Uma ciclista foi obrigada a parar por ter alcançado homens em corrida

Foto: Getty

A corrida Omloop Het Nieuwsblad acontece há mais de 70 anos na Bélgica e faz parte do Circuito Mundial de Ciclismo. Mas provavelmente o que aconteceu na edição de 2019 da prova é inédito na história da modalidade. Após a largada, a ciclista suíça Nicole Hanselmann foi parada pela organização da prova. Ela teve de ficar mais de cinco minutos sem pedalar, completamente imóvel, esperando o pelotão masculino acelerar, literalmente.

O que aconteceu, talvez, tenha sido um erro de cálculo da organização. Porque a ordem foi para dar a largada da prova feminina 10 minutos depois da prova masculina ter começado. Mas durante a corrida, houve um momento em que Nicole Hanselmann se distanciou das companheiras e assumiu isolada a liderança. O problema é que talvez ela “tenha ido longe demais”. Porque chegou a alcançar o pelotão masculino.

Quando a organização notou o problema, a “solução” foi pedir para a líder da corrida “esperar um pouco”. Os carros de apoio pararam a corrida masculina por cerca de cinco a sete minutos até que a “ordem” pudesse ser reestabelecida, sem correr riscos das mulheres alcançarem os homens novamente.

Hanselmann não entendeu nada quando viu o sinal para parar a bicicleta e reconhece que sofreu um desvio de concentração naquele momento. Você está na adrenalina, já percorreu mais de 30 km dos 200 que duram a corrida toda, empolgada por uma liderança isolada – a suíça chegou a ficar a 2 minutos de distância de suas concorrentes -, aí vem o carro de apoio e te pede para parar. Resultado? Após a liberação para a “segunda largada” feminina, Hanselmann não conseguiu manter o mesmo ritmo e acabou terminando a prova na 74ª colocação.

 

“Foi um pouco triste para mim, porque eu estava empolgada na corrida, bem à frente. E aí quando o pelotão te vê parar, elas ganham uma nova motivação para te alcançar. Nós vimos as ambulâncias da corrida dos homens. E aí acho que ficamos paradas por cinco ou sete minutos. Isso acabou matando minhas chances”, afirmou Hanselmann ao site Cyclingnews.

Depois da pausa, Hanselmann teve permissão para começar a correr novamente, e foi dada a ela uma vantagem inicial no grupo, em uma tentativa de permitir que ela recuperasse o tempo que havia perdido. No entanto, com a quebra da parada na corrida e as condições climáticas que também não ajudavam (fazia frio no dia da prova), ela logo foi alcançada e ultrapassada pelo grupo.

Apesar da derrota, a suíla ficou satisfeita com seus esforços e com a corrida como um todo.

“Eu consegui abrir uma diferença novamente, mas elas acabaram me alcançando”, disse ela.

Em seu instagram, a ciclista se manifestou sobre o que aconteceu e lançou uma provocação irônica ao pelotão masculino. “Hoje foi o primeiro clássico da primavera na Bélgica. Eu ataquei depois dos 7 km, e fiquei sozinha no intervalo por cerca de 30 km … mas depois algo estranho aconteceu, eu quase vi o final do pelotão dos homens… Talvez as mulheres estivessem muito rápido ou os homens muito devagar… Depois da paralisação, fui ultrapassada e terminei a corrida no 74º lugar.”

 

Hanselmann acabou pagando o preço pela própria qualidade de sua corrida. Por estar “rápida demais”, foi prejudicada pela organização da prova, que a fez parar de pedalar no meio do trajeto. Uma bizarrice sem tamanho – afinal, é muito difícil retornar a uma competição assim no mesmo ritmo quando se tem uma interrupção tão brusca como essa.

Aliás, a punição não foi somente para ela, e sim para todas as mulheres da corrida, que tiveram de parar e esperar porque “excederam as expectativas dos organizadores”. O mais interessante de tudo foi que o próprio Twitter oficial do evento “ironizou” o desempenho masculino diante da situação.

“A neutralização da nossa corrida feminina no cruzamento da Sint-Denijs-Boekel aconteceu devido a uma corrida muito lenta dos homens. As ciclistas vão recomeçar com o mesmo tempo que pararam”, afirmou a organização no tuíte.

O caso repercutiu bastante nas redes sociais e Hanselmann recebeu bastante apoio do público internacional pelo que aconteceu com ela e com as outras mulheres na prova. Quem sabe da próxima vez a organização aprende a não subestimar a capacidade das ciclistas – e principalmente a tratá-las com o devido respeito que merecem.

 

 

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