Peneira da FPF recebe 100 meninas no 1º dia: agora elas podem sonhar com o futebol

Nos dias 14 e 15 de outubro, a Federação Paulista de Futebol realizou a 2ª edição da Peneira Sub-17 no Centro de Práticas Esportivas da USP. Antes das 9h da manhã do primeiro dia, a fila já estava formada: pais, mães e acompanhantes das garotas entre 14 e 15 anos aguardavam a abertura do portão para dar início à seletiva.

Lá dentro, os protocolos de saúde foram adotados. A FPF arcou com os custos e realizou testes rápidos em cada menina inscrita para se certificar de que todas elas estavam negativas para o Coronavírus. Dentro do gramados 13 profissionais de Educação Física e Esporte (12 mulheres e 1 homem) deram os treinamentos para as 48 presentes na parte da manhã do primeiro dia de testes.

No discurso inicial, uma das treinadoras da peneira, Ana Cláudia Mayumi, já deixou claro para as participantes que aquele dia e aquele espaço pertencia a elas e, assim, o pontapé inicial foi dado.

Ana Lorena Marche, Coordenadora de Futebol Feminino na FPF, também discursou e frisou para as garotas que a peneira vai além do sonho de se tornar uma jogadora. “A gente queria mostrar para as meninas que esse dia não serve só para elas serem vistas pelos clubes e se tornarem jogadoras. Esses dias servirão para ensiná-las a gostar de futebol, do esporte, ver representatividades femininas por aqui, como as treinadoras, as gestoras, as mulheres do marketing e mostrar que elas podem ser o que quiserem. Talvez no futebol elas não sejam jogadoras, o caminho pode ser difícil, mas elas podem ser outras coisas dentro do esporte, se estudarem e amarem o que fizerem”, declarou ao Dibradoras.

Ana Lorena conversa com as participantes (Foto: Dibradoras)

A gestora também reforçou que, mesmo diante de todas as dificuldades (principalmente por conta da pandemia), a FPF tem o compromisso de apoiar as categorias de base. “A Federação garantiu segurança, testes de Covid e fez uma operação de jogo dentro da peneira para que ela pudesse acontecer. Tivemos mais de 250 meninas inscritas e 200 foram aprovadas, número máximo que determinamos por estar em uma pandemia ainda. No período da manhã de quinta-feira vieram 48 meninas. Esperamos que outras 50 venham nos próximos períodos (da tarde de quinta e manhã e tarde de sexta-feira) e, se não fosse por conta das restrições, acredito que bateríamos o recorde da edição passada”, acrescentou.

Na primeira edição, sob o comando de Aline Pellegrino em 2019, a 1ª edição da peneira para o futebol feminino também teve dois dias de duração e mais de 400 atletas inscritas.

Treinadores das categorias de base de alguns clubes importantes também marcaram presença nesta edição. O objetivo deles ali é observar cada participante e, se despertar o interesse no futebol de alguma garota, os técnicos devem avisar a Federação para que a entidade entre em contato com as atletas e faça a ponte entre jogadora e clube.

Os treinadores Victor Alves (São Paulo), Julia Passero (Ferroviária) e Victor Alves (Centro Olímpico) marcaram presença na peneira (Foto: Dibradoras)

Leonardo Alves, treinador das categorias de base do Centro Olímpico, contou que hoje o clube conta com a presença de 100 meninas, entre 8 e 15 anos, e que ali elas iniciam o trabalho com o futebol e depois são indicadas aos clubes de São Paulo.

“A gente tem uma parceria com o São Paulo, mas o clube não consegue aproveitar todas as meninas. Aí, tentamos sempre encaixá-las em uma ou outra equipe. Nos últimos anos, 100% das nossas atletas foram encaixadas em alguma equipe: São Paulo, Santos, Corinthians, Ferroviária, principalmente.

Victor Alves, auxiliar de Thiago Viana no Sub-17 do São Paulo, reforçou a importância do Centro Olímpico no sucesso que é a base feminina do Morumbi – que foi inclusive campeã do Sub-18 no último domingo. “Das 20 atletas que temos na equipe, 18 vieram do Centro Olímpico. Essa formação feita por eles é muito boa e, quando chegam meninas mais novas no São Paulo, a gente mantém o trabalho que eles começaram. Elas se adaptam bem porque é a mesma escola, a própria comissão técnica que o São Paulo tem hoje veio do Centro Olímpico também”

Julia Passero, treinadora do Sub-17 da Ferroviária – que é um clube formador no feminino -, também marcou presença na peneira. Por estar em uma seletiva na capital e trabalhar em um clube do interior, Julia explicou como funciona a captação das futuras atletas para a equipe de Araraquara.

(Foto: Rodrigo Corsi/Paulistão)

“Importante é inserir essas meninas, esse intercâmbio facilita muito. Tem o ônus e o bônus do alojamento. Se um clube da capital escolhe uma menina daqui, ele não precisa se preocupar com isso. Por um outro lado, o que pode atrasar um pouco o processo de levar alguma menina daqui pra lá é a questão de ter espaço no alojamento, às vezes não conseguimos dar o suporte naquela ocasião e aí pode dificultar um pouco essa parte de migrar. Mas a gente também consegue ter algumas meninas no clube, que inclusive são da seleção brasileira, mas não são de Araraquara e nem da região, e deu certo”, contou.

Além deles, treinadores do Santos, Rezende Piracicaba, União Mogi, Red Bull Bragantino e Corinthians também estiveram presentes neste primeiro dia de peneira na USP. Na parte da tarde, outras 50 garotas participaram da seletiva.

Em seu discurso inicial para as jogadoras, a coordenadora Ana Lorena relembrou a paixão que sente pela bola desde muito nova e revelou para nós que a falta de representatividade a impediu de sonhar. “Fui jogadora de futsal por muito tempo, mas minha paixão sempre foi o esporte. Eu não fui jogadora porque não via representatividade da TV. Quando a seleção brasileira feminina ganhou a prata olímpica, em 2004, eu já estava no segundo ano de faculdade, já tinha passado a minha época (de tentar ser jogadora), mas se eu tivesse visto essas mulheres antes, talvez eu teria procurado ser jogadora de futebol.”

(Foto: Rodrigo Corsi/Paulistão)

“Esse dia é um dia de sonho pra mim. Um dia pra tentar realizar um sonho que eu não tive oportunidade. Meu prazer de vida é esse e eu trabalho pra isso. Trabalhei na Ferroviária e agora estou na Federação Paulista para realizar o sonho dessas meninas. Os sonhos que eu não tive e quero fazer com que elas possam ter”, concluiu a gestora.

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