Como o investimento na base fez o Inter chegar à semi do Brasileiro

O Internacional chegou pela primeira vez à semifinal do Campeonato Brasileiro feminino nesta temporada em uma campanha que já é histórica. É o primeiro time gaúcho a chegar tão longe na principal divisão nacional do futebol feminino, e as Gurias Coloradas estão prontas para brigar por mais neste domingo às 11h contra o Palmeiras no Allianz Parque.

Não é coincidência que, na mesma temporada em que consegue este feito na categoria adulta, o Inter tenha também chegado às semifinais do Brasileiro feminino em todas as outras categorias de base: o sub-16 (do qual foi campeão em 2020), e o sub-18 (foi campeão em 2019 e vice em 2020).

O trabalho com as “Gurias Coloradas” vem desde 2017 e começou já incluindo categorias de base no Internacional. O clube é, inclusive, um dos pioneiros do Brasil nesse sentido entre as equipes chamadas “de camisa”. Quando quase nenhum clube tinha base – em São Paulo, havia o Centro Olímpico, que faz o melhor trabalho de base do Brasil, depois vieram os projetos de times que disputaram a primeira competição estadual de base (o Paulista sub-17 em 2017) e, no Sul, o Inter surgiu como opção para as meninas que queriam jogar bola.

O Inter foi campeão do Brasileiro Sub-18 em 2019 (Foto: Thais Magalhães/CBF)

Hoje, quatro anos depois, de um total de 28 jogadoras da equipe adulta, quase 50% (13 atletas) passaram por alguma categoria de base do Inter.

Entre os nomes mais frequentes nos jogos desta temporada estão a volante Isa Haas, a meio-campista Mai, e a atacante Mileninha (vice-artilheira do time).

“Desde o início da retomada do futebol feminino houve investimento na base. Fizemos peneiras, parcerias com escolinhas de futebol. O fato de estarmos nas semifinais de todas as categorias consolida e premia um trabalho que tem sido feito e mostra que estamos no caminho certo. Permite que dentro do clube consigamos ainda mais apoio e, fora do clube, parcerias e patrocínios pra aumentarmos a receita”, afirmou ao Dibradoras Cláudio Curra, diretor de futebol feminino do Inter que está no projeto desde 2017.

No domingo, às 11h, elas enfrentarão o maior desafio até aqui: terão de vencer o Palmeiras no Allianz Parque por dois gols de diferença para avançar à decisão – o primeiro jogo foi 1 a 0 para as palestrinas. Mas quem duvida do que essas mulheres podem fazer depois de elas terem eliminado o favorito São Paulo em pleno Morumbi nas quartas de final? A partida será transmitida pelo Sportv.

Como tudo começou

O Inter iniciou o projeto do futebol feminino no clube em 2017, dois anos antes de entrar em vigor a obrigatoriedade da Conmebol e CBF para os clubes do futebol masculino que disputavam a Libertadores e a Série A.

Vale lembrar que já havia um trabalho interessante antes disso sendo feito com uma escolinha de futebol para meninas – a atual coordenadora de seleções femininas da CBF, Duda Luizelli, ídolo do Inter no passado, foi a responsável por criar a escolinha vinculada ao clube. Depois, ela seguiu o trabalho no clube como gerente do futebol feminino até deixar a função para trabalhar na CBF.

Inter foi campeão do Brasileiro Sub-16 em 2020 (Foto: CBF)

Para retomar os investimentos no futebol feminino, o Inter decidiu fazer uma peneira no fim de 2017 para meninas  que tivessem interesse em jogar com a camisa colorada. A ideia era montar as categorias sub-13, sub-15, sub-17 e adulto. Se alguém um dia achava que “não havia demanda” pelo futebol feminino no sul, essa peneira provou o contrário: 700 meninas e mulheres estiveram nos testes que deram origem às primeiras categorias de futebol feminino do Colorado.

Naquela ocasião, o clube efetivou a criação das categorias sub-15, sub-17 e adulto.

Foto: Divulgação

Hoje, o trabalho na base já foi ampliado, e são três categorias além da escolinha (sub-18, sub-16 e sub-14). O objetivo, além de fomentar a base, é também abastecer sempre o time adulto com os talentos mais jovens. Como é o caso no momento.

