Envolvido em uma denúncia grave de assédio, o presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi julgado pelo Comitê de Ética da entidade que decidiu apenas puni-lo com 15 meses de afastamento. Como ele já está há três meses fora do cargo, seu retorno estaria marcado para agosto do ano que vem.

No entanto, ainda há a possibilidade de ele reassumir a presidência nas próximas semanas, se a Assembleia Geral (formada pelos presidentes das federações) decidir absolvê-lo da pena.

Para convencer os votantes a mantê-lo no cargo, Caboclo teria produzido um vídeo reunindo pontos positivos de sua gestão. O material foi divulgado pela jornalista do Uol, Marília Ruiz, e contém imagens da técnica da seleção feminina de futebol, Pia Sundhage, e da jogadora Formiga endossando os investimentos ao futebol feminino feitos durante o período em que Caboclo esteve na presidência. A defesa do dirigente nega a autoria do vídeo.

“A CBF que mais investiu no futebol feminino”, é o título que vem acima da imagem de Caboclo abraçando a técnica Pia e, em seguida, surge a foto de Formiga com a seguinte frase: “Caboclo foi o melhor presidente para o futebol feminino que já existiu”, atribuindo a aspa a uma entrevista dela dada à revista Veja em julho.

Em contato com a reportagem, Formiga disse que tomou conhecimento do vídeo na manhã desta quarta-feira e que já está tomando providências. Revoltada com uso de sua imagem em um contexto de apoio à permanência do presidente da CBF acusado de assédio, a meio-campista disse que distorceram a sua fala e estão manchando sua imagem com isso.7

“Não estava sabendo de nada, fomos pegas de surpresa. É revoltante. Usar minha imagem a favor de algo que sou contra. Não compactuo com essa situação. Estamos tomando providências, fica algo muito chato. Eu sou símbolo do futebol feminino, sou símbolo da luta das mulheres, então sou contra o que eles estão fazendo”, afirmou às Dibradoras.

“Modificaram a minha fala também. Falei que ele fez coisas boas para o futebol feminino. Coisas que a gente nunca teve e sempre brigamos por isso. Mas isso foi fora do que ele está sendo acusado. Vamos tomar nossa providência. Mancha minha imagem. Eu não sou a favor disso.”

Formiga também reiterou que ela fez parte da manifestação histórica feita pela seleção feminina de futebol no amistoso contra a Rússia antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em que as atletas entraram em campo com uma faixa “Assédio Não”.

“A gente entrando em um jogo com essa faixa já diz que o grupo é completamente contra qualquer tipo de abuso. Por que eles não usaram isso na campanha? A gente nao pode aceitar isso, a gente tem que se manifestar. As jogadoras se manifestaram na época, falamos inclusive com os homens da comissão técnica, que também tinham que se manifestar. E todos concordaram. Aí o cara vem com ma fé e usa a minha imagem pra querer se defender, pra tentar sobressair. Queria que eles colocassem essa foto com a faixa do assédio não no vídeo”, afirmou a jogadora.

Em mais de 25 anos de seleção brasileira, Formiga já passou por muita coisa no futebol feminino. E por muito tempo, as jogadoras não tiveram voz nenhuma para se manifestar contra o descaso da CBF com relação à modalidade. No entanto, ela vê que agora há um novo momento para as mulheres no futebol e é importante que elas se manifestem nesses casos.

“Antigamente, a gente vivia muito calada, era proibida disso, daquilo. Hoje a gente tem voz, tem como expor o que a gente é a favor e contra”.

Sobre a decisão da Comissão de Ética, que evidenciou que os casos de assédio dos quais Caboclo foi acusado foram escanteados, e ignorados até, em uma disputa pelo poder na entidade, Formiga também mostrou sua indignação.

“Acho que as pessoas precisam ter consciência do que está acontecendo. Se não quer que se repita, não dê a segunda chance. Tem que rever, dar um tempo, ver as coisas da maneira como aconteceu. Tem áudio, tem muita coisa. O que aconteceu com essa funcionária, eu não aceitaria se fosse com uma sobrinha minha. Que eles tenham consciência, que a verdade apareça, que as pessoas que têm esse poder na mão repensem. Imagina se fosse uma filha deles, uma sobrinha?”, finalizou.

Ainda não há data para a reunião da Assembleia Geral dos presidentes de federações, que votarão pela manutenção da pena de 15 meses de afastamento para Rogério Caboclo, ou por sua absolvição completa.