Como separação de filas transformou experiência de torcedoras no estádio

Foto: Divulgação SPFC (Rubens Chiri)

A maioria dos homens que ler esse post provavelmente sequer notou esse problema. E, com certeza, todas as mulheres que lerem (ao menos as de São Paulo) vão saber exatamente o que estamos falando. A entrada no estádio pode ser uma experiência bastante desagradável para as mulheres que frequentam as arquibancadas na capital paulista. Isso porque a revista policial feita no Morumbi, no Allianz Parque ou na Arena Corinthians sempre foi um momento difícil para elas.

A fila na entrada desses três estádios sempre foi junta, com torcedores e torcedoras. Só que a revista feminina ficava atrás da masculina. Ou seja, para chegar até ela, as mulheres precisavam pedir licença na confusão da fila dos homens para tentarem chegar até as policiais. Esse processo poderia ser bem doloroso: primeiro, pelo assédio sofrido – muitos torcedores aproveitavam o momento para passar a mão nas torcedoras que tentavam chegar até as policiais. Segundo, pelas discussões que gerava. Muitos homens pensavam que as mulheres ali estavam tentando “furar” a fila e não as deixavam passar. Conclusão: mais briga, mais confusão, e o jogo não havia nem começado ainda.

Para mudar essa experiência, havia uma coisa muito simples a ser feita: separar as filas de homens e mulheres. Uma coisa que soa até infantil (“meninas para um lado, meninos para o outro”), mas que faria uma diferença imensurável. Até pelas crianças acompanhadas das mães, que muitas vezes eram espremidas no meio dessa confusão na entrada.

Demorou, mas isso aconteceu. No jogo entre São Paulo e Bahia no Morumbi no último sábado, pela primeira vez se testou essa nova organização de filas. Mulheres eram orientadas a ficarem à direita, homens à esquerda. Ainda havia uma separação também para pessoas com crianças de colo. 

Foto: reprodução Twitter

Parece algo bem simples – e é. Mas nunca havia sido feito. Nos estádios de São Paulo, a organização de filas para a revista no estádio sempre foi uma dor de cabeça para as mulheres. Só que esse sempre foi um problema que passou despercebido (por elas ainda serem minoria ali). No caso do Morumbi, essa situação só mudou porque o clube decidiu ouvir a reivindicação das torcedoras após uma série de reunião com elas no início do ano. A ação veio no Dia da Mulher, quando o São Paulo divulgou um manifesto “O SPFC se importa” e convocou grupos de torcedoras para ouvir suas reclamações. Houve também um e-mail divulgado para as mulheres enviarem sugestões e reclamações. 

Segundo funcionários responsáveis pelo programa, a principal reivindicação das torcedoras foi justamente a revista na entrada do estádio. Elas relataram casos de assédio, brigas e discussões que quase terminaram em agressão e situações completamente desconfortáveis paras as mulheres que estavam com crianças ali. 

Para conseguir finalmente mudar o sistema da revista, o São Paulo precisou fazer reuniões com a polícia militar, responsável pela segurança do estádio nos dias de jogo, e explicar a demanda das São-Paulinas. O processo de mudança levou meses, mas foi finalmente implementado pela primeira vez no último sábado. E agradou bastante.

“Obrigada pela revista única feminina, São Paulo! Nossa reivindicação foi atendida finalmente”, escreveu uma torcedora pelo Twitter.

A reportagem conversou com outras torcedoras, que também elogiaram a medida. “Era algo que a gente pedia faz tempo. E foi mais legal ainda ver que separaram também a entrada de pessoas com crianças. É tão básico, mas faz tanta diferença”, disse uma delas na entrada do estádio.

Eram duas filas femininas no portão 6 do Morumbi (a principal entrada, que inclui as arquibancadas laranja e azul) com mulheres na organização delas. Assim, a entrada das torcedoras aconteceu tranquilamente, com acesso fácil às policiais que faziam a revista.

É importante ressaltar que, em outros estados, o sistema já é operado de uma maneira mais organizada na entrada da torcida, com uma separação melhor indicada entre homens e mulheres. No Mineirão, por exemplo, há filas separadas para as torcedoras, e no Maracanã, a fila é a mesma, mas há uma separação bem indicada na hora da revista – nenhuma torcedora precisa passar pela fila de homens para chegar até as policiais.

Mas nos três principais estádios de São Paulo, a (des)organização ainda era essa, com as torcedoras tendo que pedir passagem aos homens numa experiência bastante constrangedora. 

O Morumbi já mudou o sistema – e agora não há por que os outros não mudarem. Não precisa muito para isso, só vontade mesmo. Considerando que a presença feminina nos estádios tem aumentado cada vez mais,  é justo começar a pensar em como oferecer uma experiência melhor também para elas. A organização da entrada é algo muito simples e fácil de resolver e faz uma diferença enorme para as torcedoras. Seria uma forma interessante de mostrar a elas que os clubes estão abertos para ouvi-las. 

 

 

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