“O clube iniciou num modelo sem muita estrutura, com muitas pessoas que faziam por amor ao clube e à causa, mas sempre pessoas qualificadas e trabalhadoras. Por ser uma novidade junto ao Conselho Deliberativo, o investimento era o mínimo necessário. Estávamos atrelados ao social. Mas aos poucos conseguimos, com os resultados e mostrando a importância do futebol feminino, fomos conseguindo melhorias nas estruturas. Hoje temos a mesma estrutura e processos de gestão do masculino”, disse Curra.

Mileninha, por exemplo, foi o principal destaque do Brasileiro Sub-18 de 2020, quando o Inter foi vice-campeão perdendo o título para o Fluminense. Foi artilheira da competição e, ao subir para o profissional nesta temporada, parece nem ter sentido o peso da responsabilidade: já é vice-artilheira da equipe com cinco gols.

Isa Haas é outro ótimo exemplo de como o bom trabalho da base reflete nos bons resultados que o Inter está conseguindo com o time adulto. A volante/zagueira foi uma das jogadoras selecionadas naquela peneira lá atrás em 2017, quando tinha 16 anos. Formada no clube, ela agora é titular da equipe adulta, uma jogadora importante no esquema do técnico Mauricio Salgado.

“O diferencial de valorizar a base é uma filosofia do próprio clube como instituição, tanto no masculino quanto no feminino. Seguiremos sempre apostando da base, é nossa filosofia de trabalho, e não é algo só uma importância esportiva, mas também social porque ali buscamos que elas tenham estudo, temos parceria com universidades, curso de inglês, etc”, disse Curra.

Com o investimento na base, o Inter é um dos clubes com mais jogadoras convocadas para as seleções sub-17 e sub-20.

Evolução do futebol feminino no Sul

Protagonistas no futebol masculino, Inter e Grêmio buscam agora também um protagonismo maior no cenário nacional do futebol feminino. O Inter começou a investir antes e isso estimulou o Grêmio, pela rivalidade, a também se mexer. O primeiro Gre-Nal do Brasileiro feminino aconteceu em 2020 (as Gurias Gremistas disputaram a Série A2 em 2019 conseguindo a classificação para a A1 de 2020), e agora, com o Inter se tornando o primeiro time gaúcho a chegar na semifinal, o Grêmio também vai buscar igualar ou superar o feito do rival nas próximas temporadas.

“Nós fomos aumentando os ‘limites do sarrafo’ passo a passo. Criamos um planejamento com manutenção de elenco e comissão buscando sempre resultados, tendo conseguido primeiramente nas categorias de base mas acreditando no reflexo disso para o profissional na sequência”, afirmou Cláudio Curra.

Foto: Mari Capra/Internacional

“Nossa relação com o rival Grêmio é muito boa pelos gestores, e compartilhamos ideias e lutas junto as federações buscando crescimento mesmo sendo adversários no campo. Sempre ao longo dos anos uma instituição estimulou a outra a crescer pela rivalidade, e isso não seria diferente no futebol feminino.”

Principal nome do Inter desde 2019, a lateral/atacante Fabi Simões fez parte do projeto da equipe colorada para subir de patamar no futebol feminino. E em entrevista ao podcast Dona do Campinho, ela disse que o motivo que a fez optar pelo Inter foi justamente fazer parte do desenvolvimento do futebol feminino no Rio Grande do Sul.

“Eu tive algumas propostas de clubes brasileiros em 2019, e optei pelo Inter mesmo ganhando menos. Eles tinham um projeto e achei que seria legal poder ajudar a desenvolver o futebol feminino no Sul”.

Foto: Divulgação

Fabi se envolveu tanto com o clube e com a rivalidade gaúcha que chegou a tatuar a taça do Campeonato Gaúcho que ganhou em cima do Grêmio. E também já pode dizer que tem gol em Gre-Nal pra botar no currículo.

E é mesclando a experiência de nomes como o dela com a ousadia de jovens da base como Mileninha que o Inter já conseguiu fazer história nesse campeonato Brasileiro. Do que já pudemos ver até aqui, dá pra dizer que as Gurias Coloradas não vão abrir mão tão fácil da possibilidade de disputar uma final inédita.

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