A seleção brasileira feminina vai à primeira Copa do Mundo de futebol sob comando majoritário de mulheres, a começar pela técnica Pia Sundhage. Ao todo, 17 dos 31 membros da delegação são mulheres – em 2019, eram apenas três. Mas as conquistas delas não são apenas numéricas, já que refletem em um melhor planejamento, como começar a preparação na cidade base com maior antecedência. Neste ano, a equipe deixou o Brasil a 21 dias da estreia, diante do Panamá, em 24 de julho.
É evidente que encarar uma Copa do Mundo na Austrália e na Nova Zelândia com fuso horário de 13 horas exige um planejamento maior, mas a preparação deste ano vem acompanhada de outros fatos inéditos. É a primeira vez que a seleção feminina viajou para a principal competição organizada pela Fifa em um voo fretado, em que somente atletas e comissão estão a bordo, e a CBF pôde fazer toda a logística, visando a melhor estratégia para se adequar mais rapidamente ao fuso horário.
Tanto é que as jogadoras embarcaram às 5 horas desta segunda-feira (03) e foram orientadas a esperar de três a quatro horas para começar a dormir dentro do avião. São detalhes calculados previamente para que o desgaste da longa viagem seja minimizado o tanto quanto possível. “Vamos ter que ficar acordadas por mais quatro horas para já entrar no fuso horário da Austrália, mas vai valer a pena. Vamos passar por isso agora para depois ficarmos bem preparadas”, disse Tamires, antes de subir no avião com destino a Brisbane, na Austrália.
A lateral que exerce também função de capitã desta seleção, ao lado da Rafaelle, revelou que havia dormido apenas 3 horas desde o dia anterior. Pode até ser que a ansiedade também tenha tirado o sono dela, mas a seleção feminina estava em campo para um amistoso contra o Chile, menos de 24 horas antes de se apresentarem no Aeroporto Internacional de Brasília.
No jogo, as brasileiras golearam as chilenas por 4 a 0 e o tom de festa de despedida foi o que predominou no estádio Mané Garrincha, que contou com mais de 15 mil torcedores presentes naquela manhã de domingo. Claro que poderia ser melhor, afinal os preços salgados dos ingressos foram muito criticados para um jogo de despedida da torcida em solo brasileiro antes do principal compromisso do ano – custava no mínimo R$75 cada entrada para a partida pelo “ingresso solidário”, um valor mais alto do que a própria Fifa tem cobrado para jogos da Copa do Mundo da Austrália.
Mas os familiares das jogadoras marcaram presença em peso na partida. Eles foram avisados com mais de um mês de antecedência pela CBF. Um cuidado que faz diferença na motivação emocional das atletas. Outro fato inédito foram os trajes de viagem de alfaiataria personalizados para a Copa do Mundo!
“É importante e nos faz se sentir bem. Nada mais legal do que o Brasil chegar bem vestido pra Copa! Aumenta nossa confiança e mostra o quanto as pessoas têm tido um olhar diferente pro futebol feminino. Tudo isso é pensado para nos sentirmos bem e confortáveis para chegar na nossa preparação na Austrália e só se preocupar em jogar futebol”, destaca Ary Borges, meia campista da seleção.
Outro reconhecimento de destaque foi a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao único treino da seleção no Mané Garrincha, em Brasília, na tarde da véspera do jogo, após as atletas terem se apresentado à seleção na parte da manhã. Lula foi acompanhado da primeira dama Janja, e das ministras do Esporte, Ana Moser; da Igualdade racial, Anielle Franco; e da Mulher, Cida Gonçalves. Após cumprimentar todo o elenco e comissão técnica, Lula e Janja trocara passes de cabeça com a Marta.
Cuidados com a saúde das atletas
A CBF criou recentemente o Núcleo de Saúde e Performance, com áreas que não existiam em 2019, como massagista, psicologia, nutrição e ginecologia. O Departamento Médico foi ampliado para atender de maneira mais completa as especificidades da saúde da mulher e fatores relacionados à performance das jogadoras. Um processo que agregou fisiologistas, analistas de desempenho e profissionais da área médica, nutricional, fisiológica e psicológica.
Todos esses cuidados sempre foram comuns ao contexto da seleção masculina de futebol no planejamento para um Mundial, mas a seleção feminina não costumava ter essa atenção. Não é uma questão de “luxo”, mas de dar as melhores condições para que as jogadoras cheguem à Copa bem preparadas fisicamente e preocupadas apenas em jogar futebol.
Para efeito comparativo, em 2015, a seleção feminina chegou ao Canadá quatro dias antes da estreia na competição e sequer teve um período de adaptação aos gramados sintéticos onde os jogos foram realizados naquele Mundial. Em 2019, a viagem incluiu uma preparação em Portugal, mas não houve voo fretado, nem todos esses reforços no departamento médico.
A seleção feminina desembarcará na Austrália no próximo dia 4. No trajeto, o avião fará uma pausa para abastecimento na Polinésia Francesa. O deslocamento Brasília-Papeete tem previsão de 14h35. Logo, seguirá rumo à Brisbane, este último trecho com estimativa de 8h50 de duração. A delegação desembarca no Aeroporto Internacional de Brisbane às 18:35 (horário local) de terça-feira. Em seguida, partirá de ônibus rumo a Gold Coast, no Oeste da Austrália, onde fará a preparação final para a Copa do Mundo.
Ana Lorena Marché, Gerente de Seleções Femininas na CBF, afirmou ao Dibradoras que a preparação em Gold Coast inclui dois jogos treinos contra equipes masculinas australianas nos dias 13 e 17 de julho, portanto antes do período oficial da Fifa de apresentação das seleções, que começa em 18 de julho.
A gestora antecipou, porém, que não se tratam de jogos amistosos, mas de jogos treinos fechados ao público e provavelmente à imprensa, como o que as comandadas de Pia Sundhage disputaram contra o time Sub-15 masculino do Botafogo em junho, no período em que a técnica reuniu 13 jogadoras para treinamentos da seleção na Granja Comary, nas semanas que antecederam a convocação oficial para o Mundial.
O Brasil está no Grupo F e estreará no dia 24 de julho, contra o Panamá, em Adelaide. Depois, jogará contra a França, dia 29, em Brisbane, e Jamaica, dia 2 de agosto, em Melbourne.