Copa Feminina no Brasil: prós e contras de sediar o torneio em 2027

(Foto: Thais Magalhães/CBF)

O Brasil se candidatará para sediar a Copa do Mundo de Futebol Feminino em 2027. A intenção que já havia sido anunciada pela ministra do Esporte, Ana Moser, ganhou respaldo do presidente Luís Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira (30/03), durante o evento realizado no Palácio da Alvorada, em Brasília, para receber a taça do Mundial Fifa 2023.

“O governo brasileiro estará à disposição da CBF para fazer o que for necessário para que o Brasil consiga trazer em 2027 a Copa do Mundo para o Brasil”, disse Lula. O presidente também assinou o decreto que cria a Estratégia Nacional para o Futebol Feminino apresentado pela ministra Ana Moser. Ela reafirmou que vai priorizar o desenvolvimento do futebol feminino no país, incluindo a organização de competições, formação de times e o reconhecimento da modalidade pela sociedade.

Por um lado, a possibilidade de o Brasil sediar mais uma Copa do Mundo – a primeira feminina – gera empolgação entre os apaixonados pelo esporte brasileiro. Por outro lado, desperta preocupação e certa desconfiança.

Por isso, o Dibradoras reuniu pontos positivos e negativos do que poderá ser a primeira Copa Feminina da América do Sul – fato que amplia as chances brasileiras na disputa, que já conta com as intenções de Estados Unidos, África do Sul e da candidatura conjunta de Bélgica, Holanda e Alemanha.

Pontos positivos de sediar a Copa feminina em 2027 no Brasil

-Mudar a mentalidade preconceituosa das pessoas – principalmente dos dirigentes que ainda enxergam o futebol feminino como um “estorvo”, como algo que não dá retorno, que não tem qualidade e não atrai público. É mais uma oportunidade de acompanhar, de perto, todo o potencial que a modalidade tem para ser explorado dentro e fora do Brasil.

+ COPA DE 1991: 30 ANOS DA 1ª COMPETIÇÃO OFICIAL DE FUTEBOL PARA AS MULHERES

-Contribuir para o desenvolvimento do futebol feminino no país, aproveitando a grande visibilidade nacional e internacional gerada pelo evento, que também reflete em maiores investimentos nos campeonatos (de primeira e segunda divisão, profissional e de base, além do estímulo na criação de mais espaços de aprendizados para meninas e maior propagação da modalidade dentro das escolas).

-Servir de inspiração para que mais mulheres se interessem pelo futebol. A realização do Mundial no Brasil pode servir também como um impulso para inspirar meninas e mulheres a trabalhar com o esporte. Após anos de proibição que as afastou dos campos, o efeito de ligar a TV e visualizar a presença feminina ocupando diversas funções em um campeonato gigantesco pode ser transformador. Garotas podem sonhar em ser jogadoras, árbitras, treinadoras ou jornalistas, abrindo um mundo de possibilidades que, talvez, elas nem tenham imaginado que era possível.

+ TORCEDORA COLORADA DE 4 ANOS VIRALIZA NA INTERNET NARRANDO GOL DE CUESTA

-Descentralização do futebol feminino. Uma Copa do Mundo com jogos espalhados por várias cidades brasileiras, como ocorreu com o Mundial masculino em 2014, leva a modalidade para além das fronteiras onde já é reconhecido. A disparidade do futebol feminino em São Paulo, onde concentra as melhores estruturas de formação e profissionalização, e do Rio Grande do Sul, onde a modalidade também atingiu bom desenvolvimento, é gritante em comparação às regiões do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, uma realidade que precisa começar a mudar e uma Copa do Mundo pode ser um bom empurrãozinho.

-Estádios e estruturas esportivas já montadas no padrão Fifa. O Brasil já conta com essas estruturas por conta da realização da Copa do Mundo masculina em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016, além da estrutura urbana das possíveis cidades sedes, com transporte, aeroportos e rede hoteleira. Esse aspecto foi ressaltado pela ministra Ana Moser: “A proposta dessa Copa do Mundo feminina vai na linha de aproveitar esse legado da Copa do Mundo, especialmente. Nós não precisamos construir nada pra fazer a Copa do Mundo feminina. Isso eu acho que é uma iniciativa que vai na valorização do legado dessas estruturas”.

Seleção Feminina disputando o Torneio de Manaus em 2021 (Foto: Gazeta Press)

-A Copa feminina nunca foi sediada na América do Sul, o que aumenta as chances do Brasil, que vem sendo um pólo do futebol feminino no continente (são 40 jogadoras sul-americanas nesta edição do Brasileiro A1). A Fifa vem tentando intercalar mais os continentes que recebem o evento. O Mundial feminino já foi disputado três vezes na América do Norte (EUA: 1999 e 2003; Canadá: 2015) e três vezes também na Europa (Suécia: 1995; Alemanha: 2011; e França: 2019). A Ásia sediou duas vezes (China: 1991 e 2007); e a Oceania vai receber pela primeira vez na Austrália e Nova Zelândia neste ano.

-Sonhar com uma conquista inédita em casa! A seleção brasileira feminina nunca conquistou o título mundial. Depois que ficou com o vice-campeonato em 2007, a equipe brasileira foi ficando para trás diante do aumento de investimento no futebol feminino de outros países, principalmente europeus. Apenas em 2019, a CBF começou a ter um olhar mais atento e profissional para dar condições reais das nossas jogadoras serem competitivas no cenário internacional. Daqui quatro anos, o atual elenco brasileiro, que passou por grande renovação, terá tido mais tempo para trabalhar e lapidar os jovens talentos que chegaram nesse último ciclo. Com uma seleção que tende a ser mais forte em 2027 e que vai jogar com o apoio da torcida em casa, por que não sonhar com um título?

+ HÁ 80 ANOS, UMA LEI TENTOU IMPEDIR MULHERES DE JOGAREM FUTEBOL

Pontos negativos de sediar a Copa feminina em 2027 no Brasil

-Falta de planejamento da CBF. A CBF melhorou a atenção dada ao futebol feminino, mas ainda tem problemas estruturais e dificuldades de planejar as coisas a longo prazo. A Seleção feminina sub-15 é uma promessa há anos, mas ainda não saiu do papel. Os amistosos muitas vezes acabam sendo fechados em cima da hora. A divulgação de jogos da seleção feminina no Brasil sempre foi péssima e feita de última hora. É preciso que a CBF jogue a favor dessa Copa no Brasil e aí precisaremos de mais profissionalismo e organização por parte da entidade.

-Comprometimento de federações e clubes para o desenvolvimento. Não basta sediar uma Copa. É preciso que toda a cadeia do esporte caminhe na mesma direção para desenvolver o futebol feminino no Brasil sem chance de retrocesso. É preciso que as federações (além da Paulista) se comprometam com isso, assim como clubes.

Em 2019, o Bahia foi campeão estadual; sobre a competição de 2020, a Federação disse na época que não iria realizar para as mulheres (Foto: Divulgação)

-Visibilidade além da Copa. A mídia precisa olhar para o futebol feminino de outra forma, como parte das suas coberturas diárias. Não só guardar espaço pra isso em ano de Copa, mas construir essa cobertura diariamente, engajar o público e mostrar que tem muita coisa positiva na modalidade. Os campeonatos precisam estar na TV aberta com mais frequência, seja com transmissões ou com debates sobre as partidas realizadas. Assim será possível chegar em 2027 com as pessoas realmente conhecendo a modalidade, acompanhando e ansiosas para receber uma Copa do Mundo enchendo os estádios e fazendo um espetáculo nas arquibancadas.

Compartilhe

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *