Brasil faz jogo quase perfeito e volta a vencer Alemanha após 15 anos

(Foto: Thais Magalhães/CBF)

O Brasil não ganhou o título da Inglaterra na Finalíssima na semana passada, mas saiu com a moral elevada pelo bom segundo tempo diante da atual campeã europeia. Confiança que levou para conseguir fazer uma atuação quase perfeita na vitória por 2 a 1 contra a Alemanha, nesta terça-feira (11), no Estádio Max Morlock, em Nuremberg, diante de 32.587 torcedores.

Novamente com uma postura agressiva – agora desde o começo do jogo –, as brasileiras dominaram a partida contra as alemãs, marcaram dois gols com Tamires e Ary e sofreram apenas nos 10 minutos finais, quando as donas da casa descontaram com Jule Brand. Era apenas um jogo amistoso, mas de enorme importância nesta reta final de preparação a 100 dias para a Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia – foi o último jogo confirmado do Brasil antes do Mundial, mas a CBF ainda planeja mais um em solo brasileiro antes da principal competição do ano.

Número 2 do ranking da Fifa e sem perder para o Brasil há 15 anos, a Alemanha tinha o favoritismo e ainda jogava em casa. Cenário que pareceu ideal para a festa de despedida da campeã olímpica Dzsenifer Marozsán. Aos 30 anos, a jogadora havia anunciado que vestiria a camisa da seleção alemã pela última vez naquele jogo, em função da sequência de lesões que sofreu nos últimos anos. O que as alemãs não contavam era que o Brasil, na 9ª colocação no ranking mundial, roubasse a cena.

Pois essa seleção brasileira renovada se mostrou extremamente madura contra uma das grandes favoritas ao título mundial, mesmo diante dos oito desfalques por lesão que obrigaram a técnica Pia Sundhage a modificar o elenco para esta Data Fifa. Com as possibilidades que tinha em mãos, Pia encontrou um grupo que soube ser compacto defensivamente e consistente durante os quase 90 minutos contra a vice-campeã europeia, melhorando bastante a eficiência na troca de passes e conseguindo converter as chances criadas em gols.

Postura ofensiva desde o início

Para quem estava na dúvida sobre como o Brasil começaria o jogo após dois tempos com formações tão distintas contra a Inglaterra, a resposta superou – e muito – as expectativas. Diante da Alemanha, Pia Sundhage optou por retornar ao esquema com uma linha defensiva de quatro jogadoras, com Rafaelle e Kathellen na dupla de zaga (deixando Lauren no banco) e Tamires e Antônia nas laterais (formação que o Brasil melhorou contra a Inglaterra, conseguindo aumentar bastante o volume ofensivo no segundo tempo e chegar ao empate em 1 a 1, placar que levou a decisão para os pênaltis).

Com essa formação de 4-4-2 diante da Alemanha, Kerolin e Luana assumiram a função de volantes no meio campo, que também contou com Adriana e Ary Borges mais abertas. A atacante Geyse, que foi um dos grandes destaques do último jogo, teve a companhia no ataque de Gabi Nunes, que ganhou uma oportunidade de ouro como titular devido ao desfalque de Bia Zaneratto (com um edema na panturrilha esquerda) e Ana Vitória (com virose).

Mas não foi apenas a formação que se repetiu em relação aos minutos agressivos do Brasil no último jogo. Diante da Alemanha, a equipe verde-amarela já começou o jogo se posicionando no campo ofensivo, apertando na marcação e diminuindo os espaços do adversário. Aos 4 minutos de jogo, o Brasil já dava uma bela mostra do arsenal que tinha preparado para o restante do confronto. Em bela jogada na linha de fundo com Tamires, após tabelar com Geyse, a lateral cruzou na medida para Gabi Nunes, que cabeceou com perigo rente à trave esquerda.

Assim como no último jogo, o Brasil estava muito compacto contra a Alemanha, mas com uma proposta de ficar mais com a posse da bola, o que dificultava o avanço das alemãs ao campo de ataque. Aos 10 minutos, o Brasil converteu a superioridade apresentada no início do jogo em gol. Gabi Nunes recebeu ótimo lançamento de Rafaelle, dominou dentro da área e dividiu com a goleira Ann-Katrin Berger. A bola sobrou para Tamires empurrar de pé direito para o fundo das redes. Vale ressaltar o início da jogada, que saiu dos pés da zagueira referência da defesa do Brasil, que tem qualidade para fazer essa transição direta para o ataque e ainda exerce papel importante de liderança.

A primeira chegada da Alemanha foi apenas aos 18 minutos, com Lea Schüller. A atacante foi lançada nas costas de Rafaelle e finalizou da entrada da área, por cima do gol brasileiro. Na sequência, a Alemanha criou outras boas oportunidades. Duas vezes em bolas paradas: uma cobrada com perigo por Alex Popp, que foi defendida por Lelê no canto esquerdo, e outra batida por Rauch para levantar para área, que também foi afastada pela goleira brasileira. Outras duas em cruzamentos após jogada até a linha de fundo.

