Pioneira lesionada em jogo na Granja Comary ainda espera ajuda da CBF

Suzy Bittencourt de Oliveira se despediu da seleção brasileira feminina há 26 anos, mas em dezembro de 2021 teve a oportunidade de sentir novamente o que é jogar pelo Brasil. No evento promovido pela CBF, que reuniu as pioneiras do futebol feminino do país, a ex-atleta do Vasco de 55 anos estava lá para o que até então era pura diversão e comemoração.

Para celebrar os 30 anos da primeira Copa do Mundo Feminina, a Confederação Brasileira de Futebol convidou 30 atletas que formaram a primeira equipe nacional de mulheres para um jogo festivo na Granja Comary, em Teresópolis (RJ). Foi um fim de semana importante, de resgate histórico e homenagens, mas que não terminou como Suzy gostaria – e imaginava.

“Separam duas equipes, todas nós acima dos 55 anos (risos). Eu, magrinha, pensei: ‘Ah, também vou brincar um pouquinho’. Nos primeiros dez minutos de jogo eu prendi meu pé na grama e torci o joelho, na hora sabia que tinha rompido o ligamento”, conta a ex-zagueira.

Além de Pia Sundhage, técnica da seleção brasileira, Duda Luizelli, na época coordenadora de seleções femininas (demitida posteriormente) e Aline Pellegrino, que assumiu o cargo de Duda, médicos e profissionais da área também estavam no local. “O evento se estendeu e meu joelho começou a inchar, mostrei para eles e falei: ‘É ligamento, acho que rompi, não tá legal”, comenta Suzy.

Fisioterapeuta e professora de pilates, a ex-jogadora do Vasco já passou pela mesma lesão de LCA durante a sua carreira. Segundo ela, há um preço alto para quem viveu o futebol feminino brasileiro lá no seu começo, no auge da precariedade. “Joguei por oito anos no Brasil, com um treinamento arcaico, na época não sabíamos se eram verdadeiros profissionais. O futebol feminino era recente, não sabíamos exatamente quem era colocado para trabalhar com a gente. Muitas vezes passamos por treinamentos inadequados”, explica a ex-atleta.

Créditos: Thais Magalhães/CBF

Os próximos dias seriam muito difíceis para Suzy. Ela retorna para Salvador e começa a saga pela cirurgia. “Eles (CBF) entraram em contato para saber como eu estava, o médico me direcionou para um colega, mas precisei procurar alguém do convênio. Até meu plano de saúde liberar material, coisas da cirurgia passou quase 3 meses. Nesse tempo a CBF não arcou com nenhuma responsabilidade, cheguei a perguntar para uma pessoa de lá e nada. Foi tudo pelo meu plano e por mim mesma, deslocamento, remédios, eu banquei tudo”, fala Suzy.

“Para não dizer que não fizeram nada, eles pagaram duas mensalidades do meu plano de saúde porque eu disse que não tinha mais como pagar”, completa.

Autônoma, Suzy ficou impedida de trabalhar por conta da lesão e ouviu dos médicos que sua recuperação levaria algum tempo. “Meu plano liberou a cirurgia em 8 de março, mas desde dezembro estou de muleta. Foi um procedimento bem complicado, era para durar 2h, durou 5h. Tenho mais 12 meses de recuperação, ou seja, um ano sem poder exercer minha profissão e ganhar dinheiro”, explica a ex-atleta.

Créditos: Arquivo Pessoal

Além de apoio financeiro, Suzy cobra da CBF um melhor cuidado com quem tanto fez pelo Brasil. Vale lembrar que no caso da seleção brasileira masculina, há um projeto de lei (Lei dos Campeões Mundiais, de 2013) que garante aposentadoria a todos os atletas vivos das Copas de 1958, 1962 e 1970, desde que não tenham rendimentos superiores ao teto da Previdência.

“Quero que eles (CBF) não se furtem da responsabilidade que eles têm. Foi um evento para ser histórico para o futebol feminino. Me parece que estava em falta isso na história, fomos lá para ser homenageadas. No entanto, quando voltei, voltei lesionada. Saí de casa trabalhando e voltei sem trabalhar, eu não posso ser a responsável por isso. Como vou sobreviver? Pedindo empréstimos, vivendo de cheque especial?”, questiona a fisioterapeuta.

“Eles (CBF) podiam assumir essa responsabilidade, porque a dor eu já estou sentindo. Eu quero que eles coloquem a mão na consciência para poder me ajudar nesse momento difícil, afinal, se eles nos levaram dizendo que estavam comemorando os 30 anos do futebol feminino, como se fosse uma consideração pelo o que fizemos, se de fato foi feito em respeito ao que fizemos, esse respeito tinha que se estender para a minha situação agora. Não é assim que se trata uma atleta que esteve ali para representar a modalidade”, completa.

Créditos: Arquivo Pessoal

Em contato com a Confederação Brasileira de Futebol, a entidade informou que: “O relatório médico de Suzy chegou há um mês na CBF, e como tudo na casa tem processos para reembolso, o dela também vai passar por esse processo. A CBF não deixa de cumprir suas obrigações com atletas e ex-atletas”.

“Eu não quero brigar com a CBF, mas se no último momento eu for obrigada a buscar esse suporte na Justiça, vou ter que fazer isso. É mais um apelo que eu faço à entidade, que, por favor, me ajude nesse momento tão difícil”, finaliza Suzy.

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