Brasil faz 1º tempo competitivo contra EUA, mas repete erros e acaba derrotado

O Brasil chegou à terceira rodada com chance de conquistar de forma inédita a She Believes. Mas seria preciso vencer os Estados Unidos por, ao menos, dois gols de diferença nesta quarta-feira (22), no Toyota Stadium, em Frisco, no Texas (EUA).

E a seleção brasileira fez um dos melhores 45 minutos da preparação para a Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, que começa em 20 de julho. As atuais campeãs mundiais, porém, continuam uma máquina de produzir jogadoras decisivas, seja com a experiente Alex Morgan, 33 anos, ou com a promissora artilheira Mallory Swanson, 24. Elas marcaram os gols da vitória por 2 x 1 que rendeu o sexto título aos EUA no quadrangular disputado desde 2016, com três vitórias. O Brasil, que descontou com Ludmila, terminou em terceiro lugar, atrás do Japão e na frente do Canadá.

“O nível hoje me diz que, contra o melhor time do mundo, ainda temos um longo caminho a percorrer”, constatou a técnica Pia Sundhage ao final da partida. O caminho ainda é longo, é verdade, mas a impressão é de que nos últimos anos ele ao menos começou a ser pavimentado.

A seleção brasileira começou o jogo em pé de igualdade contra a alta intensidade imposta pelas estadunidenses, pressionou bem na marcação e conseguiu articular jogadas que terminaram em finalizações perigosas. Como de costume, faltou efetividade para reverter as oportunidades em gol. Requisito em que a seleção norte-americana dá aula. Alex Morgan jogou um balde de água fria no Brasil depois de um primeiro tempo equilibrado, com seis finalizações para cada lado, alta precisão dos passes (83% dos EUA e 85% do Brasil) e 53% de posse de bola americana contra 47% brasileira. A atacante  norte-americana abriu o placar aos 47 minutos com uma bela finalização no canto esquerdo do gol, tirando do alcance da goleira Lorena.

A técnica Pia Sundhage começou os três jogos do Brasil pela She Believes com três escalações diferente e testou jogadoras em posições variadas. Mas deixou o que tem de mais forte dessa equipe renovada para o que prometia ser o maior desafio do torneio. Contra os Estados Unidos, as principais novidades foram a zagueira Tainara na lateral direita e a atacante Nycole aberta também pela direita – sinal que elas estão trilhando um caminho promissor para carimbar o passaporte para o Mundial. Na equipe dos Estados Unidos, a defensora Naomi Girma e a meia-atacante Rose Lavelle foram as novidades em relação ao elenco titular contra o Japão.

No meio-campo brasileiro, Kerolin vem rendendo muito bem ao lado da Ary Borges desde que foi testada nessa posição na data Fifa de novembro, nos dois amistosos contra o Canadá. A jogadora do North Carolina Courage se mostrou mais uma vez uma ótima solução para o setor que mais sofreu com ausências por lesões – e que ainda terá o retorno da Duda Sampaio e a possibilidade mais remota da volta da Angelina, que precisou passar por cirurgia após romper o ligamento cruzado anterior (LCA) na final da Copa América, no meio do ano passado. A zagueira/lateral direita Antônia é outra baixa bastante sentida na equipe por motivo de lesão e cultiva a esperança de retornar em alto nível a tempo do Mundial.

Bia Zaneratto e Debinha aproveitaram a She Believes para se firmarem como peças certas do ataque do Brasil. Enquanto a camisa 9 assumiu o papel de artilheira na Era Pia (com 30 gols marcados sob comando da sueca dos 55 gols que tem pela seleção), a outra vem em uma crescente com a amarelinha. Contra os EUA, Bia Zaneratto foi novamente efetiva na marcação, originando jogadas de contra-ataque promissoras. Foi assim aos 29 minutos, quando roubou a bola no campo de defesa e conduziu, mesmo diante da investida de duas marcadoras, até a entrada da área para abrir na direita para Kerolin. O chute cruzado rasteiro passou muito perto da trave da goleira Naeher.

Do outro lado, os Estados Unidos também ameaçaram com perigo o gol brasileiro desde o começo do jogo. Logo aos 3 minutos, elas já haviam colocado uma bola na trave. Crystal Dunn pegou a sobra de uma bola afastada pela Rafaelle em escanteio e chutou forte da entrada da área. A bola desviou na defesa e carimbou a trave esquerda da Lorena.

As tentativas continuaram deixando a partida movimentada. Aos 44, Alex Morgan recebeu entre as marcadoras brasileiras na entrada da área e bateu na saída da Lorena, mas o gol foi anulado. O alívio brasileiro durou pouco. Três minutos depois, um chute da Swanson travado sobrou justamente para Alex Morgan. Dessa vez, a craque americana tirou a defensora com um toque para o lado e finalizou com muita categoria no cantinho: 1 x 0 para os EUA.

