experiente na profissão e que notou em Carol uma vocação que nem ela sabia.

“Tudo na minha vida foi meio por acaso, as coisas foram aparecendo e eu fui aceitando. O Marcelo Barreto (apresentador do Redação SporTV) foi quem me contratou. Tenho uma dívida eterna com ele. Foi muito engraçado, já tinha passado em todas as fases para estagiar na Globo e fui fazer a última entrevista com ele. O Marcelo me perguntou ‘o esporte é sua última opção, né?’ e eu disse que sim. Gostava de praticar, mas não acompanhava o assunto. E aí no final ele disse que a única vaga que tinha era no esporte e eu disse ‘me dá que eu vou fazer dar certo’. E assim foi. O Marcelo enxergou além do que eu conseguia ver”, revelou.

“Comecei a estagiar no Redação SporTV. Até hoje eu não sei muito bem (por que foi escolhida), mas eles diziam que eu tinha o perfil para trabalhar com o esporte. E eu dizia ‘jura? Então tá, vamos’”. E assim ela começou a vencer as primeiras barreiras.

Carol no Polo Norte (Foto: Divulgação)

Pelo canal, Carol também foi repórter do “Zona de Impacto”, que falava sobre esportes radicais e, na Globo, passou a estagiar em outros diversos programas até chegar na cobertura do futebol.

“Gosto de me sentir desafiada e sou muito grata quando aparece uma chance. E quando a oportunidade surgia, eu pensava ‘isso aqui vai dar certo’. Fazia pesquisas intensas e no começo, ia acompanhar os jogos com imagens e nomes dos jogadores impressos porque eu não conhecia. Eu me dediquei e em certo momento, decidi que ia fazer do meu jeito. Posso não ser a ‘boleira’ como costumam falar, mas sou jornalista, sei contar histórias. Aí fui encontrando meu jeito de contar as histórias, seja de futebol, de corrida, do que for”, afirmou.

E claro, foi cobrindo o futebol, assim como tantas outras mulheres, que Carol precisou resistir dentro da profissão. “Em estádio eu já ouvi muita coisa e já discuti também, mas hoje em dia, não mais. Em uma ocasião, um cara me chamou de piranha uma vez, duas vezes, três vezes, na quarta vez eu fui para a grade e comecei a discutir com ele. O repórter cinematográfico que estava comigo me falava ‘para com isso” e o negócio cresceu, mas eu não admito, eu estou trabalhando. Não saio de casa para trabalhar e ouvir um cara me chamar de piranha. E tem outra, se eu fosse, é meu direito”, relembrou.

Carol prestigiando também o lançamento do livro de Caco Barcellos – eles não são parentes (Foto: Facebook/Carol Barcellos)

Apesar de responder por inúmeras vezes que não é filha ou tem qualquer parentesco com o jornalista Caco Barcellos, Carol já admite gostar quando alguém faz essa relação. “Muita gente confunde, mas ele não é meu pai. No fundo eu gosto, sou muito fã do Caco. Por conta disso, ganhei o Caco na minha vida. Quando lancei meu livro ele foi até lá e eu estava quase chorando de emoção”, contou.

Destemida

Foi trabalhando como repórter nas situações mais adversas possíveis que a força de Carol apareceu de vez. Por três anos ela fez parte do “Planeta Extremo” e apresentou o programa ao lado de outro experiente profissional, o jornalista Clayton Conservani com quem alimenta uma parceria há quase cinco anos.

Clayton Conservani e Carol Barcellos (Foto: Facebook/Carol Barcellos)

“No final de 2012 me chamaram pra fazer a corrida em Jerusalém com o Clayton. É quase um casamento profissional. Tenho muito amor e gratidão pelo Clayton, foi um cara que me abraçou e me levou para esse tipo de reportagem e me ensinou muita coisa. Claro que a gente discute, mas a gente se resolve, e em qualquer extremo do planeta a gente fica bem”, revelou a jornalista que retomou a parceria com Clayton no final do ano passado com o “Expedição Brasil”.

Além de se preparar para enfrentar uma maratona física no Planeta Extremo, Carol Barcellos precisou abrir mão de alguns momentos da maternidade para trabalhar naquilo que ama. Quando surgiu o convite para o programa, sua filha Júlia tinha apenas 10 meses de vida.

“Me preparei do jeito que deu. Já tinha feito maratonas, mas quando o convite surgiu, eu estava amamentando ainda. Tive três meses e meio para treinar e treinava quando dava, na hora em que dava, às vezes de madrugada”, contou.

Carol e a filha Julia (Foto: Facebook/Carol Barcellos)

Segundo Carol, essa é a parte mais difícil de sua profissão e, mesmo com o passar dos anos, não é possível se acostumar. “Desde que ela tinha um ano, a nossa vida é assim. Ela já entendeu que meu trabalho é esse, é o que eu amo fazer. As coisas têm um preço. E esse é o preço por ter um trabalho onde sou apaixonada pelo que faço”, contou.

Mesmo longe, Carol tenta ser um exemplo para a filha e, sempre que pode, ensina a pequena sobre a importância de se ter autonomia na vida para tomar decisões. “Quero que minha filha entenda que, acima de tudo, para gente ter liberdade, a gente precisa ter independência. E para mim não tem nada mais importante que liberdade, por isso quero que ela tenha independência, que tenha relacionamentos onde ela queira estar e não que dependa de alguma forma de pessoas ou de relações.”

