A Rainha voltou! E voltou com tudo. Após quase 11 meses longe dos gramados em recuperação da lesão mais grave da carreira, Marta precisou de quatro minutos em campo para mudar o jogo de estreia da seleção brasileira na She Believes, contra o Japão, nesta quinta-feira (16/02).
Aos 22 minutos do segundo tempo, a partida estava empatada em 0 a 0 quando o som das arquibancadas aumentou: Marta entrava em campo no lugar de Bia Zaneratto e ainda recebia a braçadeira de capitã da Tamires, substituída por Yasmim.
Quatro minutos depois, Debinha interceptou a saída de bola japonesa e passou para Marta, aberta na esquerda. A camisa 10 pedalou para cima de Miyake, chegou na linha de fundo e cruzou rasteiro para Debinha completar pro gol da pequena área. Em questão de minutos, a Marta correspondeu às expectativas entusiasmadas da técnica Pia Sundhage, que foi certeira na véspera do confronto: “É a antiga Marta, no melhor dos sentidos, traz a experiência e também aquele passe final”.
No pós-jogo, a técnica constatou: “Marta está de volta. Ela vai nos ajudar muito”.
“Esse período foi um desafio para mim, dia após dia. É complicado porque tenho 22 anos jogando profissionalmente e foi a primeira vez que fiquei bastante tempo fora. Mas a recompensa é maior quando tem muita dedicação”, desabafou Marta, emocionada após o jogo. “Estou muito feliz pelo retorno. Sei que tenho que trabalhar muito para voltar a ser aquela Marta que tem os piques muito mais rápidos do que esses”, completou. A camisa 10 ainda elogiou a qualidade dessa seleção renovada e disse que o elenco está se fortalecendo, principalmente na parte tática e física.
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— Dibradoras (@dibradoras) February 16, 2023
A qualidade técnica da Marta ajudou a seleção, que deixou a desejar na criatividade e na movimentação para ser mais efetivo no ataque. Quando as oportunidades apareceram, principalmente em jogadas de contra-ataque, as atletas se precipitaram. Foi assim nas duas principais chances do Brasil no primeiro tempo. Mas uma antiga conhecida da seleção chamou atenção diante das japonesas: Bia Zaneratto. A atacante do Palmeiras foi bastante ativa sem a bola, pressionando na marcação e sendo importante na roubada de bolas que geraram contra-ataque.
O Brasil manteve a maior posse de bola no campo de ataque nos primeiros 10 minutos, pressionando a saída de bola japonesa. Mas a primeira boa chegada veio de um contra-ataque depois de um corte feito justamente pela Zaneratto no campo de defesa em que já acionou Debinha. A camisa 9 conduziu a bola e achou ótima enfiada de volta para Zaneratto, que finalizou em cima da goleira.
Aos 20 minutos, foi a vez da Bia Zaneratto quebrar a linha de defesa japonesa com outra característica forte da atacante. Ela acertou um lançamento para a Geyse que a deixou na cara do gol. A atacante driblou a goleira, mas ficou sem ângulo e finalizou fraquinho. Após começar os primeiros 10 minutos do jogo em que manteve as linhas altas para pressionar a saída de bola japonesa, a seleção brasileira recuou no posicionamento e caiu de rendimento, cedendo espaço para a habilidosa equipe japonesa trabalhar a bola.
COLETIVA DA PIA
Como avalia o jogo? “A parte mais difí contra um time organizado com o Japão foi o passe final. Nós perdemos a bola de maneira muito frequente. Quando fazemos isso, precisamos defender. E aí tem a decisão de pressionar alto pra retomar a posse ou recompor.” pic.twitter.com/sbGXKyrLJu
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Testes no meio e no ataque
Um dos principais alvos de observação da treinadora Pia era Júlia Bianchi, que recebeu uma chance para voltar à seleção depois de mais de um ano sem ser convocada. “Veremos se ela é uma das peças desse quebra-cabeça. Temos algumas opções no meio-campo e talvez ela seja uma delas”, avisou Pia, que começou com Júlia como titular no lugar de Ary Borges, poupada. Mas a volante não se destacou no meio-campo e foi substituída no intervalo.