Apesar da tentativa de reação alemã, o Brasil soube administrar bem a pressão e ainda teve bons escapes em velocidade com Geyse, pela direita, ou com Tamires, pela esquerda. Melhor na partida, a seleção brasileira ampliou aos 37 minutos em cobrança de escanteio ensaiada pela esquerda. Ary Borges tocou para Kerolin e recebeu de volta, cruzando fechado para dentro da pequena área. A bola passou por todo mundo e parou no fundo da rede. O Brasil foi para o intervalo com vantagem de 2 x 0 no placar.

A Alemanha fez duas substituições no intervalo e tentou voltar mais agressiva com Sydney Lohmann e Sarai Linder nos lugares de Alexandra Popp e Sophia Kleinherne. Mas o Brasil conseguiu conter esse ímpeto adversário dos primeiros 10 minutos do segundo tempo, evitando o crescimento alemão. Depois, foi a equipe brasileira que voltou a chegar com mais perigo, em uma jogada de Geyse que teve direito a caneta em cima da alemã dentro da área e outra com Adriana em um chute da entrada da área, aproveitando um rebote deixado pela goleira Berger.

As reações de Pia à beira do campo era de quem estava satisfeita com o trabalho das suas comandadas. Ainda assim, a treinadora tinha alguns testes para fazer na última Data Fifa antes da Copa do Mundo. Restando cerca de meia hora para o fim do jogo, Yasmim entrou no lugar da Tamires na lateral esquerda e Duda Francelino assumiu a vaga de Luana (que voltou a ser titular, vem retomando a força física e tem a confiança da treinadora, sendo uma peça muito provável de ser levada para a Copa e ainda crescer mais até lá). No fim do jogo, Aline Gomes, Gabi Portilho e Duda Santos também ganharam alguns minutos em campo.

Aos 20, a Alemanha também fez mais alterações. Colocou Dzsenifer Marozsán e Melanie Leupolz nos lugares de Lina Magull e Lena Oberdorf no meio de campo. A camisa 10 alemã Dzsenifer Marozsán também entrou para fazer sua despedida da seleção e foi muito aplaudida. Mas foi apenas aos 38 minutos que as alemãs fizeram a primeira finalização do segundo tempo, com chute perigoso da entrada da área de Lohmann após jogada individual.

Os minutos restantes foram de crescimento das donas da casa e as principais chances foram criadas com Lea Schüller em duas jogadas muito parecidas em que conseguiu infiltrar na grande área e finalizar com perigo. Na segunda vez, aos 46, Lelê espalmou o chute cruzado de Schüller e Julie Brand aproveitou o rebote para diminuir para as alemãs. À essa altura, porém, não havia mais tempo para que a reação alemã pudesse gerar maiores problemas ao Brasil, que teve como ponto forte a intensidade física mantida por todo o jogo.

“Essa vitória significa reafirmação do nosso trabalho. Eu já falei isso outras vezes, a gente vem em uma crescente muito bacana, só que a gente não conseguia ganhar os jogos. Jogava muito bem, mas não conseguia converter isso em vitória”, analisou Ary Borges, autora do segundo gol do Brasil após a partida. “A gente sai daqui com o pensamento muito positivo de que chegaremos muito fortes para a Copa do Mundo e ganhar de uma grande seleção, como a alemã, faz com que as pessoas olhem e voltem a olhar pra seleção brasileira com um respeito muito maior”, completou.

O caminho de Brasil e Alemanha pode se cruzar nas oitavas de final da Copa do Mundo, caso uma seleção avance em primeiro e a outra em segundo. Se as duas terminarem a primeira fase na mesma posição, só se enfrentarão em uma eventual semifinal. O Brasil está no Grupo F (com França, Jamaica e Panamá) e embarca no início de julho para Brisbane, na Austrália, para finalizar a preparação antes da estreia no Mundial em 24 de julho contra o Panamá. Já a Alemanha está no Grupo H, ao lado de Colômbia, Marrocos e Coreia do Sul. 

 

FICHA TÉCNICA – ALEMANHA 1 X 2 BRASIL

Alemanha
Ann-Katrin Berger; Kathrin Hendrich, Sara Doorsoun, Sophia Kleinherne (Sarai Linder), Felicitas Rauch (Chantal Hagel); Lena Oberdorf, Klara Bühl, Lina Magull (Dzsenifer Marozsán); Svenja Huth, Alexandra Popp (Sydney Lohmann), Lea Schüller.
Técnica: Martina Voss-Tecklenburg

Brasil
Letícia I.; Antonia, Kathellen, Rafaelle, Tamires (Yasmim);  Luana Bertolucci (Duda Francelino), Ary Borges (Gabi Portilho); Kerolin, Adriana, Gabi Nunes (Aline Gomes), Geyse (Duda Santos).
Técnica: Pia Sundhage

 

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