A Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio marcou o início oficial da competição e não faltou emoção ao longo das quase quatro horas de evento. Diante de uma situação bastante distinta, sem público e com uma participação limitada de atletas no palco da Abertura por causa da pandemia, os japoneses conseguiram emocionar o mundo todo.
Você já se acostumou a ler por aqui sobre o protagonismo das mulheres no esporte, e a cena que mais chamou a atenção nesta cerimônia teve a participação de uma atleta que carrega consigo muita representatividade.
Há sempre um grande mistério sobre a pessoa escolhida para acender a pira olímpica, no momento ápice de qualquer Cerimônia de Abertura de Jogos Olímpicos. E quando Naomi Osaka apareceu para cumprir essa nobre missão, o mundo se emocionou.
Ela é uma das maiores atletas japonesas em atividade na atualidade, senão a maior, e sobre isso não há discussão. Aos 23 anos, a tenista Naomi Osaka já tem quatro Grand Slams conquistados, sendo o primeiro deles contra a maior de todos os tempos, Serena Williams, no US Open de 2018. Ela repetiria o feito em 2020, além de ter conquistado o Australian Open de 2019 e 2021.
Mas além dos feitos impressionantes dentro de quadra, Naomi Osaka se mostra uma atleta ainda mais incrível fora delas. No ano passado, quando o movimento #BlackLivesMatter ganhou força também no esporte, ela foi uma das vozes mais ativas, chegou a usar máscaras com nomes de pessoas negras assassinadas pela polícia nos Estados Unidos e usou sua visibilidade para dar voz a quem não costumava ser ouvido.
Mulher, negra, ativista, de cabelo trançado, ela carregou um simbolismo enorme quando foi acender a pira olímpica na Cerimônia de Abertura dos Jogos de Tóquio.
QUE CENA!
Nascida no Japão, filha de pai haitiano e mãe japonesa. Cresceu nos EUA, mas quis representar o Japão e se tornou uma supercampeã no tênis.
Mulher negra e de cabelo trançado, @naomiosaka acendeu a pira olímpica. Uma imagem que entra pra história
Reprodução TV Globo pic.twitter.com/nLgvR8WXLM
— dibradoras (@dibradoras) July 23, 2021
Em um país tão conservador como o Japão, em um mundo ainda tão preconceituoso com as mulheres (especialmente no esporte), sempre foi muito difícil vê-las tendo o protagonismo que merecem.
Na história do esporte, há muitas mulheres vitoriosas. Nem sempre elas tiveram reconhecimento por isso. Mulheres negras foram sempre excluídas, independentemente dos resultados que conseguiam nas quadras, nas piscinas, nos gramados. É só olhar para Serena Williams, o quanto sua qualidade já foi posta em xeque, quantos testes antidoping ela teve que fazer (um número muito maior do que suas adversárias foram submetidas), o quanto duvidaram da sua capacidade de ser extraordiária de maneira natural, dentro da regra.
É só olhar para a história brasileira nos Jogos. Temos muitas mulheres vitoriosas na nossa história olímpica, mas só tivemos três representantes como porta-bandeiras em Olimpíadas – a terceira foi Ketleyn Quadros hoje, que, por sua vez, foi a primeira mulher negra a conseguir o feito.
Por tudo isso, a escolha de Naomi Osaka para ser protagonista do momento mais importante da Cerimônia de Abertura é muito representativa. Filha de pai haitiano e mãe japonesa, ela cresceu como imigrante nos Estados Unidos e escolheu representar o Japão, seu país de origem, no esporte. As meninas negras que estavam assistindo a essa cerimônia no mundo inteiro se viram em Naomi e isso faz com que elas possam sonhar estar ali um dia. A mensagem que uma cena como essa passa é tão simples quanto importante: lugar de mulher também é no esporte.
Finalmente, conseguimos ver o protagonismo delas no maior evento esportivo do mundo. Aquele que nasceu para ser apenas dos homens, já que as mulheres seriam sempre “imitações imperfeitas” deles, como disse o fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna Barão de Coubertin.
Outro ponto importante a se destacar da cerimônia é que, pela primeira vez, o COI aprovou a utilização de dois porta-bandeiras para cada país. E incentivou que as delegações fossem representadas igualmente por um homem e uma mulher. Com isso, até mesmo países ultra-conservadores com relação aos direitos das mulheres, como a Arábia Saudita, tiveram representantes femininas carregando suas bandeiras.
Um simples gesto que pode causar grandes mudanças no futuro. Representatividade importa muito!
Ah, e claro, não dá para não falar da judoca Ketleyn Quadros e do jogador de vôlei Bruninho representando muito bem os brasileiros com muito samba no pé nessa cerimônia.
E é nesse clima que a gente segue na loucura do fuso-horário japonês para viver todas as emoções que os Jogos Olímpicos de Tóquio vão nos oferecer. Tá só começando!
PS: não perca nada das mulheres brasileiras em Tóquio! Preparamos uma agenda diária das competições delas. Veja aqui a programação desta sexta-feira.