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Uma jogadora lendária pelo que fez dentro e fora de campo, Formiga está na Austrália para assistir à final do Mundial entre Espanha e Inglaterra, neste domingo, às 7h (de Brasília). Depois de ter disputado sete Copas do Mundo e sete Jogos Olímpicos, além de ter defendido os principais clubes internacionais do futebol feminino, a meio-campista se emociona em ver os avanços que o Mundial jogado por mulheres está vivendo. Mas a jogadora que defendeu a seleção brasileira por mais de duas décadas – 26 anos, para ser exato – também não esconde a frustração pela eliminação do Brasil ainda na fase de grupos e sem apresentar poder de reação.
Em entrevista ao Dibradoras, a histórica Formiga conta o que espera do duelo entre as seleções de Sarina Wiegman e Jorge Vilda na disputa pelo título mundial inédito e opina sobre o que falta à seleção brasileira para voltar a ser protagonista em grandes competições.
O que espera ver em campo nesta final de Copa do Mundo entre a Inglaterra, de Sarina Wiegman, contra a Espanha, de Jorge Vilda?
É um jogo de defesa contra ataque. A Inglaterra definitivamente é muito boa e tem uma transição defensiva muito rápida, mas não podemos descartar a boa qualidade da Espanha. Eu acredito que vai ser uma das melhores finais de todas as Copas do Mundo. O que essas duas seleções vieram fazendo pra chegar até essa decisão foi incrível.
A Sarina Wiegman era a única mulher das oitavas de final. O que falta para que mais mulheres cheguem em condições de levar um time para a final de uma Copa do Mundo?
Eu vou falar do Brasil. São as oportunidades. Acho que não basta só a Confederação abrir as portas para as atletas, mas capacitá-las para que elas possam trabalhar com a base e posteriormente com a seleção principal. Até fora do Brasil precisa mais disso. Nós mulheres, todo dia ainda temos que provar que realmente somos capazes. E infelizmente tem que ser dessa forma, mas eu espero que ela leve esse Mundial para que realmente as pessoas olhem diferente para as mulheres e tem que vejam que elas realmente são capazes de estar em qualquer lugar e que vão fazer da melhor maneira possível, assim como os homens fazem.
O que está achando desta Copa do Mundo e de todo o desenvolvimento que o futebol feminino vem apresentando?
Uma evolução grande como um todo. Eu fiquei maravilhada quando cheguei aqui e vi a torcida australiana fazendo festa, os torcedores da Inglaterra perto do hotel onde eu estava também também fazendo a maior festa. Isso é um avanço incrível! Eu vivi sete Copas do Mundo e eu estou vendo essa evolução a cada ano. Hoje, chegamos ao patamar que não podemos dar dois passos para trás. Agora, é continuar e ter todos envolvidos e engajados para que o futebol feminino se torne de vez uma realidade no mundo, para que todos e todas possam ter o direito de praticar esse esporte.
O que você achou da campanha do Brasil e o que que você espera que aconteça no futuro?
Eu espero melhoras. Foi frustrante demais, até hoje não caiu a ficha, não estou acreditando. Mas, se vierem mudanças, que venham para melhor. Não dá pra gente continuar dessa forma, eu acredito que não só comissão técnica, mas as atletas também têm que puxar a responsabilidade e mostrar vontade dentro de campo. Estrutura a seleção teve. Mas acho que faltou pulso, mais vontade de puxar essas meninas e, principalmente, de trabalhar um pouco melhor o emocional.
Eu sei que é muito difícil ir para um jogo contra uma França e perder daquela maneira. Mas o momento de reagir era justamente depois da derrota, porque se a gente tinha uma chance de virar o jogo era contra a Jamaica e o Brasil não teve essa força mental para mudar. É claro que ninguém esperava o empate entre Jamaica e França, mas, ainda assim, tem que estar preparado para tudo. A Copa do Mundo não é mais como antigamente. Hoje, todo mundo vem bem preparado, tanto é que outras seleções fizeram história. Então, se for para mudar, que seja tanto atletas quanto comissão para que possa ter uma equipe mais forte em termos psicológico não só nas Olimpíadas, mas daqui a quatro anos.
Esta Copa do Mundo será decidida entre duas seleções que nunca tinham chegado até a final e que não eram protagonistas na sua época. No seu primeiro Mundial, em 1995, a Espanha sequer participou do torneio. A Inglaterra começou a ser protagonista muito recentemente. O que esses países fizeram?
Se pegar um pouco do histórico dessas duas seleções, vale atentar para o quanto elas vem trabalhando na base para colher um resultado depois e não imediato. É o que o Brasil está começando a fazer agora. A gente vê não só nessas duas seleções que chegaram até a final, mas outras com meninas novas que já têm a mentalidade de gente grande. A gente precisa trabalhar a nossa base para saber muito bem o que vão enfrentar nesses grandes jogos.
A Europa, de certa forma, virou a chave antes da gente e mudou o cenário mundial, que antes era muito dominado pelos Estados Unidos. Eu sei que as jogadoras da Espanha vêm de longos anos brigando com a sua Federação por mais apoio, respeito e melhorias não só para elas, que já estão há muito tempo, mas para fomentar também um trabalho de base.
O que o Brasil poderia copiar para voltar a ser protagonista?
A gente tem que pensar em trabalhar da maneira correta, colocando profissionais capacitados para trabalhar a mentalidade das jogadoras hoje no nosso país. Se não fizer dessa forma, vai ser difícil. O meu medo, sinceramente, é que depois dessa Copa do Mundo volte a faltar incentivo. Por mais que digam que as jogadoras tiveram a melhor preparação e estrutura para para esse Mundial, o trabalho precisa englobar desde lá debaixo.
A gente precisa sentir que as pessoas que trabalham dentro da Confederação e das federações regionais realmente estão dispostas a ajudar o futebol feminino como um todo no nosso país. Não basta simplesmente dar uma boa estrutura para a seleção principal, porque tem muita coisa que a gente sabe que precisa mudar. Quem vive o futebol feminino sabe que ainda existe muita resistência com a modalidade e com o desenvolvimento dela no nosso país.