Nos dias 14 e 15 de outubro, a Federação Paulista de Futebol realizou a 2ª edição da Peneira Sub-17 no Centro de Práticas Esportivas da USP. Antes das 9h da manhã do primeiro dia, a fila já estava formada: pais, mães e acompanhantes das garotas entre 14 e 15 anos aguardavam a abertura do portão para dar início à seletiva.
Lá dentro, os protocolos de saúde foram adotados. A FPF arcou com os custos e realizou testes rápidos em cada menina inscrita para se certificar de que todas elas estavam negativas para o Coronavírus. Dentro do gramados 13 profissionais de Educação Física e Esporte (12 mulheres e 1 homem) deram os treinamentos para as 48 presentes na parte da manhã do primeiro dia de testes.
DIA DE PENEIRA!
Entre hoje e amanhã, mais de 200 meninas serão observadas pelos clubes que disputam o Paulista Feminino Sub-17.
É a oportunidade de se tornar um jogadora de futebol profissional ❤️
Boa sorte, meninas!#Peneira #FutebolFeminino #Futuro
Rodrigo Corsi/Paulistão pic.twitter.com/v9bvWuW0Ed— Paulistão Feminino (@PaulistaoFem) October 14, 2021
No discurso inicial, uma das treinadoras da peneira, Ana Cláudia Mayumi, já deixou claro para as participantes que aquele dia e aquele espaço pertencia a elas e, assim, o pontapé inicial foi dado.
Ana Lorena Marche, Coordenadora de Futebol Feminino na FPF, também discursou e frisou para as garotas que a peneira vai além do sonho de se tornar uma jogadora. “A gente queria mostrar para as meninas que esse dia não serve só para elas serem vistas pelos clubes e se tornarem jogadoras. Esses dias servirão para ensiná-las a gostar de futebol, do esporte, ver representatividades femininas por aqui, como as treinadoras, as gestoras, as mulheres do marketing e mostrar que elas podem ser o que quiserem. Talvez no futebol elas não sejam jogadoras, o caminho pode ser difícil, mas elas podem ser outras coisas dentro do esporte, se estudarem e amarem o que fizerem”, declarou ao Dibradoras.
A gestora também reforçou que, mesmo diante de todas as dificuldades (principalmente por conta da pandemia), a FPF tem o compromisso de apoiar as categorias de base. “A Federação garantiu segurança, testes de Covid e fez uma operação de jogo dentro da peneira para que ela pudesse acontecer. Tivemos mais de 250 meninas inscritas e 200 foram aprovadas, número máximo que determinamos por estar em uma pandemia ainda. No período da manhã de quinta-feira vieram 48 meninas. Esperamos que outras 50 venham nos próximos períodos (da tarde de quinta e manhã e tarde de sexta-feira) e, se não fosse por conta das restrições, acredito que bateríamos o recorde da edição passada”, acrescentou.
Na primeira edição, sob o comando de Aline Pellegrino em 2019, a 1ª edição da peneira para o futebol feminino também teve dois dias de duração e mais de 400 atletas inscritas.
Treinadores das categorias de base de alguns clubes importantes também marcaram presença nesta edição. O objetivo deles ali é observar cada participante e, se despertar o interesse no futebol de alguma garota, os técnicos devem avisar a Federação para que a entidade entre em contato com as atletas e faça a ponte entre jogadora e clube.
Leonardo Alves, treinador das categorias de base do Centro Olímpico, contou que hoje o clube conta com a presença de 100 meninas, entre 8 e 15 anos, e que ali elas iniciam o trabalho com o futebol e depois são indicadas aos clubes de São Paulo.
“A gente tem uma parceria com o São Paulo, mas o clube não consegue aproveitar todas as meninas. Aí, tentamos sempre encaixá-las em uma ou outra equipe. Nos últimos anos, 100% das nossas atletas foram encaixadas em alguma equipe: São Paulo, Santos, Corinthians, Ferroviária, principalmente.
Victor Alves, auxiliar de Thiago Viana no Sub-17 do São Paulo, reforçou a importância do Centro Olímpico no sucesso que é a base feminina do Morumbi – que foi inclusive campeã do Sub-18 no último domingo. “Das 20 atletas que temos na equipe, 18 vieram do Centro Olímpico. Essa formação feita por eles é muito boa e, quando chegam meninas mais novas no São Paulo, a gente mantém o trabalho que eles começaram. Elas se adaptam bem porque é a mesma escola, a própria comissão técnica que o São Paulo tem hoje veio do Centro Olímpico também”
Julia Passero, treinadora do Sub-17 da Ferroviária – que é um clube formador no feminino -, também marcou presença na peneira. Por estar em uma seletiva na capital e trabalhar em um clube do interior, Julia explicou como funciona a captação das futuras atletas para a equipe de Araraquara.
“Importante é inserir essas meninas, esse intercâmbio facilita muito. Tem o ônus e o bônus do alojamento. Se um clube da capital escolhe uma menina daqui, ele não precisa se preocupar com isso. Por um outro lado, o que pode atrasar um pouco o processo de levar alguma menina daqui pra lá é a questão de ter espaço no alojamento, às vezes não conseguimos dar o suporte naquela ocasião e aí pode dificultar um pouco essa parte de migrar. Mas a gente também consegue ter algumas meninas no clube, que inclusive são da seleção brasileira, mas não são de Araraquara e nem da região, e deu certo”, contou.
Além deles, treinadores do Santos, Rezende Piracicaba, União Mogi, Red Bull Bragantino e Corinthians também estiveram presentes neste primeiro dia de peneira na USP. Na parte da tarde, outras 50 garotas participaram da seletiva.
Em seu discurso inicial para as jogadoras, a coordenadora Ana Lorena relembrou a paixão que sente pela bola desde muito nova e revelou para nós que a falta de representatividade a impediu de sonhar. “Fui jogadora de futsal por muito tempo, mas minha paixão sempre foi o esporte. Eu não fui jogadora porque não via representatividade da TV. Quando a seleção brasileira feminina ganhou a prata olímpica, em 2004, eu já estava no segundo ano de faculdade, já tinha passado a minha época (de tentar ser jogadora), mas se eu tivesse visto essas mulheres antes, talvez eu teria procurado ser jogadora de futebol.”
“Esse dia é um dia de sonho pra mim. Um dia pra tentar realizar um sonho que eu não tive oportunidade. Meu prazer de vida é esse e eu trabalho pra isso. Trabalhei na Ferroviária e agora estou na Federação Paulista para realizar o sonho dessas meninas. Os sonhos que eu não tive e quero fazer com que elas possam ter”, concluiu a gestora.