“Julia foi ok. Ela era pra ser mais uma controladora. Retomar a posse e fazer passes mais fáceis. Ela foi ok”, avaliou a treinadora.
Ana Vitória entrou bem no lugar da Júlia para atuar ao lado da Kerolin, que correspondeu mais uma vez jogando no meio-campo. Ela inclusive salvou o Brasil de sofrer o empate depois de uma bobeira da defesa em que Kobayashi avançou pelo meio até entrar livre na área. Em uma recomposição fantástica, Kerolin desarmou a japonesa na hora do chute.
Lauren e Nycole Raysla foram as outras substituições feitas no intervalo do jogo. Elas entraram no lugar de Tainara e Geyse. Assim como Marta, Nycole retornou à seleção após se recuperar de uma cirurgia do ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho, mas a jovem atacante já havia voltado a jogar pelo Benfica no início da temporada portuguesa, em setembro. Com a amarelinha, ela foi novamente muito bem.
Aos 8 minutos do segundo tempo, Nycole recebeu na entrada da área pela esquerda e chutou cruzado, exigindo bela defesa da Tanaka no canto direito. Nycole tem apenas 22 anos e mostra muito potencial. Com um perfil bem característico de atacante de área e com biotipo forte, além de boa finalização. Portanto, pode ser uma alternativa para a Bia Zaneratto, única atacante da seleção brasileira com essa característica.
Bruninha muito exigida defensivamente
Não foi um jogo fácil, principalmente defensivamente para Bruninha na lateral direita. A jovem jogadora – que foi capitã da seleção sub-20 no Mundial da categoria disputado em agosto de 2022 – foi muito exigida e se saiu bem diante das investidas japonesas no 1×1.
Do lado esquerdo, porém, Yasmim, que também está recebendo uma nova chance com a amarelinha, pecou na parte defensiva. A lateral do Corinthians entrou aos 34 minutos do segundo tempo.
A técnica Pia sempre fala que busca respostas na composição do elenco que está em reta final de formação para a Copa do Mundo, que será disputada entre 20 de julho e 20 de agosto, na Austrália e na Nova Zelândia. O primeiro teste do Brasil na She Believes trouxe algumas, mas nada definitivo ainda. De qualquer forma, além da vitória por 1 a 0 diante Japão, foi um teste importante e necessário contra um estilo de jogo asiático que impôs dificuldades em vários momentos da partida.
“Se tivermos paciência e conseguirmos ter mais a bola, estaremos numa situação melhor. Mas às vezes quando perdemos a bola nós perdemos a paciência e nos desorganizamos. Esse jogo vai nos ensinar muito, temos muita coisa que podemos mudar com relação à tática”, avaliou Pia, após o jogo. A treinadora também destacou o incômodo de o time ter acionado pouco os lados do campo no ataque, o que pretende melhorar nas outras partidas.
Os próximos confrontos do Brasil pela She Believes são contra o Canadá, no domingo de carnaval, às 20h30 (horário de Brasília) e diante dos Estados Unidos, na quarta-feira também às 20h30. Todos os jogos do Brasil serão transmitidos pelo SporTV.
FICHA TÉCNICA
JAPÃO 0 x 1 BRASIL
BRASIL: Lorena; Bruninha, Tainara (Lauren), Rafaelle e Tamires (Yasmim); Júlia Bianchi (Ana Vitória), Kerolin, Adriana e Geyse (Nycole); Debinha (Gabi Nunes) e Bia Zaneratto (Marta).
Técnica: Pia Sundhage.
JAPÃO: Tanaka; Shimizu, Minami, Kumagai e Miyake; Nagano, Hasegawa, Sugita (Jun Endo), Miyazawa e Fujino; Ueki (Maika Hamano).
Técnica: Futoshi Ikeda.
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