O maior desafio brasileiro, porém, era manter a alta intensidade competitiva diante de um elenco recheado, inclusive no banco de reservas, como é o caso de Megan Rapinoe, que está voltando de lesão e entrou apenas no segundo tempo no lugar da Lavelle. “Fico impressionada com a forma como os EUA começam o jogo e como elas competem por 90 minutos”, avisou Pia, na véspera da partida contra a seleção pela qual foi bicampeã olímpica em 2008 e 2012. A equipe brasileira parecia ter ouvido o aviso da treinadora. Adriana, que já havia levado perigo com chute de longe no primeiro tempo, acertou o travessão em mais uma bonita finalização no comecinho do segundo tempo.

Em pouco tempo, porém, o rendimento brasileiro caiu. As mexidas tentaram dar fôlego novo à seleção, mas dificultaram a continuidade da organização. Geyse e Ana Vitória voltaram para o segundo tempo no lugar de Nycole e Debinha, a segunda substituída por cautela devido a um choque no joelho. Aos 12 do segundo tempo, Marta entrou na vaga de Ary e Bruninha, na de Tainara, que sentiu a perna depois de uma pancada no jogo. Mas foram os Estados Unidos que passaram a dominar a partida.

Aos 17, Tamires perdeu a bola na defesa e Lavelle encontrou Mallory Swanson, que bateu tirando da Lorena para marcar o oitavo gol dela nos últimos seis jogos dos EUA e ampliar a vantagem sobre o Brasil para 2 x 0. Quando restavam menos de 5 minutos para o fim do jogo, Pia lançou Ludmila para deixar Bia Zaneratto descansar. O confronto já não parecia mais promissor para o Brasil até Bruninha receber no bico da área, esperar Geyse puxar a marcação em boa movimentação e cruzar na medida para Ludmila marcar o único gol que os EUA sofreram nesta She Believes.

“Estou muito feliz por fazer um gol na seleção, que demorou para sair, mas saiu. O trabalho está sendo bem feito. Queria mais um minutinho de jogo, porque estava sentindo que daria para fazer mais um gol”, comentou Ludmila, após o jogo. Assim como o gol de Ludmila, o primeiro tempo do Brasil deu esperança de que o Brasil pode alcançar um nível de maior competitividade contra as grandes seleções do futebol feminino na Copa do Mundo. 

Ludmila descontou para o Brasil contra os EUA no fim do jogo | Foto: Thais Magalhães/CBF

Marta, que fez o terceiro jogo dela após se recuperar da lesão grave que a afastou dos gramados por quase 11 meses, aposta na continuidade do trabalho que está sendo realizado. “Vimos muita coisa boa e algumas coisas que não podemos repetir, precisamos continuar trabalhando. Fizemos um bom jogo contra os EUA, um time perigoso, rápido, veloz, forte, temos que entender que não podemos errar, os pequenos detalhes fazem muita diferença. Quando botamos a bola no chão e mantemos a posse a gente domina o jogo, são detalhes que precisamos melhorar na Copa do Mundo para jogar bem contra qualquer equipe”, analisou a camisa 10 do Brasil. 

O Brasil encerrou a She Believes com uma vitória sobre o Japão, por 1 x 0, e duas derrotas, uma para o Canadá, por 2 x 0, e essa para os EUA, por 2 x 1. A seleção brasileira tem mais dois amistosos confirmados antes da Copa do Mundo. O primeiro contra a Inglaterra na Finalíssima (disputada entre o campeão da Copa América e da Eurocopa), em 6 de abril, em Wembley, Londres, com ingressos já esgotados. O outro será diante da Alemanha, em território alemão, em 11 de abril, na data Fifa seguinte. 

Desde que assumiu a seleção brasileira após a Copa do Mundo de 2019, a técnica Pia soma 51 jogos pela seleção, sendo 31 vitórias, 11 empates, 9 derrotas, 117 gols marcados e 38 sofridos. 

FICHA TÉCNICA

EUA 2 X 1 BRASIL

Estados Unidos: Naeher; Fox, Girma, Sauerbrunn e Dunn (Sonnett); Sullivan (Mewis), Lavelle (Rapinoe) e Horan; Rodman (Williams), Mallory Swanson (Ashley Sanchez) e Alex Morgan (Taylor Kornieck).
Técnico: Vlatko Andonovski 

BRASIL: Lorena; Tainara (Bruninha), Lauren, Rafaelle e Tamires; Ary Borges (Marta), Kerolin, Nycole (Ana Vitória) e Adriana; Debinha (Geyse) e Bia Zaneratto (Ludmila).
Técnica: Pia Sundhage

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