(Foto: Divulgação / CBFS)
Neste sábado (9) a cidade de Sorocaba (SP) recebe a primeira Liga Feminina de Futsal. Formada por 12 equipes de diferentes estados, a nova competição marca a união de clubes em busca de avanços para a modalidade e as atletas.
Com chancela da CBF, que se torna responsável, por exemplo, por incluir as jogadoras no BID e indicar diretamente o campeão da Liga para representar o Brasil na Libertadores da América, o novo torneio foi pensado por uma ex-jogadora com bagagem tanto nas quadras quanto fora delas. Tatiana Weysfield integrou a primeira seleção brasileira feminina de futsal, e preferiu se tornar uma ex-atleta para ajudar no desenvolvimento da modalidade.
“O esporte no Centro-Oeste do Brasil é muito empobrecido, tem pouco apoio, a maioria das atletas de alto rendimento vem de Santa Catarina, do Sudeste. Então, quando eu retorno da seleção eu percebo que eu quero mais para as atletas, pensando inicialmente no Distrito Federal. Comecei a trabalhar com gestão de esporte, assumi uma equipe, fundei uma equipe. Comecei a trabalhar com treinamento, assumi a diretoria do feminino na Confederação Brasileira de Futsal e saí depois de 5/6 anos, e aí surgiu a possibilidade da criação da liga”, conta Tatiana.
A passagem pela seleção brasileira foi fundamental para que Tatiana decidisse atuar nos bastidores do futsal. “Foi tudo um grande sonho estar na primeira seleção da história. Todo mundo fez muito certo naquela primeira convocação, todo mundo queria impressionar, eu tive um comparativo incrível”, explica a ex-atleta, que em seguida lamenta os problemas vividos dentro dos clubes, inclusive os ligados a assédios.
“Tem alguns gatilhos velados que não falamos. Quando fui para a seleção vi uma forma muito respeitosa de trabalho que não via há muito tempo. A gente entra no esporte e é comum, infelizmente, alguns membros da comissão técnica assediar atletas, ‘dar em cima’ das menininhas. Na seleção eu vi que não era assim, não deveria ser comum. Outra coisa é material de treino, coisas simples, era comum reaproveitar material do masculino, uniforme, bolas. Coisas do tipo ‘elas não precisam de bola nova’, então usávamos bolas furadas, toda oval”, completa.
A Liga entra justamente para dar mais profissionalismo à modalidade, segundo Tatiana. “A questão técnica e tática também me incomodava muito. Era o boleiro que dava o treino para as meninas, era qualquer um, era aquele que gostava de meninas, e não da técnica delas. Era um conceito muito pobre, pensei ‘tá tudo errado, não pode ser assim’, então fundei uma equipe pensando nas atletas, a criação da Liga é pensando nas atletas. Nós entendemos que a Liga só será grande se as atletas forem grandes. O que é melhor para elas, como valorizá-las”, aponta a gestora.
Adesão dos clubes e a conversa com as confederações
Para este primeiro ano, 12 clubes de diferentes estados aderiram à Liga. Ao contrário da CBF, a Confederação Brasileira de Futsal optou por não trabalhar em conjunto. “Não significa que a CBFS vai trabalhar contra, apenas não quis chancelar a competição, ela tem outras e não há nenhum atrito nisso”, garante Tatiana.
“A gente precisava começar de alguma parte, hoje são 12 clubes, mas a ideia é crescer e ter pelo menos um de cada estado do país. Foi meu esse start, mas nada foi feito sozinha. Entrei em contato com todos os clubes, dirigentes, atletas, fomos construindo juntos, cada um dava uma ideia, citava uma necessidade, não foi a construção de uma pessoa. A Amandinha (jogadora, oito vezes melhor do mundo), por exemplo, participou do processo, desde o início eu ligava para ela. No fim, o mais importante foi a união, união que deveria ter acontecido há muito tempo”, diz.
O diálogo e a transparência com os clubes é um dos pontos fortes deste novo produto do futsal feminino. Além de trabalhar em conjunto para não prejudicar o desempenho das equipes nas outras competições da temporada, a Liga tem planos e projetos que envolvem as próprias atletas.
“O nosso principal objetivo é o desenvolvimento. Se percebemos que é necessário criar uma outra competição, outros produtos, assim o faremos. Estamos de braços dados com as confederações, queremos ajudar a modalidade. Temos algumas paralisações visando torneios de seleção, acertos entre os clubes que se tiver alguma competição nacional que irão participar, a gente altera partida. Nosso intuito também é melhorar a questão educacional das atletas”, conta a ex-jogadora.
Prestes a estrear com a Liga em seu primeiro ano, Tatiana revela que já há planos para as próximas edições visando melhorias na remuneração das jogadoras. “Não queremos ter um trabalho imediatista, temos metas, metas grandes. Queremos em dois anos ter um valor mínimo de pagamento salarial das atletas para os clubes participarem, para isso, precisamos ajudar os clubes. Queremos também que as participantes tenham, pelo menos, segundo grau completo e estejam cursando universidade. De novo, a maioria das metas são para elas”, destaca a idealizadora da LFF.
Estreia próxima e legado a ser construído
A 1ª Liga Feminina de Futsal começa neste sábado, 9, na Arena Sorocaba (SP). A rodada de abertura reunirá as 12 equipes participantes em seis jogos. No dia seguinte (10), pelo Torneio Promocional, as quatro melhores da primeira rodada lutam pelo primeiro troféu da temporada.
“Quando atleta eu sempre entrava com friozinho na barriga e dizia que o dia que eu não sentisse mais eu pararia de jogar, e parei. Hoje sinto frio na barriga quando vamos entregar um evento, eu adoro entregar evento, fico ansiosa para que chegue logo. Gosto de olhar no olho de cada atleta, de saber o quanto está agradando, de estar realizando. Minha ansiedade é para ver o olho delas brilhando, das equipes, da mídia, de todos os envolvidos”, comemora Tatiana.
Hoje colhendo os frutos daquilo que projetou quando parou de jogador, a gestora espera que mais mulheres apareçam à frente de grandes e importantes projetos. “Até hoje eu olho para o lado e falo ‘ou eu estou no lugar errado ou esse lugar é que está errado’. Ainda é um espaço masculino, mas eu acho que aos poucos estamos ganhando nosso espaço, estamos crescendo como supervisoras, aos poucos estamos dominando os espaços. É claro que na gestão precisamos nos capacitar o dobro ou o triplo em comparação a um homem para que tenhamos uma tratativa igualitária, mas aos poucos você consegue ter espaço, um nome, e hoje temos melhorado”, diz Tatiana.
A Liga Feminina de Futsal terá transmissão do BandSports e da NSports. Todas as equipes se enfrentarão na primeira fase e as oito melhores qualificadas jogarão os playoffs divididos em quartas de final, semifinal e final.
As equipes participantes são: ADEF-DF, ADTB-PR, ADC-SE, Barateiro-SC, Cianorte-PR, Female-SC, Leoas da Serra-SC, Londrina-PR, São José-SP, Stein-PR, Sumov-CE e Taboão da Serra-SP