Palmeiras quebra tabu, volta à final e fará decisão inédita contra o Santos no Paulista

(Foto: Celio Messias/Ag.Paulistão/Centauro)

Na noite de segunda-feira (12), o Palmeiras garantiu vaga na grande final do Paulista Feminino ao vencer a Ferroviária por 1×0 na Arena Barueri. O jogo de ida, em Araraquara, foi eletrizante e terminou empatado em 4×4 e, no confronto da volta, Andressinha foi a responsável por dar a vitória ao time alviverde que, após 21 anos, chega a uma decisão de Campeonato Paulista.

O gol palmeirense saiu aos 28 minutos da etapa final quando Andressinha cobrou falta da intermediária, a bola tomou efeito, passou por toda a extensão da área e parou dentro do gol da goleira Luciana. Em entrevista pós-jogo, a camisa 20 falou conosco sobre como foi a construção do gol que garantiu vaga na final do estadual.

“A gente acaba treinando muito essas faltas laterais porque são lances que decidem partidas e hoje acabou decidindo. Mas eu confesso que tentei (achar) alguém ali, de cabeça, só que procuro bater na direção do gol e a bola acabou pingando e entrando direto”, disse a jogadora.

Os dois duelos da grande final estão marcados para sábado (17), com o Santos mandando seu jogo na Arena Barueri (a Vila Belmiro passa por reformas no gramado) e quarta-feira (21), no Allianz Parque.

Em busca do título paulista 
Palestrinas comemoram classificação para a final do Paulistão (Foto: Fabio Menotti / Palmeiras)

O Palmeiras terminou a primeira fase da competição no topo da tabela. Em 11 jogos disputados, venceu 9, empatou um e perdeu apenas um também, para o Red Bull Bragantino. Foram 30 gols marcados e 7 sofridos. Como artilheiras do time, Bia Zaneratto e Ary Borges dividem o posto com 9 gols cada uma.

Segundo divulgou o clube paulista, essa será a terceira final de estadual que o Verdão disputará na história da modalidade. Em 2000 foi vice-campeão e em 2001 sagrou-se campeão.

Após a reativação da modalidade no clube, em 2019, essa é a quinta final de competição oficial que o Palmeiras disputa: uma decisão de Brasileiro em 2021 (vice-campeão), duas Copas Paulista (bicampeão), uma Libertadores da América em 2022 (campeão) e agora, o Paulista.

Pela terceira vez, o Palmeiras disputa duas finais em uma mesma temporada. Em 2000 chegou a decisão do Campeonato Paulista e do Campeonato Brasileiro, sendo vice-campeão nas duas disputas. Agora, alcança a finalíssima do estadual tentando quebrar uma escrita: a de nunca ter conquistado dois títulos em uma mesma temporada.

Para “temperar” ainda mais a briga pela taça, essa será a primeira vez que Palmeiras e Santos decidem um título em uma competição oficial no futebol feminino. Os dois times se enfrentaram na primeira fase do Paulista e o jogo acabou empatado em 2×2.

Crises e crescimento
(Foto: Staff Images Woman/CONMEBOL)

Neste ano, o Palmeiras deixou de ser uma equipe coadjuvante no cenário do futebol feminino. Liderou o Campeonato Brasileiro e o Paulista, venceu a Libertadores da América em cima do Boca Juniors e chegou à decisão do estadual.

Em comparação com as outras equipes (do Brasil e do Estado) é o clube que mais tem jogadoras de alto nível e com passagens pela Seleção Brasileira. Entre elas estão Bia Zaneratto, Ary Borges, Andressinha, Júlia Bianchi, Duda Santos e Bruna Calderan. Muitas delas já atuam juntas em duas temporadas e estão mais entrosadas.

O momento mais delicado para o clube no ano aconteceu no segundo jogo da semifinal do Brasileiro contra o Corinthians no Allianz Parque. Depois de ter perdido o primeiro duelo por 2×1 na Neo Química Arena, o Palmeiras (e sua torcida) estavam confiantes de que o segundo jogo poderia ser diferente. Mas, antes do jogo começar, foi divulgado que Agustina (zagueira e capitã da equipe) não estava relacionada para a partida, deixando torcedores e imprensa surpresos. Além dela, Thaís, sua companheira de zaga, também estava fora da decisão.

Dentro de campo foi possível notar que o time palmeirense não estava bem (taticamente, com uma zaga improvisada e também mentalmente) e o placar mostrou muito isso: 4×0 para as corinthianas dentro da casa do rival. Após a derrota, Alberto Simão, diretor do futebol feminino do Palmeiras, chegou a declarar que o afastamento das atletas não influenciou no desempenho do time dentro de campo.

“Emocionalmente não influenciou em nada, o grupo estava muito forte e muito confiante. A gente sabia que podia, a gente sabe do time que temos, da força do nosso projeto, esperávamos diferente. A gente tem pecado com alguns erros individuais, mas agora não é hora de achar culpados”, disse o dirigente.

Não é de hoje que surgem notícias sobre a falta de profissionalismo na gestão palmeirense. As jornalistas Tayna Fiori e Ludmilla Florencio publicaram uma matéria no site da TNT Sports no início deste ano em que ex-funcionários e atletas do clube – que trabalhavam para o futebol feminino – denunciaram abusos e desrespeito.

As situações extremas vivenciadas eram levadas para comissão, de acordo com a denúncia de algumas jogadoras, mas as questões eram tratadas com descaso por parte dos profissionais, como foi contado à reportagem da TNT Sports.

Até hoje, pelas redes sociais, torcedores e mídias independentes se manifestam e criticam a forma como o futebol feminino é comandado pela atual gestão. Durante o segundo jogo da semifinal do Paulista contra a Ferroviária, um usuário do Twitter usou a plataforma para criticar o departamento médico do futebol feminino após substituição da zagueira Poliana por conta de uma lesão na coxa: “Coitada, vai receber o tratamento numa garagem improvisada e com sérias chances do Simão mandar ela buscar fisioterapia particular.”

As jogadoras que atualmente defendem o clube, não demonstram insatisfação. Mas algumas atletas que passaram por lá nos últimos anos revelam descaso, falta de apoio e estrutura. Foi o que aconteceu com Stefany Krebs, a primeira atleta surda do futebol brasileiro, contratada pelo clube alviverde no início de 2020.

Ainda de acordo com o que apurou a reportagem da TNT, o clube trouxe a atleta do futsal feminino e, segundo a jogadora, tinha no contrato a necessidade de um intérprete, que nunca foi contratado.

Todas as fontes que a reportagem buscou, além da própria jogadora, afirmaram que precisavam explicar todo o treinamento para a Tefy, como é conhecida, e que a comissão não tinha paciência. As atletas que dividiam apartamento com ela acabaram eram quem mais auxiliavam, por terem aprendido Libras pela rotina.

Com o fim da temporada se aproximando, podemos dizer que o Palmeiras terminará o ano de 2022 de maneira muito satisfatória dentro de campo. Conquistou a Libertadores, chegou às semis do Brasileiro a ainda briga pelo título paulista. Mas, se não resolver suas questões internas e não tratar o futebol feminino com respeito, oferecendo a estrutura necessária, não servirá de exemplo e nem irá contribuir com a evolução do futebol de mulheres.

 

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