Rafaelle e Ivana abrem espaço para jogadoras brasileiras na Inglaterra

Pela primeira vez, times de jogadoras brasileiras se enfrentaram na Women’s Super League, a liga de futebol feminino da Inglaterra. Ivana Fuso, do Manchester United, e Rafaelle Souza, do Arsenal, são respectivamente a segunda e a terceira jogadoras brasileiras a disputar a competição. A partida terminou em 1 a 1, mas com sabor de vitória para as donas da casa, que saíram atrás no placar e se recuperaram mesmo com uma jogadora a menos após a expulsão de Katie McCabe.

No entanto, apenas Rafaelle entrou em campo durante a partida. Para o desespero de quem queria fazer a matéria sobre duas brasileiras jogando uma contra a outra, este momento (ainda) não aconteceu. A zagueira substituiu Steph Catley aos 25 minutos da segunda etapa, enquanto Ivana aquecia ao lado do banco do United, mas não foi acionada. No entanto, após o jogo, elas mostraram nas redes sociais que deram um jeitinho brasileiro de bater papo lá no Meadow Park.

Ivana e Rafaelle postaram uma foto juntas após a partida e a zoeira continuou nos stories. Foto: Reprodução/Instagram/@rafaellesouza4

O futebol feminino na Inglaterra tem garantido benefícios para as jogadoras, e cada vez mais o país se torna um destino interessante para as atletas. Rafaelle, por exemplo, em entrevista às Dibradoras, falou sobre o profissionalismo e a competitividade da liga como atrativos – e garantiu que quer trazer outras brasileiras para o país. Além disso, várias jogadoras que disputaram prêmios individuais mundiais jogam em clubes da WSL.

Um dos exemplos foi a mudança recente das regras nos contratos das atletas com relação a licença-maternidade e direitos para atletas que sofrem lesões graves ou ficam doentes. A Football Association, federação inglesa de futebol, garantiu que as jogadoras que entrem em licença-maternidade recebam o salário integral por 14 semanas, não importa há quanto tempo estejam no clube. Além disso, também devem receber o salário-base pelos primeiros 18 meses caso precisem se afastar após uma lesão.

Outro atrativo da WSL é a competitividade: pouco após a metade do campeonato, as cinco primeiras equipes na tabela ainda têm chances de conquistar o título. Embora a briga esteja mais concentrada entre Arsenal, Chelsea e Manchester United, o Manchester City e o Tottenham ainda têm chances de se recuperar e ameaçar o domínio dos três primeiros. E é só olhar para a tabela e para os próximos confrontos para entender o motivo: Chelsea e Arsenal se enfrentam na próxima rodada, no mesmo fim de semana do derby de Manchester.

Por isso, alguns dos principais veículos de comunicação do país tinham repórteres in loco para a partida – só ao meu lado, havia uma pessoa escrevendo para o The Telegraph, outra para o The Guardian, e um terceiro dando atualizações da partida para a BBC Radio 5. Além disso, a partida era transmitida para todo o país pela emissora Sky Sports. No Brasil, o confronto foi exibido pela ESPN.

Ainda assim, a desigualdade entre as primeiras divisões masculina e feminina é evidente. O Arsenal manda os jogos da equipe feminina e das categorias de base no Meadow Park, estádio que fica na cidade de Borehamwood, na região metropolitana de Londres. O local tem capacidade para 4,5 mil torcedores e recebeu cerca de 2,3 mil numa tarde de sábado (muito) fria e ensolarada. A bola inclusive chegou a passar por cima das arquibancadas e sair do território do estádio algumas vezes durante a partida, indo parar no estacionamento ou nos fundos do local.

O clima mais intimista, no entanto, aproxima – literalmente – a torcida das jogadoras. Após a partida, por exemplo, um grupo de fãs cantou “Parabéns” para Stina Blackstenius. A atleta sueca, que chegou aos Gunners há menos de um mês, marcou o seu primeiro gol com a camisa do time londrino no dia em que completava 26 anos. Além dela, outras jogadoras como Vivianne Miedema – que deu um passe belíssimo para o gol da aniversariante -, a própria Rafaelle e Beth Mead deram autógrafos e posaram para fotos com torcedores.

O público deste sábado (5), formado em sua maior parte por mulheres e famílias, enfrentou uma breve jornada para chegar ao estádio. Borehamwood fica a cerca de 19 km do centro de Londres, e o jeito mais rápido de chegar ao estádio utilizando transporte público é o trem, que deixa o torcedor a cerca de 20 minutos de caminhada do estádio. No total, o custo de ida e volta do centro da capital – considerando duas passagens de metrô e duas de trem – é de £11,60. O valor, em reais, passa dos R$ 80 – mas não é exorbitante quando se trata do custo de transporte londrino. O trajeto completo pode durar mais que uma hora.

O custo dos ingressos é outro atrativo para o público. Ao contrário da dificuldade de se encontrar entradas para o futebol masculino, os bilhetes para o jogo ainda eram vendidos pela manhã no site oficial, mesmo sendo um duelo entre dois clubes tradicionais. As entradas custariam £8 (cerca de R$ 57, mas quem converte não se diverte). Para se ter uma ideia, os ingressos para os jogos do Arsenal feminino no Emirates Stadium – contra o Wolfsburg pela Champions League, e contra o Tottenham pela WSL – serão vendidos a partir desta segunda-feira (7), a £12 (R$ 86). Caso o torcedor queira ir às duas partidas, poderá comprar os ingressos juntos e com desconto, a £20 (R$ 144). E o estádio fica localizado a 25 minutos do centro da cidade.

A torcida dos Reds, visitante e em menor número, se empolgou com o gol de Alessia Russo, as defesas de Mary Earps e chutes ameaçadores de Ona Batlle, Signe Broon e Ella Toone. Russo abriu o placar aos 9 minutos de cabeça, após uma cobrança de escanteio. No entanto, mesmo com uma jogadora a mais, sofreram o gol de empate de Blackstenius e deixaram o campo com o gosto amargo dos dois pontos perdidos.

E a única brasileira dentro das quatro linhas? Rafaelle foi aplaudida pelos torcedores do Arsenal após impedir algumas chances de ataque das adversárias e chegou a arriscar um cabeceio após uma cobrança de escanteio já nos acréscimos, mas não conseguiu a virada. Pelo visto, vamos ter que esperar um pouco mais para ver duas brasileiras jogando juntas (ou uma contra a outra) na WSL. Ainda assim, o primeiro passo já foi dado. E que venham muitos outros.

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