Como uma veterana da seleção ajudou a montar time campeão da LBF

A LBF – Liga de Basquete Feminino – terminou no último domingo (03 de julho) e consagrou uma equipe novata como campeã após uma disputada série de cinco partidas. A equipe vencedora foi o Vera Cruz/Campinas que derrotou o Sampaio Corrêa de virada, quando perdia por 2×1 na soma dos jogos. A equipe – que não perdeu nenhuma partida durante a fase classificatória – foi comandada pelo experiente treinador Antônio Carlos Vendramini, que levantou pela quarta vez o troféu da LBF.

(Foto: LBF/Caixa)

Mais do que o troféu, a equipe de Campinas precisou colocar – literalmente – a mão na massa para fazer com que essa equipe existisse, antes mesmo de sonhar com o primeiro lugar do campeonato. Karla Costa, uma das jogadoras mais experientes do elenco, foi peça fundamental para que a equipe pudesse chegar ao topo.

A busca por estrutura e patrocínios

Com o fim da parceria entre Corinthians e Americana (equipe campeã da LBF em 2017), Karla e alguns membros da antiga equipe foram atrás de um recomeço. “Recebemos muitos nãos, mas conseguimos uma parceria com a Ponte Preta que nos cedeu o ginásio para os treinamentos. Ele estava bem abandonado e temos uma filosofia de colocar um time numa LBF com o mínimo de estrutura, mas isso demanda tempo e dinheiro”, nos contou a ala de Campinas em nosso podcast semanal pela rádio Central3.

A quadra cedida pela equipe campineira precisava de reparos para ser utilizada e, dispostos a fazer história, dirigentes e jogadoras não mediram esforços. “Eu pedi tinta pelo Facebook para os meus amigos, minha família ajudou, o Vendramini reformou a quadra com o cartão de crédito dele e a gente fez tudo com muito carinho acreditando que as coisas iriam começar a acontecer”, contou Karla.

Karla disputou cinco edições da LBF e já marcou mais de dois mil pontos pela competição (Foto: Vitor Bett/Blumenau)

Na sequência, os patrocinadores começaram a surgir, como o Hospital Vera Cruz, o PagueMenos Supermercados, Danny Cosméticos, Sanasa, Instituto Mood e, com o apoio da Prefeitura de Campinas, a equipe campeã brasileira de basquete se formou em novembro de 2017.

“Formamos a equipe com jogadoras remanescentes do Corinthians/Americana, como a Melissa Gretter, eu, Babi, o treinador, o preparador físico e uma assistente e, ainda assim, formamos o time com meninas que nunca haviam jogado antes. Eram meninas cruas, que nunca tinham jogado a LBF. Era um time assustado no começo e lidar com jogadoras mais velhas que estavam ali para cobrar essas meninas, a deixaram receosas no começo”, contou Karla.

A jogadora nos contou que, para montar a equipe de Campinas, eles deram um passo maior que a perna, mas que era necessário agir assim para conseguir participar da competição. “Estamos com a conta em aberto, mas com um grupo paciente que conseguiram entender que o projeto vai durar e que irão receber tudo que falta ainda, aos pouquinhos”. Vale lembrar a LBF não ofereceu prêmio em dinheiro aos participantes, apenas honras individuais para cada jogadora.

(Foto: Facebook/Periodistas de Furia Indigena)

A reformulação da LBF

“Necessário”, é assim que Karla define a nova cara da competição comandada pelo presidente da LBF, Ricardo Molina. “Se ele não tivesse tomado a frente da LBF, o basquete continuaria numa decrescente. A modalidade está muito desacreditada e se não fosse feito alguma coisa com urgência, o basquete iria acabar”, relatou a jogadora.

A jogadora também reforça a importância da exibição dos jogos em TV aberta como ponto positivo implantado por essa nova gestão. “Foi excepcional, algo que não acontecia desde a época de Luciano do Valle. A gente consegue atingir gente que não sabia que existia basquete feminino e um campeonato bom”.

A falta de referência e de equipes de base

Outro ponto citado pela jogadora que é pentacampeã da LBF é a inexistência de jogadoras qualificadas e de um trabalho de base. “Sem planejamento e estrutura não se começa nada. No meu tempo, tinha a Paula e a Hortência e a gente não tem mais ídolos hoje. Eu queria ser a Paula e a Hortência, hoje é raro você ver uma menina querendo ser alguém (do basquete).”

Ricardo Molina, presidente da LBF com as jogadoras Babi e Karla, pentacampeãs do torneio. (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Na época em que começou a jogar, Karla relatou que havia categorias bem definidas para a prática do basquete, como os campeonatos mirins, infanto-juvenil até chegar na categoria adulta. Hoje em dia, garotas com 17 anos já são promovidas a jogar no adulto sem o mínimo preparo de base. “O processo está invertido, precisamos zerar, começar de novo e fazer acontecer tudo naturalmente. Parar alguma jogadora mais velha e promover uma mais nova, tem que ter uma mescla da experiência com a juventude”, afirmou.

Com a palavra, o presidente

Em entrevista ao podcast, Ricardo Molina, presidente da LBF, classificou a temporada de 2018 como desafiadora. “Fizemos uma transição delicada de 2017 para 2018 porque a estrutura da LBF estava ligada a NBB. Com isso, seguimos ‘carreira solo’ e começamos tudo do zero, nos desvinculando do masculino. Desafio grande em pouco tempo”, afirmou o dirigente.

O desafio maior, segundo Molina foi na gestão e eles basearam o gerenciamento do campeonato em três pilares: planejamento, contrapartida para as equipes e a transparência. “Conseguimos apresentar o planejamento em agosto de 2017 para as equipes que disputariam o torneio em janeiro de 2018. Isso foi tão sensível e importante porque era algo que não tínhamos. Sobre a transparência, nós abrimos as contas para as equipes e qualificamos nosso processo internamente, conquistando o certificado ISO 9001 na liga, algo inédito na área esportiva. E, sobre as entregas, conseguimos tudo que apresentamos aos clubes, como as transmissões em duas TVs, uma aberta, outra fechada e também via web. Entregamos tudo que foi proposto”, afirmou o presidente.

Ricardo Molina, presidente da LBF. Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press

Para 2019 e 2020, Molina contou que já entregou o planejamento das duas próximas temporadas para todos os clubes participantes. “São nove equipes com preferência para inscrição no campeonato e possibilidade de ter até 12 times participantes. Mudamos o calendário para não competir com o europeu, com isso podemos repatriar jogadoras que estão fora para disputar nosso torneio”, relatou.

Você pode ouvir na íntegra o podcast das dibradoras sobre o assunto clicando no ícone abaixo:

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