“É complicado equilibrar e educar. E eu me questiono. Quando estou viajando eu fico pensando onde está minha filha, como ela está, o que ela fez, tem apresentação na escola e, de novo, eu não estou lá. Me questiono toda hora, haja análise”, contou.

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Todo amor que houver nessa e em outras -todas as – vidas! ❤️

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É claro que a Júlia entende e admira o trabalho de Carol, mas não deixa de ser curioso perceber que sua mãe enfrenta inúmeros desafios e supera seus limites na televisão.

“Ainda chama atenção pelo fato de ser uma mulher fazendo isso. É mais natural ver o homem viajar, o homem ir à lua, o homem trabalhar. Uma vez ela me disse ‘por que você não é igual às outras mães?’ e eu disse que era porque ela não era igual às outras filhas. Disse a ela que cada um tem uma mãe e uma filha, que a gente tem a nossa relação e eu queria que ela estivesse bem e que nossa relação também”.

Experiência profissional e pessoal

É sempre melhor enfrentar um desafio – por mais difícil que seja – quando você está preparado. Mas nem sempre dá para prever os obstáculos do percurso, assim como Carol jamais poderia imaginar que viveria na pele a experiência de presenciar terremoto enquanto fazia uma entrevista.

Entre as coberturas marcantes de sua carreira, a jornalista não se esquece do que presenciou em Katmandu, no Nepal, em 2016, quando um tremor de terra deixou mais de 12 mil pessoas desabrigadas, inúmeros feridos e que atingiu a magnitude e 7,8 na Escala Richter.

Carol cobrindo o terremoto no Nepal (Foto: Reprodução)

Foi o terremoto mais forte que abalou a cidade nos últimos 80 anos e, durante a cobertura, Carol não escondeu o medo que estava sentindo. “Eu estava em um momento onde não pensei em como seria a reação das pessoas. Eu me surpreendi mesmo e na hora foi aquilo que aconteceu: eu tive medo, eu me assustei, foi uma coisa involuntária”, contou às dibradoras.

“Não sabia que havia tido tanta repercussão no Brasil. Soube depois que muita gente criticou minha postura, principalmente os jornalistas. Mas achei curioso ver as pessoas criticarem algo que não conhecem. A maioria dessas pessoas, acho que não passou por isso e não sabem o que é. E eu não estava fugindo da notícia, depois disso passei três semanas lá. Faço o melhor que posso na minha profissão, tento contar histórias da forma mais sincera e verdadeira, mas eu sou um ser humano antes de ser jornalista. Eu não consigo pedir desculpas por ter sentido medo”.

A cobertura do desastre foi muito dura. Carol e equipe passaram madrugadas em hospitais e emergências, dormiram no chão e sentiram a dor daquelas pessoas. “Vi coisas que não imaginei. Dormimos na rua, tinha risco de desmoronamento, havia tremores após o terremoto. Ficamos dias sem entrar no hotel, sem tomar banho, dormindo no chão.”

Carol Barcellos durante cobertura no Nepal (Foto: Reprodução)

Mesmo com o trauma e inúmeros pesadelos – que carregou por muitos dias após o fim da viagem – ainda assim, o Nepal se tornou um lugar especial para Carol. “Tenho vontade de voltar. Gostaria de ir com a Júlia porque o Nepal virou um lugar muito especial para mim. É um dos povos mais bonitos e espiritualizados que já vi. Eles me ensinaram tanto. Eu não tinha fé, nunca tive e voltei de lá totalmente diferente. Eu vi a força da fé deles e como ela foi importante para eles conseguirem se manter diante daquilo tudo.”

Projeto Social

Além de mulher, jornalista e mãe, Carol abraçou mais uma desafio e se tornou embaixadora do projeto “Destemidas”, uma parceria com a ONG Luta Pela Paz para levar o esporte para garotas do Complexo da Maré, comunidade do Rio de Janeiro.

“Já tinha vontade de fazer algo assim, mas tudo começou quando fui entrevistar Kathrine Switzer (primeira mulher a correr a Maratona de Boston em 1967 na era do Campeonato Aberto). Logo depois da entrevista, eu a agradeci e a reação dela me surpreendeu. Ela me disse ‘não me agradeça, não. Você deveria devolver para o esporte tudo que ele já te deu’. Fiquei pensando e é verdade. O esporte me deu tanto, falando de conquista pessoal mesmo, de me mostrar que sou mais forte do que eu imaginava… aí eu voltei e fui conversar com a ONG Luta Pela Paz e criamos esse grupo de corrida”, disse.

A intenção de Carol era não ter o grupo apenas para o esporte, mas também para discutir questões do empoderamento feminino e iniciar uma relação entre elas. Um grupo de 35 mulheres foi formado e assim as atividades começaram.

Carol treinando com as meninas da Maré (Foto: Foto: Wallace Nogueira / Victor Carnevale / Ítalo Amorim)

O objetivo é proporcionar a prática esportiva para as mulheres, ocupar espaços públicos para realizar a prática e debater temas que assolam o universo feminino, como o assédio.

Carol Barcellos é mesmo gigante e uma enorme inspiração para todas as mulheres.

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