No terceiro dia de competições dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, finalmente saiu a primeira medalha feminina do Brasil. E foi logo um ouro conquistado com muito suor e muita emoção por Silvania Costa no salto em distância T11 para deficientes visuais.
A atleta, que já havia sido campeã paralímpica na Rio-2016, começou a disputa dando um susto na torcida. Nas duas primeiras tentativas de salto, Silvania acabou queimando a linha. Seria preciso acertar e atingir uma marca muito boa nos saltos seguintes para conseguir impor mais dificuldades às adversárias.
E foi exatamente isso que ela fez. Na terceira tentativa, saltou para 4.76m. A quarta foi um pouco abaixo, 4.69m. E aí na sua penúltima tentativa, conseguiu a marca que ninguém atingiu: 5 metros.
Não houve como conter a emoção. Depois de um ciclo muito complicado, com punição por doping, Silvania conseguiu se preparar em cinco meses para fazer o que parecia improvável: conquistar mais um ouro paralímpico para o Brasil. A atleta precisou de muita determinação e chegou a “se isolar” na reta final de treinos para focar totalmente na competição. Mas deu tudo certo no final.
“Entrei com muita garra, com muita determinação, com muito foco. Eu sabia o quanto eu tinha lutado, eu sabia o quanto que eu tinha lutado, o quanto que eu superei para conseguir chegar neste momento”, disse a atleta.
Silvania conquistou o ouro na Rio-2016 sem saber que estava grávida de dois meses. Seu filho João nasceu e ela chegou a pensar em parar de competir. No entanto, para sustentar tanto o recém-nascido, quanto sua filha mais velha, ela persistiu e seguiu treinando. Só que em 2019, acabou sendo pega num exame de antidoping e foi punida tendo que ficar 20 meses longe das pistas.
A punição foi pelo uso de uma substância proibida em um suplemento, que havia sido indicado pelo seu antigo guia. Sem poder treinar ou competir por tanto tempo, Silvania não conseguiu se preparar da maneira que gostaria para Tóquio.
“Eu perdi muitos treinadores porque eu não podia frequentar as pistas, perdi grandes patrocinadores, minha condição física e também minha condição financeira. Sei que minhas concorrentes se prepararam cinco anos e eu só me preparei durante cinco meses. Tive que abrir mão de muitas coisas. Uma delas foi meu filho! Meus filhos são a paixão da minha vida, mas tive que deixá-los para ficar concentrada no Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo”, disse após a prova.
“Nos Jogos do Rio, eu sabia que eu tinha trabalhado por quatro anos para estar ali. Então, foi uma sensação de fazer o que eu estava fazendo dentro de casa. Agora, aqui em Tóquio, eu me senti um pouco insegura por causa da minha capacidade física. Eu sei que eu não trabalhei o suficiente, mas eu sabia que a minha capacidade mental, a minha determinação e a minha garra iam fazer a diferença”, afirmou ao Olimpíada Todo Dia.
E como fizeram a diferença. Os cinco meses de dedicação, o tempo longe dos filhos para focar na competição, tudo isso foi transformado em ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Silvania agora só quer voltar para casa para abraçar as crianças.
“Os Jogos do Rio foram para a minha filha mais velha porque eu sabia que eu tinha que fazer um futuro para ela. Pensei em desistir depois do nascimento do João (ela competiu na Rio-2016 sem saber que estava grávida de dois meses), mas eu vi que sou mãe e pai dos dois, eu que sustento os dois e vi a necessidade de voltar para a pista. Então, meu retorno foi pelos meus filhos”.
Que retorno! Pode comemorar, Silvania, você é bicampeã paralímpica!
Com os bons resultados desse terceiro dia de competições, o Brasil já está na sexta colocação no quadro de medalhas dos Jogos Paralímpicos, com 17 medalhas conquistadas até aqui, sendo seis delas de